Cuidado com o Nada

Cuidado com o Nada.

O Nada é um vazio perverso e voraz. Tudo começa quando você se preocupa com uma lembrança qualquer e ele, o Nada, se aproveita da sua insegurança e, pouco a pouco, vai invadindo o seu espaço imaginário. Depois se agiganta e toma conta de todas as suas emoções. E, como se não bastasse, sem piedade e absolutamente insensível, destrói a sua zona de conforto e se apossa de todo o seu universo.  

Aí, então, você vai experimentar momentos em que terá a certeza de que a vida se tornou excessivamente pesada; que você já não tem força para continuar; que não acredita na realização dos seus desejos; que os obstáculos parecem maiores que as chances; que o seu Eu não está suficientemente preparado para enfrentar os desafios e, nesse momento,  nasce a constatação de que nada mais lhe resta.

É assim mesmo, acontece com todas as pessoas. Às vezes sentimos que é difícil levantar da cama; que são supérfluos os cuidados com a nossa aparência; que é desnecessária a higiene matinal; que é enfadonha qualquer conversa; que é estúpida a rotina; que são intermináveis os compromissos do dia; que são ridículos os projetos de ontem e que são absolutamente insignificantes todos os sentimentos.

E pior, com o tempo, nossos pensamentos se abstraem; nosso corpo se verga; nossos braços enrijecem; nossas mãos ressecam; nossos passos titubeiam; nossa voz falseia; nosso semblante se fecha; nossa pele vai se vincando e nossos olhos perdem o brilho.

E mais, todos os dias amanhecem descoloridos; silenciosos; sufocantes; úmidos e frios. Nenhuma réstia de sol nos alcança; nenhum pássaro voa; nenhuma flor se destaca. Só o relógio reage informando que o tempo não para, e um desespero surdo inunda nossa alma.

São os ventos do Nada. Cuidado, são os ventos do Nada.

O Nada é uma força misteriosa e muito, muito poderosa.
Quando o Nada invade a nossa vida e sente que não reagimos, nos atira ao esmo, tal qual uma folha seca que caída e impulsionada pelo vento, vai rolando, para um lado e outro enquanto perde sua roupagem, até se reduzir a um mísero esqueleto ambulante, sem rumo, sem cor e sem viço.

É assim, quando perdemos a capacidade de expressar e receber carinho e de entregar e sentir ternura; quando as nossas esperanças se esvaem e as ilusões se desvanecem; quando nossas forças fogem e a garganta não liberta nosso grito, o vazio do Nada toma conta de tudo, embaralha nosso caminho, escurece o nosso horizonte e os sonhos perdem o sentido.

Cuidado, não se deixe tombar, você tem que lutar contra o Nada. Abra os braços, deixe o vento balançar seus cabelos, contemple a natureza e cante o seu hino de guerra. Ah... sim, finalmente ponha um projeto na cabeça e se prepare para uma grande e prazerosa caminhada para o futuro.

Com a rota na cabeça e o pé na estrada, com ou sem tropeços, vá deixando para atrás todos os obstáculos que encontrar e, preste atenção, nunca admita que você alcançou o fim da jornada. A cada realização refaça os seus planos e metas, sem dúvida, você pode começar tudo outra vez.

Ah, permita sempre que o seu semblante se abra e que o seu sorriso ilumine o caminho. Se quiser lance o seu grito de vitória, mas, se preferir, não se perturbe, deixe que as lágrimas molhem o seu rosto. Mesmo porque as lágrimas são as mais legítimas manifestações do sentimento humano.

Nesse momento vale tudo, claro. Afinal, você terá derrubado barreiras, derretido mágoas, sufocado amarguras, expulsado o medo e inundado de luz as malditas trevas do Nada. Ora, se você derrotou o Nada, você venceu a mais importante das batalhas e merece todas as glórias do universo.

Tenha certeza, ouça bem: quando vencemos o vazio do Nada somos merecedores de todas as glórias do universo... todas as glórias do universo.