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A Culpa é do Trabalhador -


Autoria:

Sebastião Fernandes Sardinha


Bacharel em ciências jurídicas pela UGF, pós-graduado em Docência do Ensino Superior pelo IAVM/UCAM, Gestão Estratégica pelo IAVM/UCAM, Sociologia, Política e Cultura pela PUC-Rio - Professor Universitário

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Resumo:

As transformações sociais, as reformas educacionais e os modelos pedagógicos derivados das condições de trabalho dos professores provocaram mudanças na profissão docente, estimulando a formulação de políticas por parte do Estado.

Texto enviado ao JurisWay em 17/09/2010.



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A Culpa é do Trabalhador –

Uma leitura sobre o  mundo do trabalho docente e suas comparações na sociedade contemporânea.

 

 

1-      Panorama Social

                     As transformações sociais, as reformas educacionais e os modelos pedagógicos derivados das condições de trabalho dos professores provocaram mudanças na profissão docente, estimulando a formulação de políticas por parte do Estado.

                      Na atualidade, o papel do professor extrapolou a mediação do processo de conhecimento do aluno, o que era comumente esperado. Ampliou-se a missão do profissional para além da sala de aula, a fim de garantir uma articulação entre a escola e a comunidade. O professor, além de ensinar, deve participar da gestão e do planejamento escolares, o que significa uma dedicação mais ampla, a qual se estende às famílias e à comunidade.

                     Embora o sucesso da educação dependa do perfil do professor, a administração escolar não fornece os meios pedagógicos necessários à realização das tarefas, cada vez mais complexas.

                     Os professores são compelidos a buscar, então, por seus próprios meios, formas de requalificação que se traduzem em aumento não reconhecido e não remunerado da jornada de trabalho (BARRETO E LEHER, 2003; Oliveira, 2003).        

         A elevação da taxa de incerteza do mundo social induz ansiedade e insegurança ao nível individual, posto que nada pareça assegurar as condições em que cada um se encontrará no dia seguinte e isto a despeito de qualquer providência tomada pelo indivíduo. Quer dizer, a imprevisibilidade do mundo social implica a impotência dos indivíduos na exata medida em que a circunstância de cada um é cada vez mais independente do comportamento individual. É perfeitamente possível a alguém submeter-se excelentemente às normas consagradas e, não obstante, receber de volta o oposto que julga merecedor. Dois exemplos, ilustrativos do fenômeno acima. ( RIVERO,2000).

                      Ser assíduo e eficiente no trabalho, como recomenda as normas, não garante a estabilidade no cargo, ou mesmo no emprego que alguém ocupa. Ao contrário, freqüentes são os exemplos de que, apesar de desempenho imaculado, empregos são perdidos.  Manifestações de solidariedade social, igualmente, como por exemplo, dar uma carona ou atender à pedidos de ajuda – e, de novo, como requerem as normas  - arriscam-se a obter como resposta assalto ou qualquer outra forma de ofensa. (DOS SANTOS, p.108.1993).

            2-  O Medo e a  Angústia : Pontes da Violência

                     Norbert Elias, citado por BRANDÃO (2005, pag. 60), relaciona a intensidade do medo com o nível de conhecimento do homem sobre o que lhe causa medo, denominando essa relação de “processo crítico”. Ela se torna mais visível quando o homem depara com os perigos advindos da natureza não-humana. Ao inserir-se, histórica e progressivamente, na estrutura mental e psicológica do indivíduo, essa relação passa a fazer parte de seu aparelho coercitivo.

                     Muito embora Hobbes substancie que o homem tem medo da morte violenta, aborda a expectativa do sofrimento como fator de potencialização deste mesmo medo, colocando-o em estado de natureza, em constante posicionamento de acuamento moral. 

         Jean DELUMEAU (1996) considerou a dicotomia entre o medo e a angústia, tomando-os por dois pólos em torno dos quais gravitam palavras e fatos psíquicos ao mesmo tempo semelhantes e diferentes. O temor, o espanto, o pavor ou o terror devem ser considerados medo; já os sentimentos de inquietação, ansiedade e melancolia devem ser definidos como angústia. A diferença está no fato de que o medo possui um objeto determinado, ao qual se pode fazer frente, pois se refere a algo conhecido, enquanto a angústia não possui nem conhece esse objeto, sendo vivida como uma espera dolorosa diante de um perigo tanto mais temível quanto menos claramente identificado: é um sentimento global de insegurança.

         O mundo do trabalho docente está superficialmente amalgamado pelo verniz cultural patrocinado por forças do Sistema (disfarçando a fragmentação), que concede ao povo “pão e vinho”, personificado nas políticas compensatórias e nas ações afirmativas de caráter intervencionista, proporcionando um leve torpor na sociedade brasileira.

         A crise civilizatória por que passa o Brasil traz em seu bojo a certeza da pré-insolvência das instituições estatais. O Estado Brasileiro, desde tempos idos, abraçou a escolha economicista das razões dos pilares da sociedade. Por encontrar-se em permanente situação de conflito, por almejarem as mesmas coisas, os homens, governados pela própria razão, alçarão de todos os meios para validar as condições de igualdade, renunciando a segurança em nome da liberdade.

                     Aqueles profissionais que resistem ao subjugamento pelo sistema tendem a desenvolver patologias de natureza psicossomáticas, combinados com as situações que proporcionem baixa valorização profissional.

                      O sistema burocrático extrai a poesia da sala de aulas, tornando-a fria e impessoal, o que possibilita a transferência do “aprendizado” com reais possibilidades de desenvolver uma consciência politicamente comprometida com o dirigido desenvolvimento da sociedade submetida.

                     A conversão do papel do professor em repassador das teorias pedagógicas é na verdade, no dizer de Bourdieu e Passeron(  pag.73), uma cortina de fumaça que procura ocultar o poder reprodutor do sistema que está nas mãos dos educadores.      

                       Na década de setenta, segundo RODRIGUES Tosi,(idem, pag. 73) os autores suso mencionados refinaram suas idéias, incorporando mais sistematicamente as contribuições de Marx e Weber, além de Durkheim, e publicaram um novo livro: “A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino”. Sua tese central nesta obra é a de que toda ação pedagógica é, objetivamente, uma violência simbólica.       

                     O conceito de “violência simbólica” designa para eles uma imposição arbitrária que, no entanto, é apresentada àquele que sofre a violência de modo dissimulado, que oculta as relações de força que estão na base de seu poder.  A ação pedagógica, portanto, é uma violência simbólica porque impõe, por um poder arbitrário, um determinado arbítrio cultural.

3 - O Despertar da Libélula

                       O desnudamento da representação sacerdotal do professor, para transformá-lo em repetidor de teorias e doutrinas com o objetivo de inculcar nos alunos os princípios culturais, de modo a torná-los dóceis para a vida em sociedade transformou-o em ser conflitado com sua própria essência profissional. 

                     Inobstante ser a educação um ambiente de conflito e compromissos, ela serve também como espaço para amplas batalhas sobre o que nossas instituições deveriam fazer, a quem elas deveriam servir e quem deveria tomar essas decisões. (RODRIGUES TOSI, idem pag.110).

                     A tortura velada cotidianamente encarcera os sonhos de uma melhor educação com o fim de libertação, transformando o Professor num algoz, pois o sistema embora o faça comprometido com o labor, limita e/ou dificulta suas ações libertárias, sob o jugo da burocracia.     

 

         A impotência individual em ajustar-se ao mundo deriva justamente do reconhecimento de que a retribuição da sociedade, isto é, dos outros, independe da contribuição do indivíduo. De onde se seguem a erosão das normas de convivência social, a tendência ao isolacionismo e ao retorno ao estado de natureza, e a anomia.                    A ineficiência crescente de comportamentos segundo normas provoca a deterioração da credibilidade nas próprias normas, isto é, um número cada vez maior de pessoas a duvidar de que o comportamento alheio se pautará pelas regras conhecidas (idem DOS SANTOS, P.108.1993).

         A profissão de professor no Brasil - e não professor universitário – foi no passado, até o começo da década de 1970, senão uma atividade rendosa, certamente um trabalho que conferia um prestígio significativo na comunidade. Isto é, permaneceu na mentalidade popular. As pessoas mais pobres respeitam aqueles que se fazem notar por serem professores. Todavia, com a erosão salarial da carreira do magistério e com o surgimento no cenário social do professor universitário, o prestígio do professor do ensino básico sofreu grande abalo.

                     Após a criação do sistema de pós-graduação em nosso país, os cursos de graduação do ensino superior, divididos em dois tipos, o bacharelado e a licenciatura, inverteram suas posições quanto à procura dos alunos (GHIRALDELLI Jr, 2006,pág.207.).

                     As transformações impostas nas relações de trabalho dos docentes resultaram na expropriação pela classe dominante da originalidade intelectual daqueles viciando sobremaneira o processo produtivo.

                     RODRIGUES Tosi (2007, pag.38), propagando as lições de Marx, afiança que os trabalhadores foram duplamente expropriados pelos capitalistas, isto é, deles foram subtraídas duas coisas: os meios de produção da vida material e o saber do qual dependia a fabricação de um produto e a própria posição social do artesão.

                     No entanto, tal processo deu causa ao nascimento de uma superclasse de trabalhadores considerados situacionistas, que alienam seu mister em troca de abeberar-se na sombra do neoliberalismo.

                     Em vez disso, pode ser interpretado através do modelo de retorno dos reprimidos, no sentido de um aumento dos problemas de segunda ordem e dos custos de complexidade que se acumularam devido a mobilização dos trabalhadores assalariados; sob este ponto de vista , esses problemas e custos requerem agora um domínio de através de trabalhadores ocupados em serviços de vários tipos ( por exemplo EDUCAÇAO, terapia, policiamento, comunicações) para que a ordem seja preservada em uma sociedade baseada no consumismo racional-formal.

            A racionalidade substantiva baseada em normas, que fora reprimida com êxito no trabalho produtivo e na transformação da força de trabalho em uma mercadoria vendável, volta à tona por assim dizer.

                       Assim, dentro da estrutura de uma civilização concentrada na segurança, mais liberdade significa menos mal-estar. Dentro da estrutura de uma civilização que escolheu limitar a liberdade em nome da segurança, mais ordem significa mais mal-estar.

                      A esta comensalidade social, ainda que espúria, entre a classe trabalhadora dos docentes e o Capital, (POLANYI, 2000) encontra resposta em dois princípios de comportamento não associados basicamente à economia: reciprocidade e redistribuição.

                        A descoberta mais importante continua Polanyi, nas recentes pesquisas históricas e antropológicas é que a economia do homem, como regra, está submersa em suas relações sociais. Ele não age desta forma para salvaguardar seu interesse individual na posse de bens materiais; ele age assim para salvaguardar sua situação social, suas exigências sociais, seu patrimônio social.

                     Ele valoriza os bens materiais na medida em que eles servem a seus propósitos. Nem o processo de produção, nem o de distribuição está ligado interesses econômicos específicos relativos à posse de bens. Cada passo desse processo está atrelado a certo número de interesses sociais, e são estes que asseguram a necessidade daquele passo.        

                     Georg Simmel, citado por HIRSCHMAN (1979, pág.56), aduz que a satisfação do desejo humano implica um conhecimento íntimo de todas as diversas facetas do objeto ou experiência desejada, e essa familiaridade é responsável pela conhecida dissonância entre desejo e satisfação, a qual na grande maioria das vezes toma a forma de decepção; porém o desejo por qualquer quantidade de dinheiro dada, uma vez satisfeito, é singularmente imune a essa decepção desde que o dinheiro não seja gasto em coisas, mas que sua acumulação se torne um fim em si mesmo: porque então “como uma coisa absolutamente isenta de qualidade, (o dinheiro) não pode esconder nem surpresa nem decepção, como ocorre com qualquer objeto, por mais modesto que seja”.

                     O agora trabalhador docente deve abandonar as estruturas e dedicar-se ao processo constante de mudanças sociais, contribuindo sobremaneira para a transformação de qualidade da Sociedade.

                     O Estado tem uma dívida social que merece ser paga, com mais trabalho, ensinamentos a todos aqueles que semeiam o saber, mesmo sem saber que sabem algo. São os sábios, porém não sabidos.

         Aos aguerridos docentes, profissionalizados ou não, se faz mister a especialização, a consolidação de políticas públicas que impeçam a deterioração do patrimônio ufanista ou a encampação por “outras”  forças.

                     Desovado de sua face, o docente tem procurado alternativas, por vezes não muito nobres, de permanecer na crista do sistema, sem fazer “marola”, divorciando-se dos valores mínimos que justificam sua existência. 

        

                     FRIDMAN (1999 ) acresce afirmando que os indivíduos podem estar “dentro” ou “fora” da globalização, seja nas economias mais sólidas, nos países vulneráveis à especulação ou nas nações que praticamente sucumbiram na nova divisão internacional do trabalho.

                     RAPOSO (2006) situa temporalmente o fenômeno aqui aferido, aduzindo que o homem e a mulher contemporâneos estariam passando por um momento de regulação institucional, mais conhecido, que predominou no final da Segunda Guerra Mundial até o início dos anos oitenta para um novo paradigma, a globalização, onde as regras e fronteiras estão se diluindo e se modificando e o homem e a mulher contemporâneos perde suas referências, ganhando, conseqüentemente, mais liberdade, porém menos segurança.

                     Como sabemos, esse processo iniciou-se nos anos 70, fruto de uma série de transformações de ordem tecnológica, política, econômica e social: a terceira revolução industrial, o advento do capitalismo financeiro e as novas modalidades no financiamento tanto do consumo como na produção. Os diferentes países atingidos por esse processo procuram repensar suas identidades, buscando novos equilíbrios. O Brasil, nesse contexto, deve procurar solucionar não apenas os seus tradicionais problemas de concentração de renda, e sua capacidade de financiar o Estado de maneira não inflacionária, mas também, se ajustar ao “novo mundo”. Tarefa difícil para um país onde o consumo seduz a quase todos, mas só é acessível a muito poucos. Um Brasil extremamente desigual, extremamente instável. Um Brasil, enfim pouco sóbrio e muito pouco comedido. ( RAPOSO,2006)

                      Ao docente, na atualidade falta a ética da responsabilidade de Max Weber, com a valorização das conseqüências da ação e a relação entre meios e fins, com base nas quais um ato deve ser julgado como bom ou mau. ( MARCONDES, 2007, 134,).

 

                     A insegurança é símbolo de morte, e a segurança é símbolo da vida. Os trabalhadores DOCENTES do Brasil vivem sob o signo da insegurança no gueto da desesperança, à beira de uma convulsão social de dimensões inimagináveis, onde usarão como armas a angústia e o medo, para desmantelar a farsa democrática em que está instalado o Estado Brasileiro.

         O desaguar da barbárie urbana é fato, prestes a sangrar o Estado Brasileiro.

         O Brasil precisa ser passado a limpo através de uma Revolução Social.     

         Os usuários trabalhadores DOCENTES do Brasil são, na verdade, perseguidos sociais, que merecerão, num futuro próximo, a “anistia ampla, geral e irrestrita”.

 

 

 

 

 

 

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