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ARQUEOLOGIA DO SILÊNCIO


Autoria:

Sebastião Fernandes Sardinha


Bacharel em ciências jurídicas pela UGF, pós-graduado em Docência do Ensino Superior pelo IAVM/UCAM, Gestão Estratégica pelo IAVM/UCAM, Sociologia, Política e Cultura pela PUC-Rio - Professor Universitário

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Resumo:

Ensaio sobre o pacto associativo de subalternidade das classes populares no Brasil. "O mundo é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem". Sir Horase Mann.(1769).

Texto enviado ao JurisWay em 17/09/2010.

Última edição/atualização em 21/09/2010.



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ARQUEOLOGIA DO SILÊNCIO

Ensaio sobre o pacto associativo de subalternidade das classes populares no Brasil.

“O mundo é uma comédia para os que pensam                       e uma tragédia para os que sentem”.

 Sir Horase Mann.(1769).

                                

                     Muitos insistem que a apaticidade da classe popular no Brasil se deva a ausência de uma revolução, que tingisse o chão da terra natal com o sangue dos revoltosos.

                     Há certamente um equívoco para aqueles que assim pensam.

                     A exclusão social tão propalada pelo intelectual, anuída pela aristocracia e sustentada pela burguesia, nada representa no seio da classe subalterna, sendo certa sim a tentativa de cooptação destes por aqueles, como garantia do sucesso de seus projetos.

                     A periferia social chegou-se aos “muros dos castelos”, para saber justamente o que é feito dos escorchantes impostos cobrados nas bases. Os expropriados da sorte, não o seriam se não fossem extorquidos pelas hostes do poder.

                     A simonia entre entidades corporativas e o Estado, gera uma situação bizarra de convivência e conivência com parte daqueles subalternos que se transformaram na “voz dentro do sistema”.

                     O liberalismo democratizou a miséria realizando uma espécie de terceirização da desgraça alheia, via movimentos sociais. Nada mudou no Brasil, o desenvolvimento não reduziu a pobreza, muito pelo contrário, aumentou as desigualdades sociais.

                     Reconhecendo sua fraqueza e falta de aptidão para gerir os negócios da sociedade, o Estado liberal abdicou de parte de suas vitais funções, tornando-se regulador e voraz coletor de impostos.

                     Toda essa situação resultou no encarecimento e precariedade dos serviços públicos essenciais.  No entanto, o estado de deterioração dos serviços não gera maiores discussões considerando que no “tampão” da situação estão as cooperativas, as ONGs, os Sindicatos, e outras entidades do terceiro setor que amenizam a questão, (neste caso também com auxilio do Estado) através de ações pontuais (debelação de incêndio) de cunho paternalista e intervencionista.                

                     Para BAUMAN (2001, pag.13), o que está acontecendo hoje é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos “poderes de derretimento” da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possíveis como os estamentos hereditários com sua alocação por atribuição, sem chance de apelação.

                     A organização da sociedade é um tema interessante do ponto de vista da coletividade, enquanto fator capilarizador das moções de determinados grupos interessados em questões pontuais que não contemplem necessariamente toda uma coletividade. Do ponto de vista logístico é inoperável a universalização de agendas, a partir do fato que se mais complexa a sociedade, mais difusa a intenção dos agentes interessados nos sucessos de seus pleitos.

                     Assim, a instrumentalização dos métodos como forma de alcance dos objetivos se faz necessária, muito embora sejam vulneráveis às influências pertinentes, tais como corrupção, interesses pessoais. Tendenciosidades práticas somente possíveis de monitoração com a aplicação efetiva dos mecanismos de controle social.

                     A miscigenação social realizada através da interação dos mais diversos grupos oriundos de movimentos sociais na administração pública é fator realizável através da articulação de novas formas institucionalizadas de ingresso.

                     A subsunção aos sub-valores marginais, fortalece a regra de que sem a devida formação consciencial, a massa tocada jamais se fortalecerá em torno de uma agenda coletiva.

                     Os esforços coletivos de pessoas social e politicamente subordinadas para mudar suas condições de vida (Epstein, 1995: VII), referenciados por GOHN (pag.92, 2003), não se desmancharam no ar apesar do movimento avassalador da globalização corporativa.

                     Todavia, a questão permanece: qual a arqueologia para o silêncio que existe sobre as classes populares diante da globalização corporativa?

                     No caso brasileiro, temos que a gnosiologia do pacto de subalternidade das classes está centrada na ausência identitária das raças componentes do mapa etnológico nacional.

                     Nossa etnografia é tacanha, pois tratamos os originários como se animais fossem compondo-se o resto da massa de elites invasoras hospedeiramente instaladas a partir das capitanias hereditárias.

                     O povo brasileiro não traz em seu currículo historiográfico a marca da pacificação, pois não temos experiências de lutas sangrentas.

                     O nosso molde amalgamador não se constituiu endogenamente, sendo sempre preparado alhures e sob outros olhares de poder.

                     A constituição da nação brasileira não foi originada de uma necessidade, mas de difusas conveniências.

                     A história periférica do Brasil data de longe, dentre os quais o tratado dos “panos e vinhos”, em que conveniência de Portugal e Inglaterra diante dos holandeses nos lançou na coxia da história.

                     Somos acometidos até hoje da síndrome de Peter Pan, a par de não podermos contemplar um passado glorioso com exceção  das entradas e bandeiras que dignificou a expansão de nossas fronteiras.

                     As pontuais revoltas não firmaram a rede ideológica imprescindível a verdadeira união nacional. Somos unidos pela Igreja, que através da catequização dos índios e a coisificação dos negros  unificou a língua.

                     Tratamos de subsumir com os Tupis, etnia pura, transformados em marionetes do poder jesuítico, até 1549.

                     Bem chegada a afirmação de Luiz da Câmara Cascudo, de que o Brasil  por sua riqueza  e grandeza, “não tem problemas, só soluções adiadas”. E assim o faz no tempo presente, inclusive com a Educação e outras relações essenciais com a sociedade. Mas complexidade da Sociedade contemporânea transforma esse adiamento em grandes questionamentos secundários, que com o passar do tempo transmudam-se em prioridades.

                    

                     KOSELLECK (2006, pag.25), discorrendo sobre a estrutura temporal menciona um discurso sobre a Constituição revolucionária em que Robespierre ressalta o progresso da razão humana como resultante da Revolução para a formação do verdadeiro destino dos cidadãos franceses. Continuando: ressalta que para Lutero, a abreviação do tempo é um sinal visível da vontade divina de permitir que sobrevenha o juízo final, o fim do mundo. Para Robespierre, “a aceleração do tempo é uma tarefa do homem, que deverá introduzir os tempos da liberdade e da felicidade, o futuro dourado”.

                     A desfiguração nacional tem raízes ibéricas, disso não há dúvidas, resta-nos saber até onde as elites locais (formadas marginalmente pelo expurgo português, e antes dele, pré-britânico (Tratado de Methuen), e consolidadas com as invasões napoleônicas) excepcionadas pelo Tratado de Madri, que nos garantiu a usucapião das terras nunca antes conquistadas.

                     O Brasil é um estuário de contradições políticas, pois nos damos ao luxo de não ter uma direita autêntica, mas somos povoados por uma incipiente esquerda autofágica que nunca se uniu em torno de uma agenda que levasse o país a um rumo certo ou equivocado. Vivemos numa eterna zona cinzenta, onde a elite se coloriu de acordo com as conveniências locais, chegando inclusive a posar de “esquerda”.

                     Nós, os brasileiros não temos origens sociais, somos instalados no seio de um perverso processo de sujeição à falsa modernidade sem nenhum respeito às diferenças com vistas à exclusão.

                     Perdemos a oportunidade de propiciamento pela chegada da família real, pois sempre deixaram claro de que não vieram para ficar.           Equivocadamente os tratamos como proprietários de um patrimônio reconhecido, mas não agradecido. Perdemos a chance de criar uma raiz identitária a partir do momento.

                     As tropas de Junot e a sucumbência de Castela à José Bonaparte em 1808 criaram indiretamente as condições para a formação de instituições locais desperdiçadas pela elite acanhada com a vinda da corte portuguesa.

                     Certo é também que a Corte não governaria sem as mínimas condições institucionais, ainda que por tenro tempo permanecesse na colônia.

                     Ainda que involuntariamente D. João deu-nos a oportunidade de iniciação estrutural das bases da sociedade brasileira, sendo consolidada com a declaração de independência de D. Pedro.

                     O novel imperador apoiava a fundação de novas instituições de saber. (SCHWARCZ, 1993, pag.24).

                     Bem certo é que a destituição de Carlos IV e seu filho Fernando VII da Espanha deixaram os hispano-americanos acéfalos de governo de fato, ainda que de direito algum houvesse, possibilitando o esfacelamento da América espanhola em áreas de interesses locais formando vários países, fato que não ocorreu no Brasil, nem com a ida de D.João para Portugal.

                     A desilusão de Coimbra deu garantias as elites locais para a formação de institutos de base educacional de modo a estruturar a nossa emancipação educacional. No entanto pacífico deve ser a conclusão de que os interesses moventes nunca foram nacionais, mas de cunho eminentemente territorialista.

                     O temor dos intelectuais da época da independência era uma possível infecção da síndrome de Menocchio, o moleiro (GINZBURG, pág.88, 1939), que sabia ler e escrever apesar de origem subalterna (O maior pecado do moleiro, não se atinha aos predicados acima descritos, mas ao fato de colocar com propriedade e acidez suas idéias acerca dos escritos religiosos e talares da época) – ao possibilitar ao povo o acesso universalizado dos meios de estudos, já que vivíamos as reformas pombalinas.

                     O período entremeado com a vinda da família real e a proclamação foram de grande insegurança para os intelectuais da época, pois como aparelhar institucionalmente o Estado recém descoberto se não havia quadros suficientes na classe abastada para suprir as necessidades institucionais naquele presente?

                     A subnutrida classe intelectual estava fracionada entre os que ficaram e os que não regressaram de Portugal.

                                 A saída foi a sacralização da educação como mecanismo de sobrevivência e subserviência aos novos valores impostos pelas representações construídas para dar esteio ao novel império abaixo do equador.

                                 O homem de ciência foi estruturado na base pantanosa da representação social conveniente aos sistemas da época, tal qual salienta Simão Bacamarte, de Machado de Assis. (SCHWARCZ, 1993, pag. 24).

                                 A classe subalterna, excluída do processo educacional era composta de artesãos, silvícolas (os negros não eram considerados pessoas, mas coisas, inclusive pela Igreja) sempre foram submetidos a processos identificáveis com o processo jesuítico e o pombalino.

                                 A  Sociedade brasileira no curso de sua história vive um ciclo reiterado de sevícias sociais mediante o processamento de práticas protecionistas e acomodativas por parte do sistema reinante.  Tornamo-nos um povo preguiçoso e raivoso quanto a leitura, a pesquisa, pois tudo nos vem às mãos, sem a necessidade  da invenção. Somos cobaias dos inúmeros processos a que são submetidas as sociedades periféricas das demais partes do mundo.

                                 Propagandeiam “novos-velhos” processos, a muito ultrapassados no mundo central. Um exemplo marcante são os chamados “BRICS”, fazendo-nos crer que a implantação de fábricas poluidoras, já rejeitadas na Europa e EUA, servir-nos-ão de fator de desenvolvimento. Enquanto lá , há o povoamento da deserção de fábricas com suas enorme chaminés, aqui fazem-nos acreditar serem fator de desenvolvimento sustentável. Incentivam o treinamento e o adestramento de trabalhadores como saída para um perene desenvolvimento que em breve será superado pela ausência do elemento cognocente do ambiente sobrevivido.

                                 Diferentemente de locais como o Japão e Coréia, tentam nos fazer acreditar que tal processo pode ser implantado igualmente na Índia, China e Rússia, como solução para nossos seculares males.

                                

 

                                 Crescemos na razão de nosso endividamento interno e externo, nunca em razão dos investimentos. Isto é, estaremos sempre comprometidos macro – estruturalmente de vez que o financiamento para a pesquisa estará sempre comprometido com o pagamento das dívidas.

                                 Estaremos sempre garroteados pela situação do endividamento externo  e a questão de nossa dívida pública de curto prazo que nos impõe limitada flexibilização nos campo das negociações visando o aumento do perfil da dívida e a captação de novos investimentos visando o ensino e a pesquisa.

                                 Outra questão a ser analisada é a agenda pré-marcada para aplicação em nossa massa estudantil. Como já dito privilegia-se o ensino superior, com desleixo com o ensino fundamental e médio. Assim é fácil saber o resultado. Não há perigo de dar certo. A dependência é está assegurada.

                                 A massa subalterna, na linguagem de Gramsci, estará sempre entorpecida pelos agrados sociais, que levam a não perceberem que estão sendo cercados progressivamente pelos muros da ignorância institucional.

                                 As soluções cardíacas, no curso das últimas décadas, mantêm a sociedade e as forças armadas (que dela também fazem parte), em permanente sobressalto diante da possibilidade de um novo declínio institucional, como os de 30, 46, 61/64.

                                 O Brasil, a par de ser a “terra prometida” para muitos povos, é permeada de profetas do apocalipse, que se empenham em disseminar a cultura da indexação inflacionária, para surgirem os heróis com seus “pacotes” miraculosos, a apregoarem a elevação da taxa de investimentos privados e da poupança privada doméstica, de modo a permitir o financiamento não inflacionário do crescimento sem recurso excessivo à poupança externa.( Pedro Malan, 27, ).

                                 O discurso é idêntico em todas as crises, fabricadas ou não: aumento do investimento e fortalecimento da poupança interna.

 

 

 

                     Vivenciamos um ambiente de sub-desenvolvimento crônico por nossa virtude passiva diante da necessária e imprescindível  integração no mercado internacional. Basta destacar que o Brasil, apesar de ser o maior do mundo em terras descontínuas e o quinto em terras contínuas, tem apenas 4% de assento no comércio exportador mundial, contrapondo-se  a China com 22%, segundo  dados da OMC.

                     A ausência de consciência é tão grande que sofremos com o tráfico de pessoas, animais e água (pasmem, água do Rio Amazonas). Tudo isso associado à leniência das elites brasileiras que fazem “vista grossa” para tais eventos.

                     Mas como enfrentar a situação, que por sua complexidade exigiria um esforço hercúleo das forças sociais de nosso Brasil?

                     Denunciar é o primeiro passo. Mobilizar-se, pois o coletivo soa melhor do que o individual. Fortalecer e oxigenar as forças institucionais com novos membros em seus quadros, inibindo a perpetuação de oligarcas.

                     Promover a valolização do jovem como elemento essencial ao desenvolvimento do Brasil, sem desprezar a experiência dos mais antigos.

                     Tornar a Leitura, uma “religião” como caminho para a oxigenação da massa cefálica dos educandos do Brasil.

                     Acreditar que o pobre não é deficiente, mas eficiente naquilo que pode oferecer à sociedade, pois está mais do que provado que o trabalhador médio brasileiro é em sua maioria, honesto e cumpridor de seus compromissos.

                    

                    

                                                        

        

                    

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