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 Sala dos Doutrinadores - Comentários Sobre Obras Intelectuais
Autoria:

Aristocléverson Santos
Representante Farmácias , cursando Direito, Graduado em ADM na FACITEC e vasta experiência no ramo farmacêutico.

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Resumo: O QUE É ETNOCENTRISMO

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência

Texto enviado ao JurisWay em 05/11/2011.

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O QUE É ETNOCENTRISMO

 

1 – Pensamento em Partir

                Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.

                Perguntar sobre o que é etnocentrismo é indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e efetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espirito humano – sentimento e pensamento.

                Assim a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de descobrir os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações.

                Temos de pano de fundo da questão etnocêntrica a experiência de um choque cultural de um lado o “eu” ou o “nosso” e do outro lado o “outro”. Este choque gerador do etnocentrismo nasce talvez, na constatação das diferenças a grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico sendo o grupo do “eu” faz da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou inteligível.

                O que importa neste conjunto de ideias é o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. Cada um traduz ou traduziu nos termos de usa própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura, do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”.

                Na maioria das vezes o etnocentrismo implica uma apreensão do “outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Negamos aquele o mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo.

                Alguns livros colocavam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açúcar por serem indolentes e preguiçosos, ou seja, fora dos seus contextos culturais como um povo ou uma pessoa trabalha como escravo com satisfação e eficiência?

                Como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulando de acordo com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apena uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos.

                O primeiro papel que o índio representa é no descobrimento do Brasil, no segundo momento na catequese sendo colocado com uma criança e no terceiro momento o corajoso, altivo, cheio de amor à liberdade. Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo.

                Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando, ou seja, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação.

                A diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa sendo a busca pelo senso comum o motivo da Antropologia no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns.

 

2 – Primeiro movimento

                O Evolucionismo baseado na procura para explicar as diferenças entre as sociedades. O evolucionismo antropológico a noção de progresso torna-se fundamental, pois é no seu rumo que a história do homem se faz. Acredita-se na unidade básica da espécie humana e o fator tempo passa a ser bastante importante.

                Existia um problema teórico: quais definições dos critérios pelos quais seria possível medir o estádio de “avanço” de cada uma das sociedades existentes? A solução estava no próprio conceito de cultura adotado pelos evolucionistas.

                Segundo Sir Edward Tylor: “cultura ou civilização, no seu sentido etnográfico estrito, é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”.

                A mudança na sociedade se daria pela invenção, consequência do aperfeiçoamento do espírito cientifico. Isto fez com que os evolucionistas pudessem pensar o “selvagem” sem conhecê-lo de perto, pois ele era visto como uma fase passada de mim mesmo.

                O etnocentrismo estava em achar que o “outro” era complemente dispensável como elemento de transformação da teoria. A relativização não tinha espaço. Assim como os evolucionistas ao dispensarem o “trabalho de campo” e a relativização, acreditando-se capaz de ter todo o conhecimento do “outro” dentro de sim mesmo, acabaram impossibilitados de achar algumas respostas importantes.

                Quanto mais sabemos mais sabemos o quanto falta saber. A magia esta na consciência de quão pouco se sabe. Neste processo, a sociedade do “eu” começa até a questionar-se a si própria.

 

3 – O Passaporte

                O século XX traz para a Antropologia um conjunto vasto e complexo de novas ideias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Relativizar é uma palavra que, até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia.

                O mais interessante é que a própria Antropologia vai ser capaz de relativizar a noção ocidental de tempo, assim como a noção ocidental de indivíduo, assim como outras tantas noções tão fundamentais à sociedade do “eu”.

                Franz Boas, suas ideias e seus alunos, a Antropologia se transforma substancialmente, que relativiza as ideias de cultura e história. A articulação destas ideias formava um eixo da forma de pensar do “outro” dentro do evolucionismo.

                Foi Boas o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seu particulares e é claro o resultado foi que tudo passa a ser infinitamente mais complicado no estudo das culturas humanas.

                Toda vez que um campo de conhecimento se abre, se lança de frente para a complexidade, ele também se relativiza.

                O esforço de relativizar problematiza qualquer “saber”. As ideologias, em especial as extremadas, odeiam qualquer possibilidade de relativização. Elas são centradas em seu próprio monólogo e a descentralização quebra sua auto referência abrindo espaço a uma multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas.

                Boa não organizou e apresentou para a posteridade uma teoria da cultura que permitisse, a alguém que fizesse uma “história das ideias” antropológicas, torna-la com um conteúdo evidente do seu trabalho, mas pesquisou: Antropologia Física, Linguística, Folclore, Geografia, Migração, Organização Social e nisto tudo, a ideia de cultura se renova, se transforma, foge, é reencontrada diferentemente.

                A escola personalidade e cultura representada por dois grandes nomes: Ruth Benedict e Margaret Mead. Foi uma escola que relativizou e muito. Comparou a sociedade americana com as sociedade tribais fazendo um trabalho de ida ao “outro” e volta ao “eu”.

                Assim, são duas as principais marcas desta escola:

         Seria a de instalar um profundo diálogo entre Antropologia e Psicologia, discutindo as formas de interação entre indivíduo e sociedade;

         Marca a incrível penetração conseguida pela escola, o seu destino popular por assim dizer.

A ideia central da escola estabelece a relação entre a cultura e as personalidades

individuais.

                Um dos problemas maiores desta corrente de pensamento, como de resto dos demais grupos que desenvolveram as ideias de Boas, é aquilo que chamamos “reducionismo”, ou seja, a dificuldade de explicar alguma coisa que contém várias outras a partir de uma única das coisas contidas. Melhor dizendo, explicar o todo – a cultura – por uma de suas partes, no caso, a personalidade. Outro problema é a dificuldade de trabalhar o complicadíssimo conceito de personalidade com o complicadíssimo conceito de cultura, ainda mais usando um para explicar o outro e o outro para explicar o um.

                As ideias deste grupo muito contribuíram para o avanço de disciplinas como a sociolinguística e a etnolinguística. A ideia básica que vincula as relações entre cultura e linguagem é uma ideia complexo e abstrata.

                Outro grupo alunos de Boas partiu para relacionar a cultura e o ambiente. Aqui fica pressuposto a noção de que o ambiente é o fator determinante que restringe as opções culturais. A importância deste grupo é a de ter colocado questões de equilíbrio, preservação e mutua dependência entre as culturas e destas com o ambiente onde se erigem, também, outra linha de estudo focaram na cultura e da história humana.

                Franz Boas deixou grandes lições. Relativizando com ele temos:

         Uma concepção da história pluralizada, estilhaçada, como uma história de “h” minúsculo, de cada cultura humana no que esta tinha de seu, de específico;

         Uma concepção de cultura que não colocou a cultura do “eu” como centro, mas que procurou ver que fatores diversos determinavam também diversamente o perfil das culturas;

         O desenvolvimento de uma Antropologia inquieta, atenta, humilde e propondo diálogos com outras disciplinas em volta, se criando e se transformando pelo enfrentamento do risco que significa estudar a diferença.

 

4 – Voando Alto

                Tanto o evolucionismo quanto o difusionismo os trabalhos produzidos, via de regra, demonstravam a permanência de um tema. Era a história sempre a permear os estudos e reflexões em quase toda a literatura sobre as culturas humanas.

                O pensamento difusionista propunha o estudo da história concreta de cada cultura, os processos próprios de mudança, troca e empréstimos que as caracterizariam. É uma história com “h” minúsculo, de cada cultura particular e especifica.

                Radcliffe-Brown discordou desta vinculação que existia entre a compreensão do presente de uma cultura e o estudo do seu passado. Em termos mais técnicos a sincronia presente não está submetida à diacronia – história.

                A diferença é que a diacronia analisa todos os tempos passados até chegar ao presente e a sincronia centra sua análise no momento determinado pelo estudo. Para a história, seja ele difusionista ou evolucionista, o presente se conhece pelo passado e estudar a história das culturas significa conhecer a verdadeira dimensão da cultura.

                A razão pela qual o funcionalismo relativizou pode ser encontrada no fato de que ele iria se opor ao estudo diacrônico e se conjugar com os estudos sincrônicos. Ao fazer esta opção a Antropologia se desvincula da história e parte para o estudo da sociedade do “outro” sem se preocupar com o passado desta sociedade. Isto é uma relativização fundamental na medida em que, se pensarmos bem, veremos que a preocupação com a história é, antes de tudo, uma preocupação típica da sociedade do “eu”.

                Quando Radcliffe-Brown desamarra a Antropologia da História abre um imenso espaço para que a sociedade do “outro” se mostre tal com ela é. Assim, para Radcliffe a sincronia deveria ser analisada por conceitos bem precisos. É o caso de noções como “processo”, “estrutura”, e “função”, que são cuidadosamente definidas para formarem um esquema interpretativo da realidade social. Onde o mesmo achava conveniente estabelecer uma comparação entre a Antropologia e as Ciências Naturais, por exemplo, comparava o sistema social ao corpo humano.

                A Antropologia, então, livre para estudar a sincronia, passa a poder esboçar uma tentativa mais solta de compreender o “outro”.

                Malinowski foi o grande viajante da Antropologia não tendo como relacionar o trabalho de campo com o pesquisador.

                Durkheim outra autora de grande importância para a Antropologia afirmava categoricamente uma ruptura: o social não se explica pelo individual. Com isto, o social como objeto de estudo não apenas se afirma no presente, na sincronia, mas também se afirma como entidade autônoma, independente do indivíduo.

                Afirmava Durkheim que: “é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”.

                Acompanhando esta definição temos que o fato social é:

         COERCITIVO: o fato social pressiona o indivíduo, torna-se uma força diante da qual este é coagido a uma participação independente da sua vontade.

         EXTENSO: o fato social se estende por todo o grupamento onde se acontece.

         EXTERNO: o fato social é externo ao querer e ao poder do indivíduo. Possui força autônoma, independente e própria, para além das manifestações individuais.

O fato social é por todo e para todos, uma “coisa” que ultrapassa cada um.

O importante, nas duas culturas, é que os objetos valem não pelos seus aspectos utilitários ou comerciais, mas pela sua posse pura e simples.

A comparação relativizadora, o trabalho de campo, a autonomia da Antropologia diante da História e do fato social frente ao individual são passos gigantescos. O “outro” é, também, uma fonte possível de reflexão, de transformação até, da própria sociedade do “eu”.

 

 

5- A Volta por Cima

                Claude Lévi-Strauss homenageia os “índios dos trópicos e seus semelhantes pelo mundo afora”.

                O etnocentrismo está calcado em sentimentos fortes como o reforço da identidade do “eu”. O etnocentrismo se conjuga com a lógica do progresso, com a ideologia da conquista, com o desejo da riqueza, com a crença num estilo de vida que exclui a diferença.

                À visão de cultura como itens corresponde a da história como trajetória única. Esta perspectiva – da história e da cultura – é o que podemos chamar de totalizadora.

                A Antropologia reflete, no jogo de seus movimentos, conjuntos de ideias, conceitos, métodos e técnicas que, na tensão do relacionamento entre o “eu” e o “outro”, procuram a relativização como possibilidade de conhecimento. O ser da sociedade do “eu” e os da sociedade do “outro” devem estar mais pertos do espelho onde as diferenças se olham como escolha, esperança e generosidade. Devem estar, também, mais longe das hierarquias que se traduzem em formar de dominação.       

 

Bibliografia

ROCHA, Everaldo. O que é etnocentrismo. 8º edição. São Paulo. Ed. Brasiliense, 1991.

 

 

Importante:
1 - Todos os artigos podem ser citados na íntegra ou parcialmente, desde que seja citada a fonte, no caso o site www.jurisway.org.br, e a autoria (Aristocléverson Santos).
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Comentários e Opiniões

1) Rosely (26/10/2014 às 03:09:36) IP: 177.41.92.171
MUITO BOA EXPLICAÇÃO, BEM DESENVOLVIDO E SEM ENROLAÇÕES PARA QUE POSSA TER UM ENTENDIMENTO MAS RAPIDO E DIRETO.


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