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A ORIGEM DA FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DOS MILAGRES EM MILAGRES CEARÁ


Autoria:

Francisco Vando Xavier Dos Santos


Sou estudante de Direito, estou cursando na Faculdade Paraíso de Juazeiro do Norte-ce, não tenho pós-graduação.

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Resumo:

A pesquisa traz um esboço da tradição do Município de Milagres e a origem dessa tradição.

Texto enviado ao JurisWay em 01/05/2017.



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A ORIGEM DA FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DOS MILAGRES EM MILAGRES CEARÁ

FRANCISCO VANDO XAVIER DOS SANTOS

ANDRÉ BEZERRA PEREIRA

MARIA BRENDA BEZERRA PEREIRA

*Alunos regularmente matriculados no curso de Direito da Faculdade Paraiso do Ceará - FAP

Resumo

Esta pesquisa aborda sobre a festa de Nossa Senhora dos Milagres em Milagres – CE. Tomando como foco os diferentes significados de mundo, do viver social e os processos simbólicos que são produzidos e reproduzidos por meio da festa religiosa imprimindo-lhes identidade. Dentre as práticas que são analisadas está os rituais que antecedem á festa, a preparação do corpo espiritual: novenas, à missa, a organização para a procissão, as vestimentas, os recursos; além das quermesses e situações que ocorrem no próprio festejam. Este trabalho evidenciou com as pessoas constroem e reconstroem suas identidades e sua sociabilidade a partir da multiplicidade de vivências e simbolismos ocorridos no festejo. Além disso, identificou como a festa postula experiências e consequentemente significações, para os sujeitos sociais que dela participam.


INTRODUÇÃO 

              A presente monografia tem como tema a Festa da Padroeira Nossa Senhora dos Milagres na cidade de Milagres – CE., e nela se destaca as relevâncias que essa festa tem para os milagrenses. A partir das memórias de alguns moradores da cidade, antigos e atuais.

              Em Milagres, cidade do interior do Ceará situada na mesma região as pessoas vivenciam expressivas práticas sócio-religiosas e culturais praticadas por uma população singularmente religiosa e devota a Nossa Senhora dos Milagres. Em adoração a Santa acontece um significativo ritual marcado por hinos, rezas, apresentações, atos de contrição, o que significa o momento de celebração da vida, de enfrentamento da realidade adversa que a sociedade está passando naquele momento.Um significativo espetáculo acontece na cidade durante os festejos em homenagem a Nossa Senhora doa Milagres, destacando-se principalmente pela pompa que evidencia.

              As proximidades da festa em louvor a Nossa Senhora dos Milagres em Milagres – CE., é considerado pela comunidade como um novo tempo, este inaugura momentos ímpares para aquelas pessoas que através do trabalho, do conto, da missa, na quermesse ou nas suas performances exprimem os seus sentimentos mais íntimos no festejar.

            A análise da festa da padroeira, enquanto prática cultural é relevante porque esta se apresenta como fundamental na construção da identidade de muitos milagrenses.

A importância desse estudo está em destacar os aspectos que continuaram e os que não continuaram na festa da padroeira Nossa senhora dos Milagres em Milagres – CE., fazendo uma relação entre os anos 50/90 e 2013. A partir de entrevistas com alguns sujeitos da cidade que promoviam, promovem ou estão inseridos nessa festa, discutimos tais questões.

A pesquisa foi motivada pelo fato da pesquisadora morar na cidade, de Milagres – CE., fazer parte da sociedade dos Milagres há algum tempo e assim perceber e conviver com as particularidades que ocorrem durante o período em que acontece essa festa, ou seja, de 06 a 15 de agosto. Trata-se de uma festa religiosa, e nela ocorrem situações que nos deparam com o que continuam e os que foram reinventados.

A festa de Nossa Senhora dos Milagres é uma festa popular e tradicional da cidade de Milagres – CE. É um evento que faz parte da cultura local considerado patrimônio imaterial, pois está enraizado na memória dos habitantes dessa cidade. Esse evento reúne diversas pessoas, que participam destes festejos religioso.

            Como objetivos a serem alcançados durante a reflexão dessa temática definimos analisar os diferentes aspectos da Festa da Padroeira nossa Senhora dos Milagres; identificar o que permanece na festa; destacar a importância da festa para a população milagrense; descrever alguns conceitos culturais; apresentar a festa da padroeira como manifestação popular e, discutir os aspectos religiosos desta festa.


2     CONCEITOS CULTURAIS 

       História Cultural: Movimento das atividades humanas

              O conceito sobre história cultural tem sido abordada para diversas ações do homem no tempo e no espaço em que esse está inserido. Desse modo, o tema em pauta aborda as atividades humanas, revelando e até formando as características de um determinado povo ou sociedade, conceituando os aspectos sócias expostos  ou produzidos pelo homem, enquanto espécie da razão e ação, tanto que história cultural pode ser, muitas vezes, interpretada como história social, política, econômica, etc. Nessa sentido, deve ser considerado que existe um campo de estudo muito grande para os escritores e acadêmicos no mundo.

            Os fatos que criam ou marcam a história cultural são geralmente aqueles que, através do sentido obtido em suas ações periódicas ou mais, enfatizados por uma infinidade de realizações, a exemplo de festas, feiras, jogos, entre outros, quer sejam em atividades coletivas, quer sejam pessoais. Conforme Burke (2008), a história cultural já foi reconhecida em diversos países há mais de 200 anos, a princípio na Alemanha. “A descoberta da história da cultura popular na década de 1960 e a nova história cultural” (BURKE, 2008, p. 15 – 16), propõe que os historiadores e escritores, busquem uma compreensão maior a respeito da relação entre elas, já que as demonstrações referidas eram de vivência da época.

            Em se tratando de história cultural popular há uma percepção para as ações desenvolvidas pelo homem em qualquer que seja os pressupostos intelectuais ou até artísticos. Foi entre os anos 1800 – 1950, que os historiadores conceituaram tal período, na história da humanidade como” história cultural clássica” para Burke (2008) foi um período que desenvolveu, em diversos países, abordagens intelectuais das atividades humanas, principalmente na Europa com os ideais artísticos e literários, comovidos pelas revoluções sociais, culturais e artísticas de todos os tempos, como o Renascimento e, por outro lado, os ideais franceses, que tiveram grande repercussão nas sociedades ocidentais.

            Os estudos até então realizados sobre a história cultural e popular tem grande relevância para o conhecimento e sua compreensão no meio acadêmico e educacional, diante da aceitação da mesma ou comparação entre diversas nações, assimila-se significados diferentes do que seja história cultural de uma nação para outra. Observa-se, dessa forma, que não há homogeneidade no conhecimento ou conceitos abordados pelos historiadores de sociedades distantes, mas que tais estudos foram e são promovidos em épocas semelhantes, principalmente a partir da década de 1960, em muitas nações.

            Os trabalhos dos escritores, com a história cultural e popular, possibilita perceber que a cultura, difundida nas sociedades, não tem distinção de classe, ou seja, abrange toda a população. Assim, muitas vezes, o estudo dos acadêmicos em conceituar elites dentro ou fora da cultua popular – já que essa é comum a grande massa da população – não inclui, menos ainda exclui o direito do indivíduo, pois todos vivem a cultura numa mesma sociedade. A esse respeito, Burke(2008) afirma: 

O que torna a exclusão problemática é o fato de que as pessoas de status elevando, grande riqueza ou poder substancial não são necessariamente diferentes, no que diz respeito à cultura, das pessoas comuns. Na França do século XVII os leitores dos livrinhos baratos tradicionalmente, descritos como exemplo de cultura popular incluíam mulheres, nobres e até mesmo uma duquesa. Isso não é de surpreender, já que na época as oportunidades educacionais das mulheres eram muito limitadas. (BURKE, 2008, p. 42)

 

            Como assegura o referido autor, o fato de as pessoas estarem inseridas na sociedade “de status elevado”, não é essa posição social que determina o processo cultural que devam fazer parte a vivenciá-la, a cultura é a atividade essencial do homem e abrange toda a população, independentemente de condições sociais econômicas e até mesmo educacionais, uma vez que todos são indivíduos substancialmente comuns.A abordagem sobre cultura ou história cultural vem se tornando importante, cada vez mais, dentro do campo educacional, onde há uma preocupação das instituições de ensino em reconhecer o ser como indivíduo passivo ou determinada cultura ou inserido numa comunidade naturalmente cultural. Burke (2008) afirma que, a partir das décadas de 1980 – 90, vem crescendo a importância dado a tais estudos, os quais são significativos, porém distintos entre as disciplinas e seus estudiosos: os antropólogos, os historiadores e os sociólogos.

 FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DOS MILAGRES: CULTURA POPULAR NA CIDADE DE MILAGRES – CE.

               O citado capítulo visará especificamente dos aspectos culturais inerentes à festa de N. Senhora dos Milagres, padroeira de Milagres – CE, e destaca como essa manifestação popular foi e é transmitida através do tempo.

        Milagres é um município brasileiro do estado do Ceará. Sua população é de aproximadamente 30.000 habitantes. Tem um único distrito, localizado às margens da CE – 293, na via que faz ligação entre a cidade de Milagres e a de Juazeiro do Norte.

            Fotografia 01 – vista aérea  da cidade de Milagres – Ce. Ano  2000. Fonte: arquivo da PMM

           

            A referida cidade é um município que apresenta diversos aspectos culturais, dentre eles podemos citar a tradicional festa da padroeira N. S. dos Milagres, festa esperada durante todo o ano pela população milagrense.

            Nossa possibilidade cultural em virtude do perfil religioso e profano, todavia o aspecto religioso é celebrado com mais intensidade.

            Como habitante e participante dessa festa tradicional trago na memória e vivo intensamente cada momento desse evento, participar da festa da padroeira faz parte da minha identidade. E por ser culturalmente transmitida às pessoas, mesmo de forma diferenciada e independentemente da classe social a que elas pertençam se fazem presentes nessa festa. A participação nesse evento é uma prática garantida a todos desde o início dos seus festejos, o que marca para profundamente o cotidiano da cidade.

Para mim é uma responsabilidade imensa, pois trabalhar nos bastidores seja na organização sem como com a decoração da igreja e do carro andor é complicada para quem está de fora o grande público e os fieis vêem apenas o que da certo mas todos os problemas e mecanismos para fazer a festa funcionar poucos conhecem. Mas me sinto grato por dar minha contribuição como cristão nestes 20 anos ajudando intensamente nesta festa tão bonita e tradicional.

 

Raimundo Carlos Leite de Lima, professor de 35 anos de idade, tem vivenciado esse momento singular em Milagres – CE., relata de como era as organizações da festa religiosa:

                                                                     

                                               (Conforme entrevista concedida, 30 de agosto de 2014).

           

Entende-se assim, verdadeiro engajamento de grande parte da sociedade durante o período em que se desenvolve a festa da padroeira N. S. dos Milagres.

            Os festivos tiveram e têm grande relevância para a humanidade, na medida em que a ação de celebrar, festejar e comemorar através das festas é realmente algo presente, fazendo com que diferentes povos, em diversos lugares e épocas, repitam determinados costumes, nesse caso destacamos a festa da padroeira de Milagres-CE.

            Essa tradição nos remete ao período do Brasil colônia, quando os colonizadores tinham por costume “batizar” as cidades e paróquias nomeando-as com nomes de santos(as) correspondentes ao dia que chegavam à região. É fato que, no Brasil, em cada cidade, por menor que seja, há sempre uma igreja católica que, com o passar dos anos se transforma em matriz. Cada paróquia tem um(a) padroeiro(a) para o qual realiza festas todos os anos em sua homenagem e em Milagres – CE isso não se faz diferente, tendo a Igreja católica com um papel importante na formação dessa cidade.

            Seguem imagens da Igreja Matriz “Nossa Senhora dos Milagres” de Milagres – CE em épocas diferenciadas da história. 

                 Desse modo, à Paróquia de Milagre – CE em Milagres recebeu “N. S. dos Milagres, como padroeira desde a sua criação na data de 08 de julho de 1850 pela Assembleia provincial do Ceará desmembrando da Freguesia de São José de Missão Velha”.

 

       

 

            Por muitos anos a festa da nossa padroeira foi celebrada no dia 09 de julho, dia oficial de N. S. dos Milagres.

            O título de Nossa Senhora dos Milagres provem dos muitos milagres que a Mãe de deus operou por meio daquela antiga imagem em favor dos seus devotos.

            A história da padroeira teve início logo ao cumprimento de uma promessa feita por um senhor que por momentos aprisionado por índios, fora solto por uma prece a virgem santíssima que se escapasse das mãos dos índios, mais tarde voltaria a estas paragens e em agradecimento ergueria uma capela em homenagem a virgem dos Milagres.

            Sobre esse fato, Raimundo Carlos relatou:

 

Sem as comunidades e adjacências a festa não aconteceria é um momento de união de confraternização de alegrias de celebração e de comunhão em torno da palavra de deus e das virtudes da virgem Maria. Todos nós juntos cada um contribuindo para a alegria de todos num momento ímpar que passa de geração em geração a mais de 200 anos e de 165 anos como paróquia.


 

O primeiro passo o vigário promove uma reunião com a equipe central em seguida com o conselho pastoral delimitada o tema, os noitários e os dias das comunidades, em seguida convoca a comunidade em geral para que esta opine e de suas sugestões passando depois para um rascunho e para um livro de ata, tudo estando certo passa-se para a gráfica e para a divulgação. A comunidade em geral começa a se mobilizar a partir desta reunião.

           Na atualidade a Igreja Católica é quem conduz a organização e definição dos eventos, que antes incluíam a religiosa e a profana que ocorrem durante a festa, hoje, apenas responsabiliza-se pela religiosa.


            Dessa maneira, segundo Raimundo Carlos atualmente, a festa da padroeira é apresentada da seguinte forma:

èReuniões em junho

èPré- novenas – em julho e agosto

èMobilização para arrecadação de fundos em julho e agosto.

èNovenas em agosto com a culminância da festa no dia 15 de agosto.

 

            A partir dos preceitos religiosos propagados pela Igreja Católica as festas  de padroeiros(as) são sustentados na história da humanidade, visto que “As representações do mundo social, assim constituídos, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento  dos discursos proferidos com a posição de quem os idealiza” (CHARTIER, 1990, P. 17).

            Nesse sentido, a festa, é uma prática cultural de interesse da igreja Católica, e culturalmente vem se  mantendo historicamente de geração a geração. A festa da padroeira na cidade de Milagres – CE é considerada uma festividade popular e tradicional, visto que é realizada há mais de um século.

            Esta festividade desde sua primeira versão vem reproduzindo cultura percebida nos símbolos inerentes a sociedade local, e legitimada na relação de poder entre os sujeitos sociais.

A idéia de cultura implica a idéia de tradição de certos tipos de conhecimentos e habilidades legados por uma geração para a seguinte. (BURKE, 2005, p. 39  A esse respeito, Burke (2005, p. 52 afirma que:

Cultura é “um padrão, historicamente transmitido, de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio dos quais os homens  se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atitudes a cerca da vida”.

Culturalmente a dimensão que a festa da padroeira possui, faz com que os milagrenses atribuam a essa festa significado relevante e valor cultural imensurável. Por isso, esse evento tem atravessado gerações e mantém-se no calendário cultural e oficial da cidade. Sendo assim, a Igreja Católica teve um papel importante não só na organização da festa, mas na formação da cidade de Milagres – CE. Em realidade é história, uma vez que desde o período colonial, o catolicismo tem forte influência na sociedade brasileira, na formação e configuração espacial das cidades.

DESCONTINUIDADES E PERMANENCIAS NA FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DOS MILAGRES

 Origem do título de Nossa Senhora dos Milagres.

 

              O título de Nossa Senhora dos Milagres é muito comum em vários países católicos, como a França, Itália, Espanha, Portugal e Brasil, devido aos grandes prodígios feitos pela virgem Maria, Onipotência suplicante e canal de todas as graças a quem Deus nada recusa. No entanto, apesar das diversas imagens milagrosas da Mãe Santíssima veneradas até hoje, a mais antiga notícia que temos dessa invocação data do século VI na França. Foi santa Teodechilde, filha do rei Clovis, depois de várias visões sobre naturais, mandou construir em Mauriac pequena capela em honra a Nossa senhora, cuja imagem fora presente de seu pai. O título de Nossa Senhora dos Milagres provém dos muitos milagres que a Mãe de deus operou por meio daquela antiga imagem em favor dos seus devotos. Os monges que cuidavam do templo construíram  logo depois um convento ao lado e no século XIII a capela foi substituída por imponente igreja.

              Em Portugal, na vila de Miranda do Corvo, havia nos séculos XVI, grande número de lavradores que cultivavam a terra para o seu sustento. Entre eles havia piedosa viúva, que tinha uma única filha a quem dedicava todo seu amor esta não se sabe o motivo, certo dia enforcou-se. Vendo a mãe tão triste acontecimento, carregou a filha nas costas e enterrou-a próximo a vila. Depois a viúva mandou edificar uma pequena ermida dedicada a mãe de deus, mandando colocar sobre o altar bonita imagem da Virgem Maria com o menino nos braços, que começou a operar inúmeros milagres. A notícia se espalhou e vinha gente de todas as redondezas suplicar graças. Talvez por esse motivo a Santa recebeu título de Nossa Senhora dos Milagres, invocação esta que pode ter sido trazida por algum lusitano da região para o Brasil, pois ela tem mais devotos no Nordeste, assim como em Minas gerais, lugares onde a imigração portuguesa foi mais intensa.

              No Brasil existem paróquias dedicada a nossa senhora dos Milagres, em Goiana (GO) em Olinda (PE., à beira-mar, em Brejo da Cruz (PB), no Morro do Chapéu (BA) em Monte santo de Morais (MG)e em Milagres (CE). A imagem hoje venerada em Milagres Ceará foi trazida de Portugal, onde ela é bastante venerada até a cidade de Olinda chegando até a cidade de Milagres pela doação do Capitão Bento Correia de Lima, português, com parentes em recife, no ano de 1746 por ocasião da reforma da igreja que era de barro e passou a ser de pedra mediante a autorização do visitador do império que veio até a cidade de Milagres. Foi o Sr. Bento Correia de  Lima que também doou o terreno da igreja e da casa paroquial.

  O aspecto religioso da festa

 

              As cerimônias religiosas na festada padroeira de N. S. dos Milagres (novenas, missas e a procissão) evidencia apenas um ritual físico estabelecido pela Igreja Católica.

                            Segundo Petruski (2006)

Os símbolos, como as imagens estão presentes nos rituais e chegam até aos homens por meio dos sentidos, que trabalham a imaginação, gerando significados com intensidades distintas de indivíduo para indivíduo, que podem evocar, manifestar e tornar presente uma outra realidade com um segundo significado, indireto, figurado escondido, suscitando uma identificação e uma energia transformadora, estabelecendo uma identidade entre aqueles que deles participam.

                                                                                                           

                          A festa da padroeira N.S. dos Milagres constitui-se como um acontecimento urbano que se encontra sob a direção da igreja. A comemoração na igreja é antecedida pelas novenas, em que, para os cristãos as novenas devem ser vistas como exercício de fé e oração. Durante a realização das novenas muitos cânticos são entoados com acompanhamento de instrumentos musicais e a visita de corais, a principal música a ser cantada é o hino a padroeira. De acordo com PETRUKI (2008), o canto constitui como um elemento de grande importância para uma celebração litúrgica, pois expressa e ressalta a busca do amparo material para o homem, a escolha de um cântico é de fundamental atenção dos representantes da igreja, pois são vistas como uma oração.

            Após as novenas, o encerramento do momento sagrado ocorre no adro da igreja com a realização de bingos e cantorias – local que é chamado “barraca de N. Senhora dos Milagres.

 

 

Esta ligada com o tempo dos favores divinos e da justiça humana. Simboliza o tempo em que a luz ainda está pura, os inícios, onde nada ainda está corrompido, pervertido ou comprometido. A manhã é ao mesmo tempo símbolo de pureza e promessa: é a hora da vida paradisíaca e da confiança em si, nos outros e na existência. ( CHEVALIER, 1992, P.27)

 

 

 

 


             No dia destinado oficialmente para homenagear N. S. dos Milagres, a comemoração em Milagres – CE começa bem cedo, com a alvorada festiva, momento em que também há uma queima de fogos e quando ao tocar do sino, chama a atenção de todos para a missa. Isto se configura como momento da espetacularização, ou seja, o excessivo barulho alcança grandes distâncias. Essa alvorada matinal.

Para essa missa que ocorre nas primeiras horas da manhã, o templo deve está bem preparado para as celebrações do dia assim a Igreja recebe uma ornamentação ostensiva para receber as pessoas.

            Chegou o dia esperado dia da festa. É um marco sagrado ao dividir o ano em duas partes: o antes e o depois da festa. As nove horas a solene missa da padroeira, é grande a multidão que ali se comprime diante do altar de N. senhora dos Milagres. Novamente a tardinha  o povo se encontra em frente a igreja Matriz para a solene procissão desta vez a santa padroeira N. S. dos Milagres vem ao encontro dos seus filhos e devotos em seu rico carro andor.

            A procissão percorre várias ruas da cidade abençoando as casas, as famílias, os devotos daqui e os de fora, também os visitantes que participam desta festa, após esse percurso quando o carro andor se aproxima da Igreja Matriz é o encerramento da procissão. O vigário com o Santíssimo sacramento abençoa a todos e dá por encerrada as festividades de Nossa Senhora dos Milagres.

            E a vida no dia seguinte reassume o seu ritmo de sempre, restando apenas as boas lembranças daqueles dias imensamente sagrados que se repete a cada ano.

 

 

Nada acaba com o tempo, apenas se aperfeiçoa.

 

                 Por muitos anos, a festa da nossa Padroeira foi celebrada no dia 9 de julho, dia oficial de Nossa Senhora dos Milagres. Em virtude dos paroquianos milagrenses celebrarem ao Coração de Jesus, e as duas festas serem muito próximas, o vigário da época o Monsenhor Miguel Tavares Campos, resolveu transferir a festa da Padroeira Nossa Senhora dos Milagres para o dia 15 de agosto, dia este dedicado a gloriosa Assunção de Nossa Senhora, alegando em carta ao Bispo Quintino da Diocese do Crato, as condições da pobreza do povo milagrense, na preparação de duas solenidades tão próximas.

                 O referido Bispo diocesano atendeu as razões expostas, e a festa da Padroeira ficou oficializada para o dia 15 de agosto regularmente.

                 Portanto, de 6 a 15 de agosto, assinala cada ano, a data por excelência da comunidade paroquial católica de N. Senhora dos Milagres. Nesta oportunidade, celebra-se a tradicional festa religiosa, mais que centenária, que lança profundas raízes tanto nas sombras do tempo, quanto na piedosa alma do nosso povo.

                 Durante 9 (nove) dias é celebrado o novenário em preparação a festa, iniciando com o hasteamento da bandeira da Padroeira. O patamar da igreja, como é conhecido se enche de festa com os ricos adornos do grupo de Congos, banda de pífaros e a banda de música local, apresentando suas melodias melancólicas e festivas, acompanhadas da queima de fogos.

                 Segundo os moradores mais antigos, conta-se, que antigamente não haviam barracas, os comerciantes colocavam suas banquinhas ao redor da igreja vendendo cafés nos bules, sucos e comidas típicas.

                 Após a novena, as pessoas, todas apresentando vestimentas novas, apenas passeavam pelas ruas, ouvindo as melodias da época na rádio difusora local. Muitos padres de outras paróquias ajudavam nas celebrações.

                 Os novenários, ofícios e celebrações eram enaltecidos por cantoras de vozes afinadíssimas; eram verdadeiros espetáculos e manifestações de fé extrema, acompanhados por maestrina e órgão (hoje teclado). A perfeição de cada integrante do coral, tornava o som harmonioso e divino.

                 Por volta dos anos 70, para abrilhantar mais a quermesse, foi criado o leilão de Nossa Senhora dos Milagres. Quando a colheita era boa, o inverno satisfatório, eram incontáveis as prendas doadas pelos fazendeiros locais e senhoras prendadas da sociedade. Eram inúmeras sacas de cereais, carneiros, garrotes, artesanato e saborosos pratos típicos. Geralmente, este grande leilão acontecia no dia 14 de agosto, véspera do dia da padroeira. Contava com um grande número de devotos, visitantes e presença assídua dos filhos da terra.

                 Várias senhoras se destacavam na limpeza da igreja, dos pertences litúrgicos e imagens.

                 A missa das crianças da 1ª comunhão abrilhantava cada vez mais a festa, sem contar com a presença do Bispo diocesano na missa da Padroeira no dia 15 de agosto, sempre às 9: 00 h, contando com a presença de muitos párocos de cidades vizinhas.

                 A festa sempre foi finalizada com a triunfante procissão de Nossa senhora dos Milagres, que juntamente com outros andores, juntavam centenas de fieis, na sua maioria descalços e vestidos de branco, pagando assim suas promessas.

                 Atualmente, a festa continua bem vivenciada pelo povo milagrense, porém com conotação mais moderna. A quermesse apresenta-se de forma diferente, o leilão tradicional foi extinto, a procissão é contemplada apenas com a presença da imagem da padroeira Nossa senhora dos Milagres, o parque de diversão que anima a criançada, apresenta sempre inovações; após a novena, bandas animam o povo com repertórios sempre diferenciados, muitas barracas e comidas variadas preenchem o espaço da festa social, sem contar com a oferta irresistível de artigos artesanais. O povo se irmana na fé e no encanto fraterno, o comércio fatura; enfim, a cidade toma uma roupagem diferente, a população se encontra com um só objetivo. Porém, após esta grande apoteose de fé e diversão, tudo volta ao seu curso normal.

                 Nada acaba com o tempo, apenas se aperfeiçoa, e assim, este período tão esperado pelo milagrense, marca a história da fé do nosso povo e traz a esperança da perpetuação infindável desta grande manifestação espontânea de fé e compromisso religioso. 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Este estudo teve objeto a Origem da Festa da Padroeira da cidade de Milagres – CE. O objetivo foi tentar compreender o significado dos festejos da padroeira N. S. dos Milagres, para os moradores do lugar. Já que tal festa compreende a cultura tradicional e memorial da comunidade, vivenciada ao longo dos tempos.

            Ao interpretar, o discurso da pessoa a qual entrevistei observa-se que para ela esta festa ainda é parte da cultura e tradição da comunidade, uma atividade que é esperada durante um ano pela população, cercada de muita expectativa. O entrevistado demonstra em seu discurso, que conhece praticamente todos os aspectos desta festa, aponta as participações das várias pessoas, na Igreja que atrai para si um maior número de fieis através dos ritos religiosos.

Festa popular e tradicional da cidade, que vem ocorrendo desde o século XIX, torna-se assim um elemento da cultura local, podendo ser considerada como patrimônio imaterial, pois está enraizado na memória dos habitantes da cidade. Fiz uso de referências bibliográficas, almejando a compreensão do tema em estudo. Simultaneamente, efetivei um trabalho de campo na referida cidade a partir da utilização de entrevista escrita, para coleta de dados com um componente da comunidade e assíduo neste evento que vivencia esse período. As respostas que consegui obter corresponderam ao aspecto central do trabalho. Abordei a importância da festa da padroeira para população milagrense e identifiquei as Práticas religiosas e os festejos da Padroeira.

No envolvimento da população com a Festa enfatizei o comprometimento dos milagrenses com a mesma, eles não medem esforços quando se trata dessa Festa ,ressaltei sua importância, acontecimentos, e belezas nas noites de festas e  ainda nas Práticas religiosas e os festejos da Padroeira com a participação ativa da população apresentei as manifestações religiosas e penitências em sinal de agradecimentos à Santa.

 A festa da Padroeira de Milagres - CE, como observei, é muito festejada entre fieis “pobres” não apenas entre os que se preparam de maneira “elegante”, através de novas roupas e sapatos no desejo de participarem e expressarem a força cultural que a Padroeira da cidade possui.

Neste sentido, pude observar o valor histórico que a festa de “Nossa Senhora da dos Milagres” consolidou com o passar dos anos e o papel popular que a mesma conquistou. As homenagens a Padroeira marca profundamente o cotidiano da cidade, pois nos dias em que ela ocorre é notável como a cidade se articula para o seu preparo. Nesse período, muitas pessoas participam ativamente das comemorações e homenagens, ou seja, dos eventos que marcam a festa. Nesse ínterim, percebe-se que algumas desigualdades e preconceitos, econômicos ou raciais, são minimizados.

Sendo assim, em Milagres - CE, à festa da Padroeira “Nossa Senhora dos Milagres” que acontece há muitos anos, reproduz muito de uma cultura que é percebida nos símbolos inerente a uma sociedade. 

Que este trabalho venha despertar, ser significativo para a população local, que a produção de conhecimento nele proferido, seja do conhecimento de todos, assim, espero que este estudo possa contribuir para chamar atenção de todos da comunidade milagrense e dos agentes envolvidos nesta manifestação, sobre a sua importância para a cultura e para o fortalecimento da economia local, além de contribuir para o fortalecimento dos laços afetivos do povoado com outras comunidades. 

 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

BURKE, Peter. O que é história cultural? / Peter Burke; tradução Sérgio Góes de Paula. 2 ed. Ver. e ampl. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2008.

MORAIS, José Flavio Bezerra, Milagres do Cariri.

BRAGA, Francisco Dário – Milagres em Estudos Sociais.

CHEVALIER, J. e GHEERBRANDT, A.Dicionário de séculos. Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1992.

PETRUSKI, Maura Regina, Brasil, 2008.

DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo. Campinas, 1989.

CHARTIER, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo. Campinas, 1969.

 

 

 


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