Outros artigos do mesmo autor
Princípios de Direito Internacional PúblicoDireito Internacional Público
Diferença entre eutanásia, distanásia e ortotanásiaDireito Penal
Considerações sobre o tema do BioDireito frente a filosofia e a teologiaFilosofia
20 anos da Lei 9.099/95Arbitragem
A luta pelo Direito e o direito à lutaDireito de Família
Outros artigos da mesma área
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL
Liberdade de Expressão e seu Limite
Financiamento Público Eleitoral e seus reflexos
Doação Irregular de Campanha, Ministério Público e Ativismo Judiciário
Operação Lava Jato e a Repercussão Política
Resumo:
Análise do momento político brasileiro à luz da obra "O bem-amado" de Dias Gomes. Aspectos que se assemelham entre o imaginário da literatura e o real da política.
Texto enviado ao JurisWay em 30/08/2015.
Última edição/atualização em 31/08/2015.
Indique este texto a seus amigos
Odorico Paraguaçu e a politiqueira brasileira
Como dizia o poeta Castro Alves: “Bendito aquele que derrama água, água encanada, e manda o povo tomar banho! ”
Odorico Paraguaçu[1] sobre a inauguração de uma bica em um vilarejo de Sucupira
Onde está o princípio da tripartição dos poderes de Montesquieu? A política brasileira é realmente pautada na seriedade dos ditames doutrinários do “bom governo” ou temos uma Sucupira em sentido amplo e o desmando é a moda da vez? Ao falarmos de governo, palavras miméticas passam logo pela cabeça de todos: democracia, república, liberdade de imprensa etc. Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999), nos cria a figura arquetípica de Odorico Paraguaçu e sua “imaginária” Sucupira, cidade na qual prevalece a “democradura”, ao sabor político do prefeito que parece de tão real, não uma paródia, todavia, um retrato do politiquismo brasileiro. O célebre e nobre jurista Victor Nunes Leal (1914-1985), nos brindou com um livro que é uma obra de reflexão aguda sobre os bastidores dos muitos brasis que existem: “Coronelismo, enxada e voto”, obra do mineiro de Carangola, publicada em 1948. Nos diz o saudoso e nobre jurista:
Por isso mesmo, o “coronelismo” é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece a base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil.[2]
O Brasil não possui tradição democrática, possivelmente encontremos o inverso dessa afirmação quanto a isso nos manuais de Direito, sendo que a palavra democracia caiu em uma espécie de limbo mimético que todos sabem que existe, todavia, ninguém sabe ao certo o que é. Em termos de “toma lá dá cá” se pauta nosso sistema de governo desde que aqui chegaram os colonizadores. Preciso lembrar que Lisboa, sim a capital portuguesa, foi erguida duas vezes com ouro que das terras brasilis saiu e correu o Atlântico em direção à capital do Império. O terremoto de Lisboa em 1755 devastou a cidade da nobreza portuguesa e em 1807, as tropas de Napoleão Bonaparte, sob o comando do general Jean-Andoche Junot, invadem e assolam a capital portuguesa, em um misto de guerra e guerrilha que se prolongaria até 1814 sendo que nesse momento Dom João VI(início de 1808), estava a salvo juntamente com a nobreza portuguesa no Rio de Janeiro, cidade que passou a ser a capital do Império português (?), situação atípica, todavia, em se falando de Brasil foi possível.[3] Odorico Paraguaçu é um símbolo que retrata essa falta de condução no que se chama forma de governo. Maquiavélico, ele herda o caldo de cultura que se cronificou nas tratativas políticas do Brasil que elege políticos oportunistas e que sob camisas ideológicas dizem, prometem e nada fazem pelo povo. Para o político à moda Odorico, o povo é o meio para um fim, seu sucesso particular. Dias Gomes de forma hilária, bem retrata o cenário político, diga-se, que nada mudou da década de 1970 para cá. Lava-jato, Petrolão, Satiagraha, Caixa de Pandora, o que é isso? O povo que no tempo romano vivia em tempos difíceis na política de pão e circo, agora tem o circo, o pão nem sempre. Entre os nomes pitorescos que se alastram pela República brasileira em um governo democrático, que tal lembrarmos de frases de Odorico Paraguaçu?[4] Semelhanças serão coincidências.
“ É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade…”
"Vexame para o nosso prefeito, agora em estado de defuntice compulsória, ter que andar três léguas para ser enterrado."
"Se eleito nas próximas eleições, meu primeiro ato como prefeito será o de cumprir o funéreo dever de mandar fazer o construimento do cemitério municipal."
"Tomo posse como prefeito desta cidade com as mãos limpas e o coração nu, despido estripitisicamente de qualquer ambição de glória. Nesta hora exorbitante, neste momento extrapolante eu alço os olhos para o meu destino e, vendo no céu a cruz de estrelas que nos protege, peço a Deus que olhe para nossa terra e abençoe a brava gente de Sucupira."
"Meu caro jornalista, isso me deixa bastantemente entristecido, com o coração afogado na daceptude e no desgosto. Numa hora em que eu procuro arrancar o azeite-de-dendê do estágio retaguardista do manufaturamento (...), me vêm com esse acusatório destabocado somentemente porque meia dúzia de baiacus apareceram mortos na praia."
"Seu Dirceu, não fique aí com essa cara de seu-Malaquias-cadê-minha-farofa! Tome os providenciamentos necessários!"
Cabe registrar que “Seu Dirceu” é o secretário de Odorico, Dirceu Borboleta. As coincidências são meras semelhanças.
Sérgio Ricardo de Freitas Cruz
Mestrando em Direito e Políticas Públicas
Nenhum comentário cadastrado.
Somente usuários cadastrados podem avaliar o conteúdo do JurisWay. | |