Política e politicagem
Em tempos de eleição, não há nada mais natural que os interesses pessoais desprendidos ao longo das carreiras políticas dos nossos governantes pelos seus aliados e auxiliares venham a tona. Acordos milionários, troca de cargos prometidos, prática de atos ilícitos, bem como denúncias das falácias cometidas pelos seus oponentes imprimem bem a prática do que seria a politicagem.
A guerra pelo poder acaba transpassando os valores morais e constitucionais que deveriam planar sobre a sociedade brasileira. O velho patrimonialismo Weiberiano se instaura na política brasileira sem pedir licença, uma vez que o interesse particular dos políticos se sobrepõe ao interesse público tornando o meio político um instrumento hábil à consecução dos seus objetivos pessoais.
Ao revés, o sentido de político na terminologia grega significa aquele que tem origem e compromissos com a polis (cidade), logo, seu labor está voltado para o funcionamento ordenado do país em conjunto com órgãos que compõem o poder púbico. Sendo assim, independentemente da corrente partidária, todos os objetivos a serem implementados devem envolver projetos que abarquem o setor econômico, social e cultural que estejam sob a competência e responsabilidade de cada agente político.
O Brasil possui uma estrutura legislativa composta pelo Congresso Nacional formada por duas casas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal de modo que os primeiros representam os interesses do povo, enquanto que estes representam os interesses dos Estados. Nestas casas legislativas são apresentados e discutidos projetos de lei sob as mais variadas matérias a fim de alcançar a sanção pelo chefe do poder executivo, qual seja o Presidente da República.
Ocorre que não muito raro os representantes da população brasileira pouco comparecem aos debates que são travados diariamente no Congresso Nacional causando muitas vezes a suspensão da pauta em razão da falta de quórum. Outras vezes aprovam projetos ou medidas de seus interesses às escondidas para que qualquer tentativa de vedação seja frustrada. Para não falar que muitas são as provocações e ameaças praticadas mutuamente entre políticos em razão de práticas corruptas e imorais, quando deveriam zelar e por em prática suas obrigações.
Toda esta realidade, que deveria ser repleta da verdadeira política- compromisso com a cidade e o povo que as integram- não passa de práticas rotineiras de politicagem. Não é por outro motivo que encontramos várias cidades brasileiras, principalmente as do interior do Nordeste, marcadas pela miséria, pelo abandono e por crianças vivendo em situações subumanas.
Se os nossos políticos utilizassem o tempo que descartam criticando seus oponentes e satisfazendo seus interesses particulares na realização dos seus verdadeiros deveres e obrigações previstos constitucionalmente e no regimento interno de suas respectivas casas legislativas, a nossa realidade social seguramente estaria em um nível muito mais satisfatório e digno e em harmonia com os objetivos fundamentais previsto no art. 3º da Carta Magna.