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Resumo:
Uma análise da participação da mulher nas sociedades romana e grega segundo Fustel de Coulanges .
Texto enviado ao JurisWay em 12/02/2016.
Última edição/atualização em 20/02/2016.
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Numa Denis Fustel de Coulanges, nasceu em Paris em 18 de março e faleceu em Massy em 12 de setembro de 1889. Foi um historiador francês. Fustel de Coulanges extrapola o ofício de historiador e com sobriedade intelectual chega ao campo da filosofia, teologia, sociologia, antropologia e Direito. Sua obra máxima, “A Cidade Antiga” publicada em 1864, expressa um envolvimento quase mítico do autor, ressaltamos, com o rigor intelectual, com o princípio da formação da idéia de família nas sociedades romana, grega e hindu, todavia, naquela primeira, extrai além do título para sua obra, a idéia de formação e estruturação da família a partir do “lar” ou “domus”, concluindo que na “Cidade antiga”, a formação do pensamento mítico que se mesclava com o pensamento político e social valorizavam de maneira pétrea os conceitos de Família, o “Fogo Sagrado e a Propriedade”. Abordaremos em uma série de artigos que envolvem o pensamento de Fustel de Coulanges, a trajetória desse instituto tão modificado ao longo de séculos e séculos de existência do humano[1]- a família.
1. Antes do tempo
Fustel de Coulanges adverte na abertura do seu célebre livro:
“Les plus anciennes générations, bien avant qu’il y eût des philosophes, ont cru à une seconde existence après celle-ci. Elles ont envisagé la mort, non comme une dissolution de l’être, mais comme un simple changement de vie”.[2]
Fustel de Coulanges centraliza sua idéia em um primeiro momento na questão do culto, consequentemente da família e segue-se a propriedade. Esse trinômio está em completa interligação e acordo, pois o pater famílias, o responsável pelo culto ao deus da família, unificava essa família através da adoração do culto e posteriormente, o local único e sagrado para o oferecimento das oferendas para o culto ao deus manes, deus dos mortos e da respectiva família.
O historiador francês narra que o culto era à memória dos ancestrais da família, restringindo a participação da mulher na cadeia memorial. Uma vez casada, a mulher abandonava o deus da sua família paterna e adorava única e somente o deus ancestral do pater famílias.
Vemos uma religião primordial e quanto a isso Fustel de Coulanges fala de um momento próximo ao século XVI a. C, religião que apresentava traços de um egoísmo, uma vez que o homem se preocupava com a adoração da sua família, longe estava a idéia de tribo e urbe que mais tarde abalará o conceito de propriedade da família, uma vez que a adoração e o culto serão públicos.
A idéia do culto está ligada à idéia de imortalidade, ou vida após a morte como lemos acima. Importante pensarmos na questão do IUS SEPULCHRI, como veremos tão arraigado na cultura helênica no episódio de Antígona e seu irmão Polinice impedido de um enterro digno pelo seu tio Creonte[3].
Na página 184 da obra que utilizamos em português, Fustel de Coulanges critica a idéia de Montesquieu que a religião de Roma e de Atenas tenha sido criada para controlar o povo. Na opinião do historiador francês, a religião antiga nada possui de moral ou de “racional” no sentido de dogmas e credos. “O homem cria a religião e se torna escravo dela”, diz Fustel de Coulanges.
Em síntese, percebemos que a religião do “altar”, egóica, vez que não se preocupa com a religião do vizinho, surge bem antes de qualquer princípio de pensamento moral vinculado ao Direito que surgirá muitos séculos da adoração do “altar”, do “fogo sagrado” e da propriedade como vínculo do homem com seu local de prestação de culto familiar.
Que l’on regarde cette religion domestique, ces dieux qui n’appartenaient qu’à une famille et n’exerçaient leur providence que dans l’enceinte d’une maison, ce culte qui était secret, cette religion qui NE voulait pas être propagée, cette antique morale qui prescrivait l’isolement des familles: il est manifeste que des croyances de cette nature n’ont pu prendre naissance dans les esprits des hommes qu’à une époque où les grandes sociétés n’étaient pas encore formées. Si le sentiment religieux s’est contenté d’une conception si étroite du divin, c’est que l’association humaine était alors étroite en proportion. Le temps où l’homme ne croyait qu’aux dieux domestiques est aussi le temps où il n’existait que des familles.[5]
[1] Crivamos como referência a tradução de “A Cidade Antiga” - Fustel de Coulanges, Martin Claret edição de 2001 com tradução de Jean Melville, c/c “ Fustel de Coulanges- La Cité Antique” Librairie Hachette, 1900. Dans le cadre de la collection: "Les classiques des sciences sociales" Site web: http://classiques.uqac.ca/.
[3]SÓFOCLES. Antígona. Trad. Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 1999.
[4] Les dieux qui conférèrent à chaque famille son droit sur la terre, ce furent les dieux domestiques, le foyer et les mânes. La première religion qui eut l’empire sur leurs âmes fut aussi celle qui constitua chez eux la propriété. (p. 89).
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