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Texto enviado ao JurisWay em 14/05/2013.
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A homofobia, o medo e a Interseccionalidade
Este artigo visa descrever de forma sucinta, uma análise critica do filme “Medo de quê”, o qual foi produzido pela Organização Não Governamental – ONG, denominada Comunicação em Sexualidade – Ecos.
A mencionada organização possui 20 anos de atuação consolidada na defesa dos direitos humanos, com ênfase nos direitos sexuais e direitos reprodutivos, em especial de adolescentes e jovens, com a perspectiva de erradicar as discriminações relativas a gênero, orientação sexual, idade, raça/etnia, existência de deficiências e classe social.
Logo, faz-se necessário dizer que as atividades desenvolvidas pela Ecos são norteadas por alguns eixos, dentre eles, a educação continuada e capacitação, a qual parte do principio que:
Muitas vezes, não basta ter o conhecimento. É preciso discutir formas de democratizá-lo e de fazer com que gere ações positivas, um trabalho complexo quando envolve educação sexual, violência, saúde sexual do adolescente. A/o educadora/r precisa ter materiais e saber como discutir certas questões com as/os alunas/os. Nas empresas, no poder público, é necessário estimular o debate e a busca de soluções.
Nesse sentido, a Ecos procura fomentar aos profissionais da educação informações inerentes a diversidade sexual, além de possibilita-los um olhar diferente em relação à homossexualidade e a própria sexualidade de seus alunos/as.
Pensando nisso, o Ministério da Educação – MEC ao realizar a campanha anti-homofobia, construiu um Kit para distribuição nas unidades educacionais, incluindo nele, o filme “Medo de quê” produzido pela Ecos.
O referido filme apresenta claramente, o preconceito e a discriminação sofrida por uma criança no seu seio familiar, na comunidade e na escola em virtude de sua manifestação por uma opção sexual divergente da culturalmente aceita, o que ocasionou muito medo e sofrimento a esta criança.
Logo, o objetivo do filme é servir como um dos instrumentos apropriados para os profissionais da educação, a fim de que estes possam propiciar aos alunos, uma reflexão necessária sobre a diversidade sexual.
Todavia, as autoras Santos e Botelho ao tratarem dessa situação de sofrimento e violência vivida pela criança, citam por meio da obra intitulada de “Interseccionalidades, Vulnerabilidades e Práticas Pedagógicas Não-Discriminatórias: Por um Novo Paradigma” a definição de Interseccionalidade construída por (WERNECK, 2007, p. 3), que é a coexistência de diferentes fatores (vulnerabilidades, violências, discriminações), também chamados de eixos de subordinação, que acontecem de modo simultâneo na vida das pessoas.
Logo, por serem contrarias a estes fatores, as autoras propõe a transformação das pessoas, a fim de que estas possam atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo.
Para tanto, apontam como problema o uso corrente e as implicações pedagógicas que tal uso traz e como uma das possíveis soluções, as frequentes capacitações de docentes para o enfrentamento do racismo e da homofobia.
Com esse intuito, demonstram que há a necessidade em desconstruir a categorização feita por docentes para estudantes negros/as lgbt, a qual estabelece uma relação pedagógica condescendente e pautada na invisibilização do protagonismo social de tais sujeitos/as, o que por conseguinte, inviabiliza o caráter emancipatório da educação, além de restringir suas possibilidades de resistência e existência autoafirmativa.
Nesse mesmo sentido (Abramovay, 2004, p. 290) exemplifica as referidas restrições, descrevendo o relato de um professor, o qual demonstra por meio de seu depoimento que a culpa é da vitima, ou seja, que os jovens que optam por uma sexualidade não tida como padrão, tendem a se discriminar, sentindo-se injustiçados e se isolando:
Eu acho que tem discriminação, o que acostuma acontecer aqui é um certo isolamento da pessoa, então as pessoas meio diferentes, de orientação sexual ou não, costumam ter um isolamento, direto com as pessoas (...) sempre se sentindo injustiçado, sempre tem essa separação, então isola um pouquinho. A gente tem um caso com um menino de segundo ano que ele é meio isolado... (grupo focal com professores, escola privada, São Paulo)
Diante disso, percebe-se por meio de uma literatura mais aprofundada sobre a temática em discussão, que existi um grande problema a ser enfrentado na área pedagógica, quando se trata da desconstrução do pensar e da transformação do olhar dos alunos, pois os docentes, principais atores responsáveis por esse convencimento, na maioria das vezes, são os que demonstram desdenho e condescendência diante de uma situação discriminatória ou preconceituosa.
Tanto é assim, que Abramovay (2004, p. 278), ao falar sobre preconceito e discriminações: o caso da homofobia ressalta que: “..., muitas vezes, os professores não apenas silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução de tal violência”, vindo inclusive, a apresentar um caso de discriminação explicita de um professor, conforme o depoimento deste: “Eu tenho um caso com um aluno do primeiro ano, que é homossexual. E um professor do segundo ano passou por ele no corredor e disse que ele é um ser extraterrestre, que é uma aberração”.
Diante de todo exposto, finalizo essa sucinta explanação, aduzindo as valorosas conclusões de Santos e Botelho/Heilborn (2010, p.41), respectivamente, vejamos:
Entender homofobias e racismo como processos implica em entender a nós mesmas, professoras e professores, como sujeitas em processo: de subjetivação, de construção, de compartilhamento com outras sujeitas em construção, e de aprendizes das novas demandas discursivas que se apresentam. Para isso, teremos que parar de invisibilizar, desde nossos olhares até nossas falas, as diversas características identitárias que formam uma pessoa, olhando de outras formas e nos referindo de formas outras.
Uma educação sem racismo, sem homofobias, sem discriminação depende da adesão individual de cada professora e professor, com ousadia para transformar sua sala de aula num espaço de convivência das diferenças, diversidades, alteridades, e com coragem para revisitar seus próprios discursos, práticas e compreensões que ainda alimentam os processos de vulnerabilização intersectados em termos de pertencimentos raciais e orientações afetivo-sexuais e identidades de gênero.
(...) a sexualidade não é um equipamento com o qual nascemos: ela é, como qualquer outra atividade humana, o produto de um aprendizado de significados socialmente disponíveis.
Isso implica em dizer que, se esse produto é socialmente disponível, socializável ele deve se tornar, a fim de que o preconceito e a discriminação sofrida por pessoas em virtude de orientação sexual e identidade de gênero, como exemplificado no filme “Medo do que”, deixem de se materializar.
Referência Bibliográfica:
ABRAMOVAY, Miriam. M.G.C e L. B. S. Juventude e Sexualidade. Brasília: UNESCO Brasil, 2004.
ECOS – Comunicação e Sexualidade- Educação Continuada e Capacitação. Disponível em
HEILBORN, Maria Luiza. L.A e A.B, Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça/GPP – Ger: módulo II. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.
Medo do que? - parte 1 - You Tube. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=oryExiO5PL4>. Acesso em: 12. Mai. 2013.
Medo do que? - parte 2 - You Tube. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=CCVsUDfRl3o>. Acesso em: 12. Mai. 2013.
SANTOS, Tatiane e BOTELHO, Denise. INTERSECCIONALIDADES, VULNERABILIDADES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NÃO-DISCRIMINATÓRIAS: POR UM NOVO PARADIGMA DISCURSIVO - GPPGER.FE.UNB.BR. Disponível em:
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