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" OS DRAGÕES DA MENTE "


Autoria:

Carleial.bernardino Mendonça


Carleial.Bernardino Mendonça. Psicólogo-Clínico pela Universidade católica de Minas Gerais; Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito e, Bacharelando em direito da Faculdade de Direito Estácio de Sá,em Belo Horizonte-MG.

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Resumo:

Este título lembra o livro "Os Dragões do Éden", do conhecido escritor de ficção, o americano Carl Sagan, autor da série "Cosmos". Além de consagrado escritor, Sagan foi, também, físico e biólogo.

Texto enviado ao JurisWay em 31/12/2010.



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                          “OS DRAGÕES DA MENTE”

 

 

Este título lembra o livro “Os Dragões do Éden”, do conhecido escritor de ficção, o americano Carl Sagan, autor da série “Cosmos”. Além de consagrado escritor, Sagan foi, também, físico e biólogo. O seu Best seller “Os Dragões do Éden”, foi lançado há alguns anos no Brasil e traduz uma perfeita analogia dos processos cerebrais e mentais do homem, com a conduta instintiva dos animais que nos precederam durante a evolução das espécies, de acordo com a teoria evolucionista.

 

O grande escritor e cientista utilizou-se de convincentes comparações entre o desenvolvimento do cérebro e da mente com as aquisições neuronais dos nossos ancestrais irracionais, desde o aparecimento dos seres vivos, há alguns bilhões de anos. Por ser mais conhecido como ensaísta de ficção, o livro de Sagan não despertou na comunidade científica o interesse que merecia, tendo sido considerado por alguns, como mais uma de suas obras de ficção. A história do Homem está contida em seu cérebro e o desenvolvimento deste exigiu, pelo menos, um percurso de 500 milhões de anos. Para atingir a complexidade do nosso órgão do pensamento, a natureza sacrificou um incontável número de organismos, em infindáveis experiências de “ensaio-e-erro”.

 

Passamos por sucessivas etapas evolucionárias, desde as macromoléculas, protozoários, celenterados, platelmintos e cordados. Evoluímos para os vertebrados, passando pelos peixes, anfíbios, aves, répteis e mamíferos. Continuamos, até atingir os primatas, em cuja vizinhança encontramos hoje  apenas os macacos, esses nossos parentes mais próximos. Quando atingimos o estágio dos vertebrados, há milhões de anos atrás, o cérebro ganhou o Córtex; a camada externa de células (que lhe deu a cor cinza), proporcionando-lhe a capacidade de analisar os estímulos do meio ambiente. O cérebro, assim enriquecido, deixava de ser  instintivo e impulsivo. Peixes, anfíbios, répteis e aves, passaram a ter alguma “consciência” de seu habitat.

 

Foi nos mamíferos que a capacidade analítica mais evoluiu, principalmente com os Primatas ( macacos e homens ), com uma nova aquisição cerebral, que foi o novo cérebro (neocórtex), resultado do espessamento daquela camada cerebral externa, efetuando assim, uma verdadeira revolução no comportamento animal, em decorrência da formação da consciência, principalmente nos humanos. O cérebro é o resultado mais aprimorado da evolução biológica. Ele é o efeito mais feliz desse aperfeiçoamento de bilhões de anos, cuja finalidade foi a de preservar a vida em um ambiente cada vez mais hostil e competitivo. Entretanto, como veremos a seguir, parece que houve um desvirtuamento do projeto evolucionista; pois, infelizmente, muitos humanos, hoje, continuam a se comportar  de forma instintiva e animalesca.

 

O cérebro tornou-se o maior causador da sua própria extinção e a do seu meio ambiente, através da desestruturação da sua mente; justamente esta que foi a mais extraordinária capacidade adquirida pelos mamíferos quando desenvolveu o Neocórtex. O homem, a quem cabe o peso da responsabilidade dessa destruição maciça e sistemática, recebeu do seu neocórtex mais desenvolvido, o mais elevado nível de consciência, dotando-lhe das faculdades do pensamento abstrato, da razão, do raciocínio, da análise, da predição e do seu vasto potencial de memória, estimado em cerca de 10 elevados a 30 bits de dados. A mente se desenvolveu no homem a fim de melhor adequá-lo ao seu planeta e, assim, viver bem consigo, com os demais seres e com o seu meio ambiente. Entretanto, criou-se um paradoxo! É justamente a mente que está em vias de destruir, não só o seu portador, como, também, a própria terra, com todos os seres viventes. Os meios de comunicação nos trazem com freqüência as notícias e as imagens da destruição do homem pelo homem.

 

A todo o momento tomamos conhecimento das atrocidades praticadas por aquele que se auto-rotulou, vaidosamente, de “sapiens sapiens”; isto é, sábio em dobro! A ferocidade do homem contra o seu semelhante não tem limites. Cada vez mais agride a sua própria espécie com requinte crescente de bestialidade. Não é só contra a sua própria espécie que ele investe com fúria e insanidade. Todo o ecossistema é vítima deste seu furor destrutivo. Além disso, o “animal racional” está levando a destruição a outros planetas, gastando somas incalculáveis com delírios paranóicos de dominar o Cosmo; enquanto muitos milhões de seus semelhantes sofrem e morrem por lhes faltarem um mínimo de alimento.

 

Por que o homem age de maneira tão irracional, praticando toda espécie de crueldade com os demais seres? Por que é ele capaz de realizar feitos grandiosos como dar a vida por seu semelhante, sacrificar-se por ideais nobres, compor as mais belas sinfonias, escrever os mais emocionantes poemas e erigir as maiores obras de arte? Muito embora, na atualidade, quase não existem mais pessoas capazes destas façanhas; cremos que ainda há um punhado dessas pessoas de espírito nobre (os heróis estão quase todos mortos e não há mais motivação para sê-los!). A incoerência tem sido marcante no comportamento humano. O dualismo afetividade-agressividade tem sido uma constante no seu modo de vida. Consciência e inconsciência se alternam periodicamente na conduta dos humanos, desde que evoluiu dos insetívoros, há cerca de 100 milhões de anos. Antes, era somente instintivo, impulsivo e agressivo; tal como muitos dos seus progenitores. O neocórtex foi capaz de frear seus instintos animalescos, através de um controle vertical de seus neurônios, sobre as estruturas subcorticais embaixo dele no encéfalo.

 

Com o desenvolvimento do nosso cérebro, as suas partes inferiores pertencentes aos nossos ancestrais ferozes, como cobras, lagartos, jacaré, leões, lobos, hienas, etc., foram sendo recobertas pelas camadas evolucionárias mais recentes, sendo totalmente envolvidas pelo enorme tamanho dos dois hemisférios  e o seu envoltório cortical. Como já falamos acima, este foi o estágio final até os nossos dias. O cérebro, no decurso da evolução, modificou-se crescendo e se estruturando de dentro para fora e de baixo para cima, por meio da superposição de camadas e estruturas neuronais. Podemos afirmar que ele é hoje a somatória das estruturas dos cérebros das espécies animais que nos precederam.

 

As estruturas internas responsáveis pelo comportamento daqueles seres animalescos continuam ainda em atividade dentro de cada um de nós, controladas pelos neurônios do neocórtex, através de impulsos elétricos de cima para baixo. De baixo para cima, dentro do encéfalo humano, as estruturas primárias (arcaicas) enviam impulsos para o alto, alcançando a camada neuronal pensante (camada recente), a fim de fazer valer seus instintos irracionais, muitos deles geneticamente programados. Quase sempre esses impulsos são rechaçados ou neutralizados, dissipando desejos inconvenientes e negativos que iriam, caso fossem postos em prática, causar prejuízos ao seu portador e aos demais. Somos seres impulsivos e racionais ao mesmo tempo. Ora nos comportamos como irracionais, quando somos compelidos pelos impulsos dos “dragões” que residem enjaulados em nosso inconsciente e ora nos conduzimos como seres humanos, pela lógica presente em nosso córtex consciente.

 

O equilíbrio psicofísico encontra-se na capacidade de o consciente (córtex cerebral) controlar os impulsos instintivos inconscientes emanados das estruturas profundas do sistema nervosos central. Sob o prisma evolutivo, proposto pelo notável neurocientista  Mac Lean ,em 1970, o cérebro humano mantém três estratificações neuronais, pertinentes ao dos répteis, dos primeiros mamíferos e dos mamíferos atuais. O estrato mais antigo, o cérebro reptiliano, é representado em nós pela porção alta do tronco encefálico e os gânglios de base. Engloba partes como a formação reticular e mesencéfalo. O cérebro dos répteis coordena comportamentos tais como o acasalamento, a procriação, a vida gregária, a predação, etc. Estas estruturas primitivas respondem também pela fisiologia de nosso organismo, bem como pela regulação do sono e da vigília. Este primeiro cérebro é programado pelas instruções dos genes, tal como ainda programam o cérebro dos répteis atuais.

 

Com o correr de milênios, uma nova estratificação veio cobrir o cérebro dos répteis. Sobre ele, a evolução acrescentou uma camada que lhes deu as características dos mamíferos. Em conseqüência disso, apareceram os primeiros animais que dependiam da amamentação. Nessa nova estrutura cerebral, surgiram porções encefálicas responsáveis pelo comportamento emocional, como o sistema límbico, representado em nós pelo giro cíngulo, istmo, hipocampo, hipotálamo e outros, além do comportamento emocional, o sistema límbico importa nas funções da memória. Por último, na evolução do cérebro dos mamíferos inferiores até ao homem, foi-lhe acrescido o cérebro dos mamíferos superiores. Nesta última porção desenvolveram-se nos humanos, de forma exuberante, os dois hemisférios (telencéfalos) cerebrais que praticamente cobriram todas as demais estruturas “subalternas”. Soma-se a isto uma maior espessura do córtex formando o neocórtex, as áreas de associação mais desenvolvidas na frente do cérebro (córtex frontal e pré-frontal) e a imensa rede de intercomunicação entre os neurônios.

 

Estas inovações deram ao homem a capacidade ímpar da linguagem articulada, do raciocínio lógico e da abstração, capazes de fazê-lo lembrar-se do passado, analisar o presente e planejar o futuro (previdência), modificando-os conforme os seus interesses e necessidades vitais. Adquiriu ele a capacidade de controlar os instintos e através de sua inteligência deixou de ser dirigido por seus impulsos bestiais e cegos. A Razão e a Inteligência passaram a ser a sua característica principal, distinguindo-o dos demais animais que o precederam na Evolução. Com a descoberta da escrita, o homem revolucionou a Vida, transmitindo aos seus descendentes e aos demais, o conhecimento que ia adquirindo. Agora, não era mais necessário que cada um aprendesse isoladamente e “quebrando a cabeça”, o  que o outro ia aprendendo. Não mais precisava aprender com a repetição dos erros do seu passado vivenciado com sofrimento, dores e riscos; tal como ainda o fazem os outros animais ( e muitos de nós). Entretanto, a maioria dos homens vem apresentando um comportamento que contradiz essa extraordinária evolução cerebral, conduzindo-se ora, como verdadeiras Bestas; ora, como Homens Racionais! É notória a conduta paradoxal dos seres humanos. Preocupam-se com a sorte de algumas baleias encalhadas, unindo-se para salvá-las e gastando fortunas; enquanto permanecem insensíveis ao sofrimento crônico de milhões de outros de sua própria espécie. É incontável o número das vítimas do homem.

 

O comportamento deste animal racional  com relação ao seu irmão e o seu meio ambiente tem sido cada vez mais pautado por violência crescente que chega a ser um ultraje aos bichos, compará-lo a um irracional. Porque se comporta assim, se é dotado de inteligência, consciência e razão ? Porque destrói, sistematicamente a si, aos demais e o seu habitat? Alguns afirmam que o homem nasce “bom”, a sociedade é que o corrompe. Outros dizem que já nascemos “maus”, sendo o homem perverso por natureza, por imposição genética. Ambas as afirmações são ingênuas, com traços de veracidade. A  ingenuidade está nos conceitos de “mau” e “bom”, que têm conotação de avaliação moral. O cérebro não é bom e nem mau; ele é apenas fisiológico. Se as suas estruturas anatômicas e o seu funcionamento estão dentro dos parâmetros da normalidade biológica, ele é sadio e normal, prestando-se às expectativas para as quais foi desenvolvido. Caso escape dessas exigências naturais biológicas, ele é doente e anormal.

 

Cérebro anormal gera uma mente desestruturada, pois esta se regula pela organização anatômica e bioquímica dos conteúdos daquele. São inúmeros os fatores que danificam o cérebro e a mente, quer de forma passageira ou permanente. Microorganismos, traumatismos físicos e psíquicos, hábitos negativos de vida,ausência de conhecimentos , falta de cultura, poluição,genética,alimentação,educação,condicionamentos, etc. Relembrando a evolução do cérebro, desde os primeiros neurônios surgidos há muitos milhões de anos até o nosso cérebro atual; vimos que as velhas estruturas cerebrais de nossos antepassados ferozes ou mansos, foram sendo encobertos por novas estratificações de células nervosas, até atingir o estágio atual,onde o crescimento de baixo para cima e de dentro para fora, deu o enorme tamanho e complexidade ao cérebro do homem. É importante sabermos que as suas camadas inferiores, que são os substratos genéticos daqueles animais, não foram desativados ou isolados dentro do nosso encéfalo. Pelo contrário, elas continuam ativas, gerando os seus impulsos eletroquímicos, nem sempre condizentes com o comportamento social humano. Essas estruturas subcorticais (embaixo do córtex ou neocórtex) estão estreitamente ligadas às demais partes encefálicas; desta forma a filogenia se comunica intensa e intimamente com a ontogenia.

 

O cérebro é todo interligado e os seus neurônios formam uma rede tão intensa de comunicação através de seus fios condutores (axônios e dendrites) que, dizem alguns autores, se forem colocados em linha reta, em forma de fita, perfazeriam a distância de ida e volta da Terra à Lua. A quantidade de ligações dentro de um só cérebro é de aproximadamente 10X10 elevados a nona potência. Imaginemos este número fantástico de comunicação entre neorônios representativos de homens, cobras, ratos, lagartos, leões, gorilas, cachorros, gatos, hienas, coelhos, cavalos, urubus, toupeiras, tubarões, porcos, etc.! É extremamente desconfortante sabermos que não somos tão angelicais como pensamos. A evolução do cérebro está bem esquematizada, na sua evolução ontogenética, pelo gênio de Ernst Haeckel (1834-1919). Esse sábio biólogo alemão soube destacar as transformações no cérebro da criança, durante a sua gestação, no ventre materno.

 

Em sua época ele chamou a atenção para a grande semelhança do feto humano, em suas fases de crescimento, com o desenvolvimento das diversas espécies que nos precederam na evolução biológica. É legítimo supor que, aparentemente, a ontogênese recapitula a filogênese. Durante o desenvolvimento embrionário do homem (como também dos outros mamíferos) a natureza repete os estados anteriores evolutivos, passando o embrião pelos estágios cerebrais dos peixes, anfíbios, répteis, aves, etc. De fato, quem já viu os fetos de alguns desses animais, no início da gestação, e comparou-os com o do homem, no mesmo período, notará tão extraordinária semelhança. As diferenças entre eles só irão surgir na metade em diante na gestação, principalmente no feto humano, quando os grandes hemisférios cerebrais, com o seu espesso córtex, cobrirão os cérebros desses outros animais. O que vai prevalecer no homem é esse “último cérebro’, que nos distancia, a passos largos, de todos os nossos antecessores irracionais.

 

É nossa tese, proposta em 1989, que este cérebro recente, que caracteriza os humanos e que lhes dá a consciência e a inteligência superior, está perdendo a sua principal finalidade evolutiva que é a de contrapor-se ao cérebro antigo ( vide o nosso livro “ A Implosão do Homem, Ed.Interlivros, B.Hte.MG,1986 ). Explicamos melhor: baseando-nos em conhecimentos da Antropologia, Biologia, Psicologia, Paleontologia e da História, acreditamos que a maioria dos cérebros atuais vem sofrendo um processo involutivo, já há algumas décadas. Queremos dizer que a maioria dos seres humanos vem se desestruturando mentalmente nas últimas três décadas. A mente consciente, que acreditamos ser gerada pelos neorônios do neocórtex, vem encontrando grande dificuldade para neutralizar, controlar e lidar com o crescente número de impulsos nervosos provenientes dos neurônios das estruturas inferiores do encéfalo, como os do diencéfalo, tronco cerebral e medula, justamente os remanescentes dos animais irracionais que nos antecederam na evolução das espécies.

 

Estas estruturas nervosas inferiores são responsáveis, a nosso ver, pelos atos inconscientes de uma pessoa. Quanto mais mentalmente desestruturada estiver, mais se comportará movida pelos impulsos elétricos dessas estruturas primitivas, conduzindo-a a modos inadequados de viver. Diríamos que o Consciente cerebral (neocórtex) é o responsável pelo comportamento social do indivíduo e o Inconsciente cerebral é o encarregado das funções orgânicas das pessoas. Em casos de necessidade, o inconsciente cerebral, criando a mente inconsciente, assume o controle total do Ser, a fim de manter a sua integridade, como por exemplo, quando alguém se encontra no estado sonâmbulo, no sono profundo, nos estados alterados da consciência, como no coma, ou mesmo na embriaguês acentuada, nos estados de cólera intensa, etc. o inconsciente pode também assumir momentaneamente o controle das pessoas, quando por  exemplo, empurra-se alguém para frente, de surpresa, e a pessoa  tem uma forte reação para trás, equilibrando-se repentinamente do impulso recebido.

 

Diversos fatores negativos atuam nas estruturas conscientes, tornando-as frágeis e dificultando, ou mesmo anulando a sua capacidade de manter o controle sobre o inconsciente. Esses fatores podem ser químicos, biológicos, psíquicos e físicos. Os fatores químicos mais comuns são as drogas psicoativas e as alterações nos compostos bioquímicos do cérebro, com neurotransmissores, enzimas, hormônios, toxinas microbianas, etc.; os fatores biológicos são caracterizados pelas distorções anatômicas no encéfalo, de origem genética, tumores, desnutrição na infância, invasões bacterianas e outros. Os fatores psíquicos, são aqueles gerados pelos impactos emocionais aflitivos, decorrentes quase sempre de traumatismos mentais na infância, quando o córtex cerebral está ainda insuficientemente maduro para controlar  as forças do inconsciente, nas inúmeras dificuldades existenciais e outros eventos negativos. Finalmente, os fatores físicos que deterioram o consciente são os provenientes de traumas físicos cerebrais, como os acidentes vasculares e os impactos mecânicos no crânio. Quando o consciente é atingido por estes fatores, debilita-se o seu poder de controle sobre o inconsciente, como já frisamos acima, dando  oportunidade à intromissão indevida do inconsciente no comportamento social e fisiológico do indivíduo.

 

A atuação do inconsciente pode ser passageira, quando a pessoa se restabelece de uma injúria cerebral sofrida, como, por exemplo, ao se recuperar de uma intensa discussão com outra pessoa; após o estado de embriaguês; ao sair do estado de coma, do sono ou do sonambulismo, etc. Nesses casos, o consciente volta a atuar e a pessoa  terá a sua personalidade reestruturada, através do uso da razão, do bom senso e da inteligência; isto, se a pessoa já possuía estes atributos antes. Em outras palavras, volta a ser um “humano” novamente, após ter se comportando como um animal irracional, em virtude de ter permanecido, transitoriamente, sob o comando dos neurônios subcorticais ( do inconsciente), que são os mesmos que comandam o comportamento irracional dos cérebros das serpentes,cães,gatos,leões,gorilas ou dos mansos coelhinhos.

 

Pessoas que sofreram a infelicidade de terem seccionadas as ligações (os nervos) entre algumas partes do seu córtex, isolando-as das estruturas inferiores, tiveram os seus comportamentos alterados, tornando-se agressivas, apáticas e pouco inteligentes. Em primatas não-humanos, como os chimpanzés, normalmente dóceis, cujo cérebro é quase idêntico ao do homem, ao se extirpar o seu córtex cerebral eles se tornam extremamente agressivos e perigosos. Muitos são os fatos e pesquisas que apontam ser o córtex a sede da consciência, da inteligência e do controle sobre os impulsos agressivos e sexuais. Sem o córtex (neocórtex no homem) , seríamos simulacros de homem, verdadeiras bestas sem inteligência e consciência, provavelmente com forte propensão a devorar,literalmente, os nossos vizinhos,parentes, amigos e agregados.

 

A destruição sistemática do homem pelo homem, através da competição desenfreada e pela violência insana é resultado da fraqueza dos conscientes da maioria dos seres humanos e,concomitantemente,da prevalência cada vez mais acentuada dos inconscientes cerebrais das pessoas, a nível individual e social. As tensões que o cérebro consciente, da maioria das pessoas, recebem diariamente, são cada vez maiores e tendem a se agrava com as inúmeras dificuldades que a vida atual impõe a todos. Fome, insegurança, superpopulação, competição, poluição, injustiça social, etc., causam diretamente tensões e conflitos mentais que sobrecarregam química e eletricamente os neurônios do córtex cerebral, que cada vez mais ficam impotentes para conterem as “feras” do inconsciente de cada um de nós. Mesmo a mais calma e equilibrada das pessoas, acabará por perder o domínio sobre esses “dragões” do cérebro inferior (inconsciente). A ascensão dessa poderosa força desintegradora dos impulsos animalescos, preocupam-nos muito como neuropsicólogo e terapeuta, pois somos testemunhas diárias do flagelo das doenças mentais através das famílias que procuram o tratamento clínico mental.

 

As doenças mentais, como as neuroses e psicoses tornaram-se, podemos dizer, endêmicas entre os humanos; sem falarmos da generalização das enfermidades psicossomáticas. É o maior ou menor afastamento da realidade ambiental que caracteriza a doença mental. Quanto mais desestruturada está uma pessoa, mais distante da realidade se encontra e mais se agrava a sua patologia. Entre neurose e psicose acentuam-se as distorções do real, e a fantasia enganadora prepondera. Quanto mais o consciente cede aos impulsos elétricos do inconsciente, mais distorcida ficará para o cérebro e a mente, a realidade que cerca o indivíduo.  Desta maneira, podemos encarar os distúrbios mentais como resultantes da “guerra” entre o inconsciente e o consciente, travada entre os impulsos arcaicos e impulsos modernos. Vencerá quem “bombardear” mais o outro com rajadas elétricas disparadas por seus neurônios. É uma luta constante entre o “civilizado” e o animalizado feroz e inadequado.

 

Só podemos falar de doenças ou desestruturação mental, quando o inconsciente cerebral está negativo e,ao dominar o consciente, impõe os seus instintos prejudiciais à própria pessoa ou ao social. Alguém cujos órgãos dos sentidos captaram para dentro de seu cérebro estímulos negativos em demasia, provenientes de decepções, medos, perdas, frustrações, contrariedades, etc.,  estará estruturando, de forma patológica o seu inconsciente  que irá repercutir danosamente em seu comportamento futuro;principalmente se tais estímulos nocivos incidiram na fase da gestação,infância e puberdade. Nestas etapas da vida o consciente (córtex) não está apto a exercer controle sobre o inconsciente, devido à imaturidade de suas estruturas nervosas. Sendo social, o consciente é afetado diretamente pelas mudanças políticas, ecológicas, sociais e econômicas. Enquanto que o inconsciente é mais biológico e só indiretamente recebe as influências do meio ambiente. Nota-se que progressivamente as forças dos inconscientes estão sendo liberadas de formas inadequadas e com elas, as “feras” contidas nos genes dos seus neurônios estão nas ruas a nos devorarem. A agressividade, a violência, a competição brutal, a imaturidade, as doenças mentais e psicossomáticas, se fazem presentes, acentuadamente, nas sociedades contemporâneas. Poucas chances existem para se atenuar essa tendência desumanizadora e brutalizante. As dificuldades de vida em nosso País, por exemplo, para a maior parte da população, são as causadoras maiores da liberação dos “animais ferozes” de nosso inconsciente, principalmente entre aqueles mais sofridos e injustiçados.

 

É muito perigosa para todos nós a liberação desses “bichos”; são eles que já estão aí,por todos os lados nos atacando, roubando, agredindo e matando-nos de forma cruel, crescente e penetrantes em todos os setores  das sociedades mundiais. Já se nota o risco que todos corremos, na criminalidade e na violência reinantes. Milhões de famintos, miseráveis e injustiçados estão libertando de suas jaulas as suas feras demasiadamente sedentas do sangue. Os principais responsáveis pelo predomínio comportamental do inconsciente entre nós, é a televisão, a internet, alguns meios de comunicação, os maus políticos, governantes, líderes sociais, comerciantes e industriais inescrupulosos que estão levando a maioria dos brasileiros a um crescente confronto entre as forças instintivas de sobrevivência animal (do inconsciente) e as forças do bom senso e da razão (do consciente) são eles os maiores causadores indiretos da liberação para as ruas, avenidas, praças e rodovias de uma variada fauna, aprisionada a milhões de anos nos porões de nossos inconscientes.

 

Tomara que esses irresponsáveis e insensatos criem juízo e também tenham medo, pois serão imolados, aniquilados e destruídos tanto quanto nós, por mais que eles se escondam por detrás do ilusório manto protetor  da riqueza, do poder, da impunidade, e da vaidade. Finalizando, repetimos o que já afirmamos  em dezenas de Trabalhos publicados em jornais,revistas,anais e livro : para que se possa atenuar a barbaria da “guerra” dos Inconscientes x Conscientes entre os humanos é necessário que os Conscientes dos homens que dirigem os destinos das pessoas, em todos os setores da vida, a nível mundial; assumam o comando de seus cérebros e mentes,proporcionando a cultura,conhecimento,educação e a saúde psicofísica de suas populações, para que as pessoas se tornem cultas,sábias e mais humanas, com os seus Conscientes fortes e saudáveis a fim de vencerem as Forças Brutas do Mau e se comportem como Seres Humanos Verdadeiros.

 

Mas, será isto ainda possível, na atual conjuntura mundial? Cremos que não! Não existe mais campo ou terreno propício ao cultivo do “Bem”. A Televisão, as Revistas, os Jornais, o Teatro, a barulheira infernal chamada de “música”, os Noticiários, a Internet e outros “Sinais dos Tempos”, nos indicam que não há mais chance para o “Bem”. Tudo está Consumado (Consummatum est), disse-nos o Redentor, no alto da Cruz, no momento final de Sua agonia, quando por nós foi assassinado, ao tentar nos resgatar do que hoje estamos presenciando,vivenciando e, sendo assassinados também!

 

O Autor agradece a valiosa e despretensiosa colaboração da Srta. Hellen Caroline de Morais, por ter resgatado do esquecimento este trabalho, pesquisado e publicado em junho de 1989, remontando-o e  digitando-o,  pacientemente, para esta sua nova e mais aprimorada reapresentação pública.

 

 

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Carleial. Bernardino Mendonça

 

 

Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;

Estudante de Direito da Faculdade de Direito Estácio de Sá-BH;

Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.

 

 

 

 

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