SER PROFESSOR

Entre professor/aluno existe uma relação de hierarquia em sala de aula que é evidente por si mesma: o merecimento de obediência reside no fato de haver (em tese) maior acúmulo de conhecimento no professor, e na vontade de aprender, dos alunos.

Essa relação reproduz um modelo iluminista do Século XVII tardio e XVIII (Século das Luzes), em que o mestre é um ser iluminado pelas luzes do saber e os alunos (“a” – sem; “lunes” – luz), seres sem luz, que querem receber as luzes do saber. É um modelo baseado na razão instrumental, que remeta a Kant, Locke, Hume, entre outros.

Mas nós já não estamos mais no Séc. XVII. Apesar de nas escolas ainda reproduzirem esse modelo, inclusive na arquitetura das salas de aula, recordando a igreja ou o exército (alunos enfileirados, voltados para um ponto comum, para frente da sala, onde o professor se localiza, sob um tablado, indicando fisicamente uma posição de superioridade, ao lado do quadro negro). É claro que não é assim por acaso. Seria ingênuo pensar que não exista alguma intenção por trás desse arranjo.

Hoje sabemos que os estudantes possuem saberes outros, resultantes de suas experiências de vida, que podem enriquecer e complementar as aulas. Hoje, o bom aluno é aquele que participa, que contribui, já que o professor não é mais o único conhecedor. A obediência hierárquica não mais reside apenas no conhecimento absoluto do professor, mas, sim, na presidência dos debates, na coordenação das discussões, como organizador, como um maestro.

Ser professor é devolver os ensinamentos que recebeu, mas também é instigar o estudante à evoluir.