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BRECHT, Bertolt. O círculo de giz caucasiano. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
Laiane Almeida1
Soraia Conceição Santos Nascimento
Bertolt Brecht dramaturgo e poeta alemão, seus trabalhos revolucionaram o teatro, autor de peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador. Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX, não só pela criação de uma obra excepcional, mas também pelas inovações teóricas e práticas que introduziu. Sua influência não se restringiu ao teatro, ele foi igualmente importante pelas novidades técnicas de sua poesia e é autor da obra ora resenhada, O circulo de giz caucasiano.
O Círculo de Giz Caucasiano é uma peça escrita em 1943/1945, quando Brecht estava exilado na América do Norte, nesta obra, o dramaturgo coloca, em forma de prólogo, uma discussão entre duas comunidades caucasianas, em torno dos direitos sobre uma propriedade, um dos grupos abandonou a terra durante a guerra e o outro cuidou desta enquanto abandonada, ocorre que este primeiro voltou após o afastamento das forças nazistas com o desejo de retomar seus direitos sobre a referida propriedade agora por outros ocupada. A questão, posteriormente desenvolvida na ação principal da peça, centra-se em saber sobre que princípio deve o caso ser estabelecido, em meio aos escombros e diante da tentativa de reerguer o que fora destruído pela guerra, começa a disputa e exposição de motivos dos cáucases para decidir sobre a referida propriedade.
Anuncia-se à multidão a apresentação de uma peça de teatro relacionada à lide em questão. Constrói-se então uma peça dentro da peça, para isso, Brecht traz uma fábula, de inspiração oriental, que narra a história do filho do governador Georgi Abaschvíli, morto em revolta política, que foi abandonado pela sua mãe durante a guerra, a qual se preocupou somente em salvar-se e levar pertences materiais, a criança foi encontrada por uma ajudante de cozinha, Gruscha, e criado por ela até então.
Gruscha encontra o bebê Miguel e o salva, criando-o como seu e para isso sacrificando sua vida, casou-se com um moribundo para dar nome ao bebê e afastá-lo da vista dos revoltosos que o procuravam para dar-lhe o mesmo fim do pai. Passada a guerra e reposta a ordem social a mãe biológica com esperança em voltar a ter a sua vida fútil e rica, reivindica o filho, pois este é o único herdeiro do trono do governador. Encontrado escondido com Gruscha, Miguel é levado ao Juiz para que possa ser feito um julgamento sobre “a propriedade da criança".
O juiz era Azdak, um beberrão que levado ao cargo pelo próprio povo em momento de transição e caos político. Era um fanfarrão que quer se dar bem a todo o momento, mas nutrido de sentimentos revolucionários, não media esforços para manipular as leis, lançando mão de qualquer artifício para reverter o conceito de justiça estabelecido pela ordem dominante e dar ganho de causa aos pobres, contrariando a lei e que por vias tortas acabava ajudando os excluídos.
Para decidir sobre a maternidade de Miguel, Azdak utiliza um recurso arbitrário, e impõe a realização de uma prova, desenha um círculo de giz em torno de Miguel e pede para as duas mães o puxarem, cada uma para seu lado, Gruscha solta o menino por duas vezes, pois não pretende machucá-lo empreendendo toda a sua força. Então o juiz dá o julgamento final, “o filho é de quem o criou, para quem entende a justiça como o que ela deveria ser e não como foi instituída”, entendendo assim que Grucha tinha por Miguel o verdadeiro amor de mãe, o amor que o protege acima de tudo e de qualquer interesse.
O autor, Bertolt Brecht, nos apresenta uma reflexão sobre a propriedade, numa perspectiva marxista, com a presente obra, Brecht nos propõe uma peça de inspiração oriental, que se alimenta de um aguçado olhar sobre o presente e se articula na forma do teatro épico, com várias passagens da ação introduzidas por um narrador.
Brecht elege temas de grande atualidade, tais como a guerra, a justiça e o sentimento maternal, e nos mostra de forma sentimental a garantia e execução de um princípio que quase nunca vemos aplicado que é a possibilidade de praticar o bem numa sociedade caracterizada pela profunda desigualdade e assim fazer valer a verdadeira e justa justiça.
Assim foi feito com a propriedade, restando esta para quem dela cuidou e tornou mais fértil, para quem lutou por ela enquanto abandonada por seus verdadeiros donos, sabe-se que nesta obra a decisão não fora pautada em lei e sim em verdadeiro senso de justiça e totalmente desprovida de fundamentação legal, como deveria ser e não como é, o que não é possível de ser aplicado em nossa contemporaneidade devido a existência da responsabilidade do Estado de julgar em as suas lides em conformidade com a legislação vigente.
Trata-se de uma obra rica e atualíssima apesar de sido escrita em 1943/1945, tem verdadeiro valor histórico e proporciona a quem a lê uma necessária reflexão sobre a aplicação da justiça e valoração de princípios nos dias atuais, a linguagem utilizada pelo autor é de fácil compreensão e a forma como foi escrito o texto torna a leitura por demais prazerosa. Esta obra é indicada para todos aqueles que possuem certa sensibilidade jurídica e senso de justiça, e a todos os estudantes, não só do curso de direito mas como de qualquer outra área, pois a aplicação principiológica de que trata a obra dever de interesse de todos, como cidadãos garantidores da justiça e da igualdade social.
1 Acadêmica do VII período de Direito, da AGES Faculdade de Ciências Humanas e sociais.
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