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Resumo:
Resumo das principais figuras de linguagem da língua portuguesa, que servem para enriquecer a análise de textos e discursos, aqui, enfocados os aspectos literário e jurídico.
Texto enviado ao JurisWay em 20/03/2010.
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Embora alguns autores defendam que todas as figuras de linguagem possam ser resumidas na meta figura metáfora, a riqueza de nosso idioma autoriza que busquemos, nessa unidade, a variedade. De forma um pouco mais estrita, estas são figuras de palavra, também conhecidas como figuras semânticas ou tropos e ainda, figuras de pensamento, que não devem ser confundidas com as figuras de construção ou figuras sintáticas. [1] Assim, este texto traz um estudo inicial e resumido sobre figuras de linguagem. Ele é bastante conciso e com uns poucos exemplos, com o objetivo apenas de enunciar algumas das figuras de linguagem mais utilizadas nos idiomas latinos [2].
Esta exposição também se utiliza do método de agrupar, o que possivelmente ajudará alguns a melhor entender e, outros, a apreender (fixar) este conjunto de palavras um tanto “raras” de modo geral. São quatro os grupos.
O primeiro grupamento consta de figuras que podem ser entendidas como aplicáveis a idéias expressas por palavras isoladas ou frases e orações (metáfora, ironia, etc.). O segundo grupo consta designações para alguns textos (fábulas, parábolas, etc.). O terceiro grupo denomina alguns procedimentos que ocorrem dentro do discurso. O quarto grupo engloba algumas outras figuras esparsas.
Para enriquecer o aprendizado e a prática, sugere-se que o estudante do direito acrescente exemplos do mundo do direito bem como faça relações e interações com os principais brocardos e lugares comuns (topos) mais corriqueiros entre os usuários da linguagem jurídica.
Grupo 1: Das palavras, termos, orações e frases
1.1. Metáfora
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra deriva do latim metaphòra (metáfora), por sua vez trazido do grego metaphorá ("mudança, transposição"). O prefixo met(a)- tem sentido de "no meio de, entre; atrás, em seguida, depois". O sufixo -fora (em grego phorá) designa 'ação de levar, de carregar à frente'. Metáfora é o emprego da palavra, fora do seu sentido normal, ou seja, num sentido figurado. É “a figura de linguagem” no sentido mais amplo.
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro.
Exemplos:
Eu sou um poço de dor e estupidez.
1.2. Sinédoque
É o tropo que se funda na relação de compreensão e faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa.
Exemplos:
O horizonte do leste.
Os Joões de Barros.
Os Nabucos.
Os Machados.
1.3. Metonímia
É a figura de linguagem que consiste na substituição de uma palavra por outra em razão de haver entre elas uma relação de interdependência, de contigüidade, de proximidade. Emprega-se esta figura quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo entre outros, como segue.
Exemplos de uso:
Efeito pela causa:
Sócrates tomou as mortes. (O efeito é a morte, a causa é o veneno).
Por favor, não fume dentro de casa: sou alérgica a cigarro. (O cigarro é a causa: a fumaça, o efeito. Podemos ser alérgicos a fumaça, mas não ao cigarro).
O meu irmãozinho adora danone. (Danone é a marca de um iogurte; o menino gosta de iogurte)
Lemos Machado de Assis por interesse. (Ninguém, na verdade, lê o autor, mas as obras dele em geral.)
Bebeu o cálice da salvação. (Ninguém engole um cálice, mas sim a bebida que está nele.)
Ir ao barbeiro. (O barbeiro trabalha na barbearia, aonde se vai - de fato, ninguém vai a uma pessoa, mas ao local onde ela está).
Quem por ferro fere... (ferro substitui, aqui, espada,por exemplo)
Uma garrafa de Porto. (Porto é o nome da cidade conotada com a bebida - mas não é a cidade que fica na garrafa, mas sim a bebida).
A juventude é corajosa e nem sempre conseqüente. ( juventude pela palavra jovens).
És a minha âncora. (em substituição de "segurança").
A mão empurrou o carrinho do bebê. (na verdade quem empurra o carrinho é a pessoa e não só a mão).
A igreja publicou seu novo livro (quem publica é uma editora ou alguém)
O engenheiro construiu mal o edifício (o engenheiro não constrói só planeja)
Ele comprou um Ford (observe que estamos falando do criador não da marca)
A velhice deve ser respeitada (não é a velhice e sim os velhos)
Os mortais são capazes de tudo
O brasileiro é um apaixonado pelo futebol (não é só um brasileiro e sim todos eles)
Tinem os cristais (não estamos nos referindo aos cristais e sim aos copos)
Ele cuida com carinho da redonda
Odiava ser o judas da sala
1.4. Prosopopéia ou personificação
Também conhecida como prosopéia ou personificação. Usa-se esta figura quando se personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes os feitos e ações e sentimentos de seres humanos, pessoas.
Exemplos:
"O Gato disse ao Pássaro que tinha uma asa partida."
"O Vento suspirou e o Sol também."
"A Cadeira começou a gritar com a Mesa."
"O Sol amanheceu triste e escondido."
"A Bomba atômica é triste, Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade" (Vinícius de Morais)
" A lua beijava a face do lago adormecido "
"O fogo dançava com a chuva"
1.5. Ironia
A ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de gozar com alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor.
Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição. O termo Ironia Socrática, levantado por Aristóteles, refere-se ao método socrático. Neste caso, não se trata de ironia no sentido moderno da palavra.
A maior parte das teorias de retórica distingue três tipos de ironia: oral, dramática e de situação.
A ironia oral é a disparidade entre a expressão e a intenção: quando um locutor diz uma coisa, mas pretende expressar outra, ou então quando um significado literal é contrário para atingir o efeito desejado.
A ironia dramática (ou sátira) é a disparidade entre a expressão e a compreensão/cognição: quando uma palavra ou uma ação põe uma questão em jogo e a platéia entende o significado da situação, mas a personagem não.
A ironia de situação é a disparidade existente entre a intenção e o resultado: quando o resultado de uma ação é contrário ao desejo ou efeito esperado. Da mesma maneira, a ironia infinita (cosmic irony) é a disparidade entre o desejo humano e as duras realidades do mundo externo. Certas doutrinas afirmam que a ironia de situação e a ironia infinita, não são ironias de todo
Exemplos:
1.6. Hipérbole
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor do que em realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. Também conhecida como auxese incide quando há demasia propositada num conceito expressa, de modo a definir de forma dramática aquilo que se ambiciona vocabular, transmitindo uma idéia aumentada do autêntico.
Alguns exemplos de expressões que contém hipérboles, colhidos da literatura:
1.7. Antífrase
A antífrase é uma figura de linguagem, facilmente confundida com as figuras da ironia, sarcasmo, eufemismo e sátira, e consiste na utilização de uma palavra com o sentido contrário àquele que tem normalmente. Camões refere este recurso estilístico de forma explícita na sua Canção IX: "Junto a um seco, fero e estéril monte, (...) Cujo nome do vulgo introduzido, / É Felix, por antífrase infelice." O seu uso pode justificar-se como forma de atenuação de uma idéia negativa, como quando se chamavam de Euménides ("benévolas") às Fúrias, na Grécia Antiga; ou quando D. João II decidiu renomear o Cabo das Tormentas como Cabo da Boa Esperança. Pode-se considerar, por vezes, a antífrase como um eufemismo levado ao extremo - quando o sentido original das palavras é invertido.
1.8. Antítese
Antítese é uma figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de idéias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o paradoxo. Várias antíteses podem ser feitas através de Amor e Ódio, Sol e Chuva, Paraíso e Inferno, Deus e Diabo.
A antítese é a figura mais utilizada no Barroco, estilo de época conhecido como arte do conflito, em que também há presença de paradoxos, por apresentar oposições nas idéias expressas.
Ressalte-se, porem, que a antítese é também um dos três elementos da dialética hegeliana: tese, antítese e síntese. Não se deve confundi-la com a figura de linguagem.
Exemplos:
1.9. Antonomásia ou perífrase
Em termos gerais, antonomásia ou perífrase designa qualquer sintagma ou expressão idiomática expressão mais desenvolvida (e mais ou menos óbvia ou direta) que substitui outra.
O termo é mais utilizado para identificar uma figura de linguagem ou figura de estilo retórico que também substitui uma expressão curta e direta por outra mais extensa e carregada de maior ou menor simbolismo, estando, neste caso, intimamente relacionada com a antonomásia.
Consiste, portanto, em especificar determinadas características, mais ou menos objetivas, do objeto que se quer nomear indiretamente. O seu uso pode justificar-se por diversas razões, como a não repetição da mesma palavra em frases próximas ou na mesma frase; para engrandecer o assunto tratado (neste caso, ligada à hipérbole) ou, pelo contrário, para lhe não darmos demasiado importância ("uma pessoa menos favorecida pela beleza" por "pessoa feia" e, neste caso, ligada ao eufemismo). Paulo Coelho é um dos grandes representantes do uso deste recurso estilístico.
É uma variante da metonímia, ou seja, uma substituição de um nome por outro que com ele tenha afinidades semânticas. Esta substituição resulta comumente do patrimônio pessoal ou da profissão do indivíduo em causa, conhecidos que devem ser, ou pelo menos, facilmente deduzíveis, pelo receptor de modo a que uma substituição seja compreendida e provoque o efeito desejado. Bastante utilizadas em literatura, A maioria das antonomásias são espontâneas, sendo exceções através de associações baseadas na atualidade. A sua utilização poderá ter três motivos; embelezar o texto, reforçar definições, ou evitar uma repetição.
As mais vulgarizadas ou conhecidas tornam-se quase míticas ao definirem uma característica ou atributo num indivíduo. Uma comparação: a Bondade na Madre Teresa ou na Abnegação em São Francisco de Assis são bons exemplos, entre outros a seguir:
"a última flor do Lácio", termo empregado por Olavo Bilac emprega este recurso estilístico para referir-se à Língua portuguesa.
"O país do futebol acredita em seus filhos." (a expressão país do futebol expressa o termo Brasil)
"A dama do teatro brasileiro foi indicada para o Oscar." (a dama do teatro brasileiro expressa o termo Fernanda Montenegro)
"O autor de Quincas Borba é conhecido como o Bruxo do Cosme Velho." (o Bruxo do Cosme Velho representa Machado de Assis)
"Portadores do mal-de-lázaro são brutalmente discriminados por quase todo mundo." (o mal-de-lázaro representa Lepra)
Outros Exemplos:
* O Filho de Deus (Jesus Cristo) * O Rei da guitarra (Jimi Hendrix) * O Rei Lagarto (Jim Morrison) * A diversão da Cidade (Los Angeles) * O gênio folk (Bob Dylan) * A rainha do pop (Madonna) * O baterista (Neil Peart) * A voz (Frank Sinatra) * A perfeição (The Beatles) * O Rei do Rock (Elvis Presley) * A bateria monstruosa (John Bonham) * O teclado preciso (Ray Manzarek) * O Rei do Futebol (Pelé) * O Rei (Roberto Carlos) * A Rainha dos baixinhos (Xuxa) * O rei do pop (Michael Jackson)
1.10. Catacrese
Catacrese é a figura de linguagem que consiste na utilização de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão o que se quer expressar, mas é adotada por não haver uma outra palavra apropriada - ou a palavra apropriada não ser de uso comum; são como gírias do dia-a-dia, expressões usadas para facilitar a comunicação. Estabelecem comparação às situações em que são atribuídas, qualidades de seres vivos, a seres inanimados. Exemplos comuns são: "os pés da mesa", "marmelada de laranja", "vinagre de maçã", "embarcar no avião", "cabeça do alfinete", "braço de rio", "dente de alho" etc. Consiste assim em uma metáfora de uso comum, deixando de ser considerada como tal. Consiste também em dar à palavra uma significação que ela não tem, por falta de termo próprio.
Catacrese ainda é o emprego de palavras fora do seu significado real; entanto, devido ao uso contínuo, não mais percebe que estão sendo empregadas no sentido figurado:
O pé de mesa estava quebrado.
Não deixe de colocar dois dentes de alho na comida.
Quando embarquei no avião, fui dominado pelo o medo.
A cabeça do prego está torta.
1.11. Disfemismo
O disfemismo (ou cacofemismo) é uma figura de estilo (figura de linguagem) que consiste em empregar deliberadamente termos ou expressões depreciativas, sarcásticas ou chulas para fazer referência a um determinado tema, coisa ou pessoa, opondo-se assim, ao eufemismo. Expressões disfêmicas são freqüentemente usadas para criar situações de humor.
São exemplos de disfemismo:
1.12. Eufemismo
Eufemismo é uma figura de estilo que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão. Consiste na visualização de uma expressão.
É necessário ressaltar que em uma série de materiais didáticos há exemplos inadequados de eufemismo, pois, de fato, são, como vimos, disfemismos ou cacofemismos, principalmente no que se refere à morte: "Ir para a terra dos pés juntos", "Comer capim pela raiz" e "Vestir o paletó de madeira" são comuns nesses livros.
Expressões populares têm um caráter cômico, o que pode atender em parte a intenção do eufemismo. Entretanto, seu uso em situações de grande impacto, como a morte, beira o grotesco e a função dessa figura de linguagem (suavizar) se perde. Um exemplo mais adequado é dizer que o indivíduo "partiu", ou que "deixou esse mundo".
Exemplos:
"Ele vivia de caridade pública" (ao invés de "esmolas") (Machado de Assis)
Enriqueceu por meios ilícitos. (Em vez de: ele roubou)
Querida, ao pé do leito derradeiro (Em vez de: túmulo)
1.13. Hipálage
A hipálage é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos. Uma das formas mais freqüentes consiste na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro. É um dos recursos estilísticos mais freqüentes na obra de Paulo Coelho e Eça de Queirós (como em "Fumar um pensativo cigarro." - claro que quem está pensativo é o fumante, subentendido na frase). É freqüente, nesta figura de estilo, que os adjetivos não se apresentem associados aos nomes a que estão ligados gramaticalmente, mas a outros, subentendidos conforme o contexto. Esta figura está intimamente ligada à alusão, à metonímia e à sinestesia e foi abundantemente utilizada no Classicismo, no Renascimento, no Barroco, mas também em movimentos historicamente mais recentes (o "Realismo" de Eça de Queirós comprova-o, bem como diversos poemas de representantes do Simbolismo). Usa-se frequentemente em textos de apreciação crítica.
Outros exemplo:
A vaca sonolenta me dava belos sonhos
Rasguei uma raivosa folha
Calçar as luvas nas mãos (em vez de calçar as mãos nas luvas)
1.14. Hipérbato ou inversão
Hipérbato (do grego hyperbaton, que ultrapassa) também conhecido como inversão, é uma figura de linguagem que consiste na troca da ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo, complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes.
São exemplos:
1.15. Litotes
Lítotes consiste numa frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação. É o oposto da hipérbole.
É uma figura de linguagem em que uma suavização é feita pela negação do contrário. Para que não se diga, por exemplo, que determinado indivíduo é burro, diz-se que é pouco inteligente, ou simplesmente que não é inteligente. Esse caso, que contém forte dose de ironia, chama-se "litotes". É bom que se diga que com a litotes a expressão não necessariamente se suaviza. Para que se diga que uma pessoa é inteligente, pode-se dizer que não é burra: "Seu primo não é nada burro". Segundo o dicionário Aurélio a litotes é "modo de afirmação por meio da negação do contrário".
Exemplos:
1.16. Metalepse
Metalepse é uma figura de linguagem em que se toma o antecedente pelo conseqüente e vice-versa.
Pode também ser expressa por meio de 'coisa significada' ou por um sinal.
Exemplos:
1.17. Onomatopéia
Onomatopéia é uma figura de linguagem na qual se imita um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o timbre da voz humana fazem parte do universo das onomatopéias. Por exemplo, para os índios tupis tak e tatak significam dar estalo ou bater e tek é o som de algo quebrando. As onomatopéias, em geral, são de entendimento universal. Geralmente, as onomatopéias são usadas em histórias em quadrinhos.
Exemplos:
Zzz! – zumbido ou alguem dormindo
1.18. Sinestesia
Sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o olfato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica. Não confundir com Cinestesia, a percepção do movimento.
Sinestesia é uma figura de estilo ou semântica que relaciona planos sensoriais diferentes. Tal como a metáfora ou a comparação por símile, são relacionadas entidades de universos distintos.
Exemplos de sinestesias:
1.19. Oximoro
Oxímoro ou oximoro (do grego ὀξύμωρον, composto de ὀξύς "agudo, aguçado" e μωρός "estúpido") é uma figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando assim um terceiro conceito que dependerá da interpretação do leitor.
Dado que o sentido literal de um oximoro (por exemplo, um instante eterno) é absurdo, força-se ao leitor a procurar um sentido metafórico (neste caso: um instante que, pela intensidade do vivido durante o mesmo, faz perder o sentido do tempo). O recurso a esta figura retórica é muito freqüente na poesia mística e na poesia amorosa, por considerar-se que a experiência de Deus ou do amor transcende todas as antinomias mundanas.
O contrário de oximoro é pleonasmo.
Exemplos:
Inocente culpa
lúcida loucura
silêncio eloqüente
gelo fervente
tácito tumulto
ilustre desconhecido
1.20. Apóstrofe
Não confundir com o sinal gráfico – apóstrofo. A apóstrofe se assemelha muito à personificação ou prosopopéia. A palavra apóstrofe procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e strepho, que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária. A Enciclopédia Brasileira Mérito nos proporciona a seguinte definição: "Figura usada por orador, no discurso; consiste em interrompê-lo subitamente, para dirigir a palavra, ou invocar alguma pessoa ou coisa, presente, ausente, real ou imaginária. O emprego desta figura, na eloqüência, produz grandes efeitos sobre as paixões que o orador procura transmitir aos ouvintes."
Apóstrofe é uma figura de estilo caracterizada pela evocação de determinadas entidades, consoante o objetivo do discurso, que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor, imaginário ou não, da mensagem. Nas orações religiosas é muito freqüente ("Pai Nosso, que estais no céu", "Ave Maria" ou mesmo "Ó meu querido Santo António" são exemplos de apóstrofes). Em síntese, é a colocação de um vocativo numa oração. Ex.:"Ó Leonor, não caias!". É uma característica do discurso direto, pois no discurso indireto toma a posição de complemento indireto: "Ele disse a Leonor que não caísse"
No discurso político é também muito utilizado ("Povo de Sucupira!!!"), já que cria a impressão, entre o público, de que o orador está a dirigir-se diretamente a si, o que aumenta a receptividade. Um professor ao dizer "Meninos!" está também a utilizar a apóstrofe. A apóstrofe é também utilizada frequentemente, tanto na poesia épica quanto na poesia lírica. No primeiro caso, podemos citar Luís de Camões ("E vós, Tágides minhas..."); na poesia lírica podemos citar Bocage ("Olha, Marília, as flautas dos pastores...")... Existe, graças a esta figura de estilo, uma aproximação entre o emissor e o receptor da mensagem, mesmo que o receptor não se identifique com o receptor ideal explicitado pela mensagem.
Comparando com a análise sintática, a apóstrofe substitui o vocativo.
Grupo 2: Designações de textos
2.1. Alegoria
Uma alegoria (do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público") é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com freqüência, encontra-se na pintura, escultura ou noutras formas de linguagem. Embora opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai além da simples comparação da metáfora. A fábula e a parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado.
Geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes. Costuma ser tão palpável a natureza figurativa da alegoria, que uma interpretação ao pé da letra quase que se faz impossível. Às vezes a alegoria está acompanhada, como a parábola, da interpretação que exige.
A alegoria tem sido uma forma favorita na literatura de praticamente todas as nações. As escrituras dos hebreus apresentam instâncias freqüentes dela, uma das mais belas é a comparação da história de Israel ao crescimento de uma vinha no Salmo 80. Na tradição rabínica, leituras alegóricas são aplicadas em todos os textos, uma tradição que foi herdada pelos cristãos, para os quais as semelhanças alegóricas são a base da exegese.
Na literatura clássica duas das alegorias mais conhecidas são: o mito da caverna na República de Platão (Livro VII) e a história do estômago e seus membros no discurso de Menenius Agrippa (Tito Lívio ii. 32); e várias ocorrem nas Metamorfoses de Ovídio.
2.2 Fábula
A fábula é uma alegoria histórica, na qual um fato ou alguma circunstância se expõe em forma de narração mediante a personificação de coisas ou de animais.
São famosas as Fábulas de Esopo e as Fábulas de La Fontainne, no Brasil as Fábulas de Monteiro Lobato.
2.3. Enigma
O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa. É uma questão proposta em termos obscuros, ambíguos, para ser interpretada ou adivinhada por alguém.
Um enigma clássico é o enigma da Esfinge decifrado por Édipo: “Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e ao entardecer três”?
Na narrativa bíblica há, por exemplo, o enigma de Sansão (Juízes 14:12-20).
2.4. Tipo
O tipo é uma classe de metáfora que não consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas ou objetos no presente ou no porvir.
Na literatura bíblica, permeada de profecias e escatologias, várias pessoas foram tipos de personagens sagrados: Adão foi um tipo de Cristo (Adão representa o novo início da existência humana na carne, Cristo representa o novo começo no Espírito); Moisés (o libertador) foi um tipo, inclusive profético, do Messias que haveria de vir (o salvador); Eva foi um tipo de Maria (mãe de Jesus) para os cristãos, pois de Eva viria o “descendente” que esmagaria o inimigo de Deus (Gênesis 3:15 c/c Romanos 16:20) e de Maria nasceu Jesus, o Messias. Não se questiona aqui a veracidade dos fatos, para alguns, inconteste, mas a relação tipológica relevante para a retórica.
2.5. Símbolo
O símbolo é uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação.
A nação norte-americana, os Estados Unidos da América, adotou a águia como seu símbolo, por exemplo. As nações em geral, também adotam símbolos como bandeiras, escudos, selos, etc.
Grupo 3: Procedimentos discursivos
3.1. Comparação e Símile
A figura de retórica denominada símile procede da palavra latina "similis" que significa semelhante ou parecido a outro. A palavra é definida da seguinte maneira pela Enciclopédia Brasileira Mérito: "Semelhante. Analogia; qualidade do que é semelhante; comparação de coisas semelhantes." É um tipo de comparação.
É usada para comparar dois elementos que não pertencem à mesma categoria (dependendo, claro, do contexto).
Algumas vezes é chamada, por simplicidade — e quando não há possibilidade de confusão ideológica — de símile, tão-só. Entretanto, trata-se apenas de uso em forma reduzida por sinonímia, não se referindo propriamente a uma nova, distinta, figura de linguagem.
Exemplos:
Ver minh'alma adejar pelo infinito
Qual branca vela n'amplidão dos mares
É que teu riso penetra n'alma
Como a harmonia de uma orquestra santa
— Castro Alves
A via-láctea se desenrolava
Como um jorro de lágrimas ardentes
De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sino
numa sala negativa.
Bateram-lhe como nunca tinham visto.
você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana
O funeral dele foi como um casamento.
3.2. Interrogação
A palavra interrogação procede de um vocábulo latino que significa pergunta. Mas nem todas as perguntas são figuras de retórica. Somente quando a pergunta encerra uma conclusão evidente é que é uma figura literária. A Enciclopédia Brasileira Mérito define a interrogação da seguinte maneira: "Figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor, ou adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai responder”.
3.3. Clímax ou Gradação
A palavra clímax ou gradação procede do latim climax e esta do grego klimax que significa escala, no sentido figurado da palavra. A Enciclopédia Brasileira Mérito nos proporciona a seguinte definição da palavra gradação: "Concatenação dos elementos de um período de modo a fazer com que cada um comece com a última palavra do anterior; amplificação, apresentação de uma série de idéias em progressão ascendente ou descendente. Também se diz clímax”. O essencial é que exista avanço ou progresso na oração, parágrafo, tema, livro ou discurso.
Gradação é uma figura de estilo, relacionada com a enumeração, onde são expostas determinadas idéias de forma crescente (em direção a um clímax) ou decrescente (anticlímax).
Exemplos:
Tudo começou no meu quarto, onde concebi as idéias que me levariam a dominar o bairro, a cidade, o país, o mundo... E a desejar o próprio Universo...
Meu caro, para mim, você é um simples roedor. Que digo? Um verme... Menos que isso! Uma bactéria! Um vírus!...
"O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário." (Olavo Bilac)
Mas muitas vezes a gradação pode acontecer desta forma : no começo do texto se põe uma coisa e no final termina a freqüência.
"Um coração chegando de desejos
Latejando, batendo, restrugindo..." (Vicente de Carvalho)
"Ó não guardes, que a madura idade
te converta essa flor, essa beleza,
em terra, em cinzas, em pó, em sombra, em nada”. (Gregório de Matos)
Grupo 4:
4.1. Provérbio
Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que quer dizer palavra. Trata-se de um dito comum ou adágio. O provérbio tem sido definido como uma afirmação extraordinária e paradoxal.
4.2. Acróstico
A palavra acróstico procede dos vocábulos gregos que significam extremidade ou verso. Para entender esta figura é melhor apresentar um exemplo. Um dos símbolos favoritos e secretos da fé cristã e que foi imutável sob o fogo da perseguição foi o desenho de um peixe. A palavra grega equivalente a peixe era ichthus (ιχθυς). O alfabeto grego consta de caracteres que nós representamos mediante duas letras. Desta maneira th e ch são letras simples no alfabeto grego. Ao recordar este fato, o peixe simbólico era lido da seguinte maneira:
I Iesous Jesus
Ch(X) Christos Cristo
Th(Θ) Theou (de)Deus
U ‘Uios Filho
S Soter Salvador
4.3. Paradoxo
Denomina-se paradoxo a uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a uma afirmação contrária a todas as aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou em contraposição ao sentido comum, porém que, se estudada detidamente, ou meditando nela, torna-se correta e bem fundamentada. A palavra procede do grego e chega a nós por intermédio do latim. Está formada de dois vocábulos, para, que significa contra e doxa, opinião ou crença. Soa ao ouvido como algo incrível, ou impossível, se não absurdo.
Relacionado com a antítese, o paradoxo é uma figura de pensamento que consiste quando a conotação extrapola o senso comum, ou seja, a lógica. As expressões assim formuladas tornam-se proposições falsas, à luz do senso comum, mas que podem encerrar verdades do ponto de vista psicológico/poético. (Simplificando, é uma afirmação ou opinião que à primeira vista parece ser contraditória, mas na realidade expressa uma verdade possível). Em língua portuguesa, o paradoxo mais citado talvez seja o célebre soneto de Luís de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;”
É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor”?
A diferença existencial entre antítese e paradoxo, é que antítese toma nota de comparação por contraste ou justaposição de contrários, já o paradoxo reconhece-se como relação interna de contrários:
Fernando Pessoa escreveu: "Se você tentou falhar e conseguiu, você descobriu o que é paradoxo."
Como dito inicialmente, esta “lista” não esgota a grande variedade de possíveis figuras de linguagem que existe na literatura, na poética e no idioma coloquial, apenas serve como base para uma observação genérica de retórica material para quem deseja iniciar uma análise de um texto, da idéia de um autor ou outra manifestação da linguagem. Por fim, não é preciso lembrar aos estudiosos da retórica, que o ornamento, como espécie que é desta, consiste apenas de parte deste todo metódico que é a retórica.
Notas:
[1] São figuras sintáticas ou figuras de construção: Aliteração, Anacoluto, Anadiplose, Anáfora, Analepse, Assíndeto, Assonância, Circunlóquio, Clímax, Diácope, Elipse, Epísexotrofe, Epizêuxis, Inversão ou Hipérbato, Paranomásia, Pleonasmo, Polissíndeto, Prolepse, Sínquise, Silepse, Zeugma, Zoomorfização ou Animalização.
[2] Compilação feita por José Lourenço Torres Neto em novembro de 2009 com base em aulas de Hermenêutica bíblica, Retórica e Filosofia do Direito, o novo Dicionário Aurélio e a Wikipédia, com adaptações para a esfera jurídica.
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