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O PAPEL DO DIRETOR ESCOLAR DIANTE DO DISCURSO DA GESTÃO PELA QUALIDADE TOTAL NA EDUCAÇÃO


Autoria:

Walquimar Borges


Walquimar V.B.Borges, é pedagogo, professor de filosofia e bacharel em direito. tem pós graduação em educação( gestão e coordenação pedagógica) e filosofia( em Kant) e mestrado em gestão publica.

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Resumo:

O presente artigo pretende discorrer sobre o papel do diretor escolar, mediante o contexto globalizado que enseja a qualidade total. Aborda inicialmente, como gestão pela qualidade total adentrou à educação brasileira.

Texto enviado ao JurisWay em 11/12/2016.



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O PAPEL DO DIRETOR ESCOLAR DIANTE DO DISCURSO DA GESTÃO PELA QUALIDADE TOTAL NA EDUCAÇÃO

Walquimar Vilaça Batista Borges1

 

RESUMO:

 

O presente artigo pretende discorrer sobre o papel do diretor escolar, mediante o contexto globalizado que enseja a qualidade total. Aborda inicialmente, como gestão pela qualidade total adentrou à educação brasileira. Em seguida investiga como a teoria administrativa manifesta-se como instrumento de heteronomia. Por fim discorre sobre as diferenças ético-político-pedagógica entre o diretor-gestor e o diretor-administrador.

 

Palavras chave: educação, diretor, semiformação, heteronomia, qualidade total.

 

INTRODUÇÃO

 

Adentrarmos ao que se toma como “Qualidade Total” na educação, é percorrer inexoravelmente, um caminho ideológico, sobretudo a ideologia neoliberal.

Discorreremos neste percurso contextualizado por essa dimensão neoliberal enfocando a figura do diretor escolar, sob duas visões: a do diretor-gestor e a do diretor-administrador.

Como diretor-gestor, tomamos o diretor oriundo de um discurso globalizado, no qual a educação está enquadrada à Gestão pela Qualidade Total (GQT)

Como diretor-administrador, tomamos o diretor, que não tem a sua subjetividade afetada pela globalização, sendo, portanto, o servidor público docente (ou administrativo, se pedagogo) que com o cargo de confiança, utiliza o “espaço de democratização”, onde deve potencializar os recursos humanos e pedagógicos, fomentando no âmbito escolar uma práxis transformadora.

Portanto, discorreremos sobre o papel do diretor quanto à função de gestor e a de administrador, que delinearemos como papéis políticos  diferenciador por ideários.

O papel do diretor escolar será discutido sob a luz da teoria crítica de Theodor Adorno, supondo-se que a educação globalizada conduz à heteronomia.

 

CONTEXTO DA QUALIDADE TOTAL NA EDUCAÇÃO

 

É fato que os primeiros sistemas escolares que surgiram na história do ocidente, tem pouco a ver com a economia, respondendo a fins políticos, religiosos ou militares.

A idéia de associar gestão de dinheiro à de recursos humanos foi introduzido através de reformadores, entre ele Spuulding, Bobbit e Cobbrerly. Tomando como fundamento as idéias de F. W. Taylor que propunha para a indústria um sistema de organização baseado no controle absoluto de produtos e processos de produção. Com efeito, os gerentes traduziam para os trabalhadores a padronização e rotinização do máximo de suas tarefas.

Nesta abordagem os especialistas devem estudar todas as faces do processo educacional, as necessidades da sociedade, da indústria, do estado, do produto.

Na década de 1990, retoma-se a tentativa de transposição das regras do setor produtivo para o campo educacional, dando ênfase na lógica empresarial, sob as dimensões da análise e questões de gestão escolar.

Emerge o movimento da GQT que busca em sua teoria associar as relações humanas à produtividade.

A Gestão pela Qualidade Total, também é denominada de Total Quality Control (TQC) ou Total/Quality Managem (TQM) ou Gerência pela Qualidade Total (GQT). É um sistema desenvolvido e aplicado inicialmente no Japão, a partir dos anos 50 e apresentado e praticado no Brasil principalmente através da fundação Cristiano Ottoni, de Minas Gerais. (p.15.1997).

No prefácio da obra “A Qualidade na Educação Tecnológica” destaca-se a Gerência pela Qualidade Total (GQT) como aquele sistema gerencial que melhor integra o ser humano ao processo produtivo, valorizando e priorizando o elemento nas organizações” (p.11.1997)

A GQT, foi introduzida no Brasil, de forma sistemática pela Fundação Cristiano Ottoni (FCO), oriunda do seio da escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Estranho paradoxo, a educação projetada sob a ótica da engenharia.

O propósito da Qualidade Total visava ajudar as indústrias a enfrentarem a crise nacional e competitividade internacional.

No âmbito educacional, a GQT fomenta a transposição da visão empresarial para as escolas, evidenciando a desobrigação do poder público para a educação. Em síntese o movimento GQT é um projeto educacional construído de acordo com o cenário de hegemonia neoliberal em que a política educacional vem sendo regulada por forças do mercado.

Efetivamente, passa-se a utilizar termos tais como gerentes, clientes, gestores, missões, valores, metas, etc.

Neste contexto, a escola passa a ser entendida como uma empresa, os professores, alunos dirigentes transformam-se em trabalhadores que precisam se esforçar ao máximo para conseguir a excelência.

A proposta da Gestão pela qualidade Total trata a educação sob o aspecto tecnológico e contrapõem-se as fundações verdadeiramente humanistas.

Sob esta concepção de educação, segundo Alcimar Oliveira (200, p.63) “ o professor foi reduzido à condição de vendedor de símbolos culturais e os alunos submetidos aos princípios da inércia – à de consumidores inapetentes”.

O diretor por sua vez, nos diz Martha S. Luucchisi (1994), “acredita possuir o gerenciamento da verdade educacional ou, pelo menos, isto é atribuído. Traz impregnada em si a função controladora, a ponto de considerar o principal executor das leis dentro da instituição escolar”.

A educação, nesta perspectiva, está engendrada a um novo paradigma produtivo, que acompanha o processo de internacionalização da economia. Uma nova economia da educação em boa parte é sustentada por inovações tecnológicas, por difusões de informação, supondo bases mínimas de escolarização, que o mercado precisa para fazer frente às novas necessidades de qualificação e requalificação profissional.

O novo paradigma produtivo, que a qualidade total, representa tem as novas tecnologias como ponto “sine qua non”.

Quanto a isto, Libâneo, nos diz:

 

É verdade que as novas tecnologias e as novas formas organizacionais do trabalho estão relacionadas com necessidades de melhor qualificação profissional. Entretanto, não há evidências em nosso país, de que o segmento empresarial e o governo estejam se engajando em novos tipos de estratégias formativas. É ilusório, portanto crer que a idéia da educação como fator central do novo paradigma produtivo e do desenvolvimento econômico tenha um sentido democratizante”. (2003. p.18)

 

 

Mais adiante acrescenta “no plano educacional, a educação deixa de ser um direito e transforma em serviço, em mercadoria, ao mesmo tempo em que se acentua o dualismo educacional diferente qualidades de educação para ricos e pobres” (2003. p.18)

Tem-se, portanto, feito até o movimento um trajeto do discurso da GQT e sua contextualização em relação à educação, ao diretor e à sociedade.

 

GESTÃO PELA QUALIDADE TOTAL

 

A GQT é uma teoria administrativa que visa através do sistema gerencial integral o ser humano ao processo produtivo, priorizando o elemento humano nas organizações.

Na educação, a GQT “tem como missão preparar os seus alunos para atender às demandas do mundo do trabalho e as atuais exigências do exercício da cidadania (...) visando à equalização das linguagens entre os setores produtivos, o mercado e as organizações educacionais” (p. 11; 1997)

Percebe-se que a GQT é uma teoria administrativa que vem ocupar as lacunas do modelo Taylorismo – Fordismo, com novas metodologias administrativas e gerenciais. Por conseguinte a GQT é uma teoria administrativa do capitalismo em sua concepção neoliberal, oriundo de uma economia globalizada.

Neste contexto de globalização, o motor da nova revolução é a tecnologia, o aperfeiçoamento dos transportes e das comunicações. “A escola, por conseguinte torna-se o “lócus” da sociedade do conhecimento”, no qual irá precisar de gerenciamento para proporcionar as respostas aos seus “clientes”.

 

PLENITUDE E HARMONIA

 

A GQT está inserida na teoria do capital humano, pois “representa a forma pela qual a visão burguesa reduz a prática educacional a um fator de produção, a uma questão técnica” (FRIGOTO, 1998, p.18)

Analisando material denominado “Primeiros Passos para a Gestão Escolar”, produzido pela Fundação Cristiane Ottoni, nos deparamos com a obra “Educação para Plenitude e Harmonia”, discorremos sobre a referida obra por encontrarmos nela posicionamento ideológico, da GQT, que relaciona educação à produtividade com fundamentação fortemente carregada de “Psicologismo” e de Cristianismo, dessa forma tornando os sujeitos passivos para uma boa recepção dos “Novos Paradigmas”.

Inicialmente, a autora discorre sobre a necessidade de uma educação holística, isto é, uma educação em sua totalidade, porém a totalidade da GQT é inexorável para alcançar a plenitude.

Percebe-se que tal visão holística não toma o sujeito como ser histórico-social, tendo em vista que a totalidade resume-se a aspecto metafísicos, tornando um ser reducionista intrínseco ao processo psicológico.

Também é percebido que há na teoria GQT uma forte influência do psicólogo Abraham  Maslow e sobre o mesmo, podemos dizer que, durante toda a sua carreira como psicólogo, interessou-se pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoal e pelo uso da psicologia como instrumento de promoção do bem estar social e psicológico instituiu uma teoria da personalidade que deveria incluir não somente as profundezas mais também os pontos altos que cada indivíduo é capaz de atingir.

Em sua teoria Maslow discorre sobre a auto-atualização como ponto de equilíbrio psicológico. Relaciona as seguintes características de pessoas auto-realizadores:

  1. “percepção mais eficiente da realidade e relações mais satisfatórias com ela”
  2. “aceitação de si, dos outros, da natureza”
  3. “espontaneidade, simplicidade, naturalidade”
  4. “concentração no problema, em oposição ao estar centrado no ego”
  5. “a qualidade do desprendimento, a necessidade de privacidade”
  6. “autonomia; independência em relação à cultura e ao meio ambiente”
  7. “pureza permanente de apreciação”
  8. “experiências místicas e culminantes”
  9. “gemeinschaftsgefuhl (o sentimento de parentesco com outros)”
  10. “ relações interpessoais mais profundas e intensas”
  11. “a estrutura de caráter democrático”
  12. “discriminação entre os meios e os fins, entre o bem e o mal”
  13. “sendo de humor filosófico e não hostil”
  14. “criatividade auto-atualizadora”
  15. “resistência à aculturação: a transcendência de qualquer cultura específica”

Percebe-se que a teoria psicológica de Maslow enfoca a individualidade do ser em detrimento ao social. Com efeito, o referido psicólogo estende ao indivíduo as seguintes necessidades básicas: a necessidade de segurança, garantida a estabilidade; a necessidade de amor e um sentido de pertinência e a necessidade de crescimento: uma necessidade de desenvolver seus potenciais e capacidades e uma necessidade de auto-atualização.

A metafísica do GQT, é baseada em Maslow e na visão cristã, com efeito, os conceitos de liberdade, verdade, paz, fé, sabedoria, justiça, bondade, alegria, humor, amar e tantos outros são utilizados com uma carga de psicologia do tipo auto atualização e com o auxílio da religiosidade cristã.

Aqui retomamos ao fato que a obra a que estamos nos referindo é direcionada a “gestores” e que a GQT é uma teoria administrativa, por tanto a psicologia e o cristianismo intrínsecos ideologicamente, parecem ser uma sobrecarga que visa apaziguar o indivíduo, tornando passivo e receptivo.

Vejamos o que no diz a obra sobre o equilíbrio

 

Pessoalmente cremos na eternidade e plenitude de vida por meio de Jesus Cristo, reconhecendo-o como a maior experiência libertadora, transformadora e motivadora para a vida humana. É essencial, por tanto que o homem exerça a sua liberdade de buscar uma vida espiritual e profunda, cultivando sua relação com o criador e com todas as outras formas de vida, a fim de que a sua intimidade com ele e com o universo seja restabelecida e o seu espírito seja vivificado e pleno de amor a Deus, a si mesmo, ao próximo, à natureza.

O amor é o grande final dos que buscam o verdadeiro crescimento espiritual  ( COSTA, 1980,p.34)

 

 

E sobre o amor diz mais adiante

 

O amor produz ao ser humano o desejo de viver, que experimentar o “Sabor da vida”, de sonhar e traçar objetivos e metas, de construir o presente, de conjecturar o futuro. O amor é, sem dúvida, o maior bem da humanidade. E, sendo torna-se a maior garantia da sobrevivência digna da raça humana (p.35)

 

 

Percebe-se tacitamente, que os conceitos trazem uma atmosfera inexoravelmente cristã e “psicologizante”. Porém, não esqueçamos que a GQT é uma teoria e não religião. Com efeito, essa abordagem administrativa tem sua fundamentação cristã, tendo em vista que a educação sob princípio cristão e um suporte psicológico Maslowiano, pode tornar o gestor, “equilibrado” e “harmonioso” para no processo alcançar a plenitude. Destarte, o diretor-gestor prepara-se para romper paradigmas, mas está atrelado a preceitos religiosos ortodoxos.

Consideramos que a GQT, traz uma proposta pós-moderna imbuída de ideologia do capitalismo neoliberal que associa a educação à produtividade, mas suaviza essa relação com expressões inovadoras (tais como gestão, gerência etc) à medida que torna a consciência educativa expropriada de seu poder reflexivo e condicionada a operar somente no nível dos dados, dos painéis, das metas e dos objetivos.

A GQT tenta substituir o modelo assistencialista pelo modelo empreendedor. Por isso, propõe parcerias e voluntariado. Destarte, uma escola empreendedora (empresa) se não conseguir obter êxitos sinaliza problemas de gestão. Com efeito,  não é um problema de política pública. O modelo empreendedor exime a responsabilidade do Estado com a educação.

 

CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA CRÍTICA PARA A EDUCAÇÃO

 

O professor José Alcimar Oliveira, nos diz:

 

O sistema educacional brasileiro, e de resto, o ensino, têm se caracterizado por sua natureza ornamental, tecnicista e burocrático. Sua ornamentalidade se expressa pela cisão entre o ensino e formação. O ensino abdicou da formação e testa longe de atingir em profundidade os constitutivos antropológicos da formação humana. O seu caráter tecnicista deriva do viés positivista e antifilosófico em que se formou a consciência cultural das elites. A sua natureza burocrática se expressa na substituição dos fins pelos meios, na primazia da operacionalidade formal das normas sobre a finalidade educativa dos conteúdos. (Apud OLIVEIRA, 2002, p.64)

 

 

Tomamos o comentário do professor acima citado, pro conseguir nos remeter a amplitude e profundidade onde gostaríamos de chegar. Outro fato é o de o mesmo professor ser um estudioso da teoria crítica, que embasará parte de nossas posições.

Theodor W. Adorno, toma a crise na formação cultural como eixo e um colapso, no qual a educação está inserida.

A formação cultural quando convertida a semiformação cultural socializada, orienta a barbárie. A semiformação passou, por conseguinte a ser a forma dominante de consciência atual, e pedagogicamente o capitalismo tardio educa seus clientes através da relação da formação cultural.

Tomamos estes princípios, pois cremos a educação tem sido um instrumento de semiformação cultural e a qualidade total conduz à  adaptação.

E sobre adaptação nos diz Adorno:

 

É de modo imediato o esquema da dominação progressiva. O sujeito só se torna capaz de submeter o existente por algo que se acomode à natureza, que demonstre uma auto-limitação diante do existente. Essa acomodação persiste sobre as pulsões humanas como um processo social, o que inclui o processo vital da sociedade como um todo. (1996, p.391).

 

 

O educador seja ele, professor, pedagogo, diretor, como também educando, quando engendrados pela semiformação, tem a existência como sem sentido, tendo perdido o encantamento permanecem num prosaico entendimento negativo, e nos diz Adorno que

 

A vida modelada até suas últimas ramificações pelo princípio da equivalência esgota-se na reprodução de si mesma, na reiteração do sistema, essas exigências encarregam-se sobre os indivíduos tão dura e despoticamente, que cada um deles não pode se manter firme contra elas como condutor, de sua própria vida, nem incorpora-las como algo específico da condição humana. Daí que a existência desconsolada, a alma, que não atingiu seu direito na vida, tenha necessidade de subsistir às perdidas e manter as formas através da semiformação (1996, p.399).

 

 

Tomamos como base, as palavras de Adorno para caracterizar o contexto da GQT na qual, as pessoas são consideradas, em formas de gráficos, de rendimentos, ao fato de alcançar metas e objetivos neste aspecto, a própria existência perde o sentido.

Em nossa visão, a GQT é um elemento de semiformação, que se constitui numa ideologia comercial pseudo-democrática, um instrumento de heteronomia da cultura, que é condição da barbárie, onde “cristalizar-se numa rotina mecânica alienada e alienante, em que a consciência é ao mesmo tempo expropriada de seu poder reflexivo e condicionada a operar somente no nível das reações e dos estímulos, sob os estreitos limites de imediaticidade empírica do sensível” (LUUCCHISI, 2002, p. 23).

Neste contexto, o diretor  que em meio ao GQT, passa a ganhar o termo Gestor distante percebemos “a postura do diretor frente aos conflitos que ocorrem na escola e sua competência ou habilidade para administrar podem ser determinantes para sua manutenção no cargo, conscientemente entendido como uma posição estratégica no quadro das relações de poder (LUUCCHISI, 2002, p. 54)

Assim, sem autonomia, tendo em vista não haver também autonomia escolar, o diretor vive sob a égide da heteronomia, onde a sua capacidade administrativa está vinculada a uma relação de poder hierarquizada.

 

SER GESTOR OU ESTAR GESTOR

 

Diante do que temos refletido nos deparamos com algumas máximas de profissionais da educação que ocupam a função de diretor da escola, dentre elas a que mais nos chama atenção é a “estou gestor, não sou gestor”.

Tomamos esta máxima, para demonstrarmos o papel do diretor mediante a GQT, fruto de uma consciência coisificada, superficial, de reificação de um discurso pseudodemocrático. O próprio diretor, em sua consciência, toma o cargo como efêmero cumprindo o óbvio, um ser a-histórico.

O “estar-diretor” corrobora com o discurso da fala de história individual, de memória e de produção. Quando à frente de uma direção, o mesmo pode buscar a reflexão, a crítica, construída através da práxis quotidiana, dessa forma ensejando a comunidade escolar a transformar a natureza; dessa forma sendo um sujeito histórico-social.

O “estar-diretor” constitui o eterno presente do óbvio que se estabelece na consciência quando a razão se esvazia do agora essencial da compreensão filosófica.

Tomamos o agora essencial o definindo como

 

O agora essencial da filosofia é a consciência do presente, consciente de suas determinações históricas, é a memória inserida na temporalidade constituída – conforme a análise agostiniana do tempo – pela tríplice convergência de um presente do passado de um presente e um presente futuro. (OLIVEIRA, 2002, p.20).

 

O “ser-diretor” é ter consciência do agora essencial, por conseguinte ter a noção da finitude, porém a ação “sine qua non” não está na efemeridade do cargo, mas na profundidade de suas ações político-ético-educacionais.

O “ser-diretor” é tomar para si a capacidade de deter e fomentar a “virtu”, isto é, de realizar grandes feitos. É quesito básico que o diretor em suas ações contemporâneas que elas estejam vinculadas ao planejar e ao negociar.

Portanto, o diretor-gestor está gestor e o diretor-administrador é diretor.

 

DIRETOR – GESTOR OU DIRETOR – ADMINISTRADOR

 

Sustentamos o pensamento de que a figura do gestor está associada a um contexto neoliberal, globalizado, no qual a educação em sua vertente “QUALIDADE TOTAL”, associa a educação à produtividade. Destarte, a forma capitalista assume a educação em forma de mercado.

Neste processo educacional, que está intimamente ligado ao ético, ao cultural e ao político, cremos que a educação é reforçada da heteronomia, que é a condição da barbárie, na qual educandos e educadores têm suas consciências expropriadas de seu poder reflexivo.

Assim, o gestor caracteriza a imagem do executor das normas, das leis regimentares. Porém traz em si uma inculcação psicológica maslowiana e um discurso de autoajuda de “plenitude e harmonia”, em detrimento aos conflitos de pulsões. Enfim, o diretor-gestor representa a manutenção do “status quo”, num viés positivista.

O diretor-administrador, em nossa visão, traz a concepção de gestão, do ato de gerir. Com efeito, gestão é administração. Porém, gestão escolar sem caráter ideológico é administração escolar.

Tomamos que o diretor-administrador na construção de uma sociedade crítica tem compromisso ético-epistêmico de radicalizar o exercício da crítica que se dá pela construção da cidadania e da cultura.

Tendo em vista, que o diretor-administrador está envolvido tacitamente a uma relação de poder, estes mesmos precisam articular com os demais segmentos e construir um espaço de diversidade, pluralidade e socialização de responsabilidade. Deve o diretor-administrador ter conhecimentos profissionais (técnico-pedagógico) inerentes aos processos de educação e, por conseguinte, ser um mediador que com equilíbrio trabalhará as tensões entre alunos, corpo docente e o próprio Estado. Divergindo da harmonia positivista, pois, utiliza-se dos conflitos para agir, refletir e transformar.

Visa o mesmo otimizar o processo educacional de sua escola e essa, sendo força motriz irradiará saberes. Também, urge que o administrador tenha competência legislativa, acompanhado de habilidades pedagógicas.

O fator preponderante, na sua função de diretor-administrador, é fomentar a descentralização do poder, desvencilhando-se do autoritarismo, mas sem perder autoridade, dessa forma instituído os órgãos colegiados e a autonomia através de uma proposta pedagógica, que por sua vez é política.

 

 

CONCLUSÃO

 

Tentamos discorrer no presente artigo sobre a diferença entre os papéis do diretor-gestor e do diretor-administrador.

Caracterizamos o gestor como agente de manutenção do “status quo”, atuando em um âmbito neo-tecnicista, na qual a pedagogia é ferramenta tecno-gerencial. A escola é o “lócus” de relações de poder, no qual a figura do gestor representa autoridade gerencial hierárquica.

O gestor é a figura indissociável do contesto neoliberal, no qual as consciências são expropriadas e o discurso mantenedor reifica a pseudo concreticidade, por isso nesta realidade heterônoma, a existência no aspecto essencial, representa em si uma “coisa”.

A educação, com efeito, é coisificada e o gestor é um “coisificador”.

A expressão gestor teve uma introdução com sentido inerente ao neoliberalismo no Amazonas, com a influência da GQT, tendo como sua precursora no Brasil, a Fundação Cristiano Ottoni. Por isso, tomamos o termo gestor como aquele que é fruto da Gestão pela Qualidade Total.

 

 

 

 

 

1. Artigo realizado para obtenção de nota final para obtenção de título de especialização em Gestão escolar pela Faculdade Dom Bosco no ano de 1997.

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