Nova terapia celular combate tipo agudo de leucemia 22/3/2013
David Aponte, diagnosticado com a doença em 2011, passou pela quimioterapia sem sucesso; em 2012 ele fez o tratamento e ficou livre da leucemia em oito dias, mas teve que fazer um transplante de medula óssea Foto: Michael Nagle / The New York Times
NOVA YORK - Um tratamento que altera geneticamente as células imunes para combater o câncer conseguiu, pela primeira vez, a remissão da leucemia aguda (geralmente letal) em adultos. Em um paciente muito doente, todos os traços da doença desapareceram em oito dias.
- Nós tínhamos esperança, mas não poderíamos prever que a resposta seria tão profunda e rápida - disse ao jornal “The New York Times” o médico Renier J. Brentjens, principal autor de um novo estudo sobre a terapia e especialista em leucemia do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York.
O tratamento usa as células T dos pacientes, um tipo de glóbulo branco que geralmente combate vírus e o câncer. Neste tratamento o sangue do paciente passa por uma máquina que extrai as células T e o restante do sangue volta para o corpo. Os pesquisadores então fazem uma espécie de engenharia genética: usam um vírus incapacitado como vetor para carregar o novo material genético para as células T, que as reprograma para reconhecer e matar qualquer célula que carregue uma proteína específica em sua superfície. Esta proteína, chamada CD19, é encontrada nas células B, que são parte do sistema imunológico. Este alvo foi escolhido porque os pacientes tiveram um tipo de leucemia que afetou as células B.
Células B saudáveis — que fazem anticorpos para combater infecções — podem morrer junto com as células cancerosas, mas este efeito colateral é tratável.
Por enquanto, o tratamento é experimental, vem sendo usado apenas em um número pequeno de pacientes e não teve resultados em todos eles. Mas os especialistas o consideram uma boa aposta para vários males, incluindo outros tumores no sangue e em órgãos como a próstata. Os testes do estudo foram feitos em cinco adultos com leucemia aguda que não respondiam mais à quimioterapia. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira na “Science Translacional Medicine”. O tratamento é similar ao desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia, que recuperou a menina Emma Whitehead, de 7 anos, há cerca de um ano, e teve um enorme sucesso entre adultos com leucemia crônica que não respondiam mais à quimioterapia.
Esta terapia celular, no entanto, não foi testada antes em adultos com a doença que Emma teve, leucemia linfoblástica aguda, um câncer raro, que tem índice de cura de cerca de 40% em adultos, e entre 80% e 90% em crianças. Nos EUA, todos os anos, a doença afeta cerca de 2400 pessoas acima de 20 anos, e 3.600 pessoas mais jovens. Apesar dos poucos casos em adultos, há mais mortes: cerca de 1170 adultos morrem por ano, e, entre as pessoas com menos de 20 anos, esse número cai para 270 mortes.
Em adultos, este tipo de leucemia é “uma doença devastadora, galopante”, disse o médico Michel Sadelain, autor do novo estudo e diretor do Centro para Engenharia Celular e do Laboratório de Transferência e Expressão Genéticas do Memorial Sloan-Kettering.
Pacientes como os do estudo, que recaem depois da quimioterapia, geralmente têm apenas alguns meses, disse Sadelain. Mas agora, três dos cinco estão em remissão por cinco meses a dois anos. Dois outros morreram: um estava em remissão mas morreu por causa de um coágulo e o outro recaiu. Os sobreviventes tiveram que fazer transplante de medula óssea, mas a recaída ainda é possível, só o tempo dirá.
Especialistas não ligados ao estudo dizem que este foi um importante avanço em um campo emergente. O médico Carl June, da Universidade da Pennsilvânia, que liderou o time que tratou a menina Emma e outros pacientes, disse que “este é o primeiro relatório mostrando uma atividade clínica benéfica em leucemia linfoblástica aguda” e disse que o time já tinha começado a testar esta versão de terapia celular com pacientes com a doença.
- Estamos criando drogas vivas - disse Sadelain. - Esta é uma história emocionante que está apenas começando.
Um dos pacientes mais debilitados pela doença, David Aponte, de 58 anos, trabalha na equipe de áudio da rede ABC News e teve a leucemia diagnosticada em novembro de 2011.. No início, a quimioterapia funcionou, mas no verão de 2012, os testes mostraram a volta da doença.
- Depois de tudo o que eu passei, com a quimioterapia, a perda de cabelo, a doença, foi absolutamente devastador - disse Aponte.
Ele se juntou ao estudo e por alguns dias nada parecia acontecer, mas aí sua temperatura começou a aumentar e ele não lembra do que aconteceu durante uma semana ou mais, mas o diário dos testes (ele era o paciente 5) relata uma febre de 40,6ºC. Ele estava no meio de uma “tempestade de citocinas”, o que significa que as células-T, em uma furiosa batalha contra o câncer, foram produzindo enormes quantidades de hormônios chamados citocinas. Além de febre, os hormônios podem fazer a pressão sanguínea e a freqüência cardíaca do paciente subir. Aponte então foi levado para cuidados intensivos e tratado com esteróides para conter a reação. Oito dias depois a leucemia tinha desaparecido. Os médicos repetiram os testes de laboratório mas não tinha havido erro algum, Aponte estava mesmo livre da doença.
Depois da remissão, Aponte fez um transplante de medula óssea, assim como três outros pacientes do estudo. Outro paciente teve problemas médicos que tornaram o transplante impossível e morreu.
Fonte: Extra - Online