Outros artigos do mesmo autor
CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE NÚCLEOS NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO ROLA MOÇA: resgate histórico e consolidação do antigo Parque Estadual Florestal do JatobáDireito Ambiental
O PARQUE DOM MAURO BASTOS (PRAÇA CRISTO REINA) COMO APELO E MOBILIZAÇÃO: contexto de resgate popular do Parque Municipal do Barreiro, Belo Horizonte - MG Direito Ambiental
Outros artigos da mesma área
A Pessoa Jurídica, seus sócios e responsáveis podem ser condenados por crime ambiental
Distribuição desordenada de água pelo Brasil
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA NA DEFESA DO BEM AMBIENTAL
Considerações acerca do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas
MEIO AMBIENTE:educação, um direito fundamental de todos
RELAÇÃO ENTRE ESTADO, SOCIEDADE E ÓRGÃOS AMBIENTAIS NO COMBATE A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL.
MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO: COMÉRCIO DE PERMISSÕES EM BOLSAS
Resumo:
As necrópoles destacam-se pela sua complexa simbologia cultural e respectivos impacto na paisagem local. Este trabalho apresenta brevemente aspectos ecológicos e patrimoniais dos sete cemitérios da capital mineira, em especial, o Bonfim.
Texto enviado ao JurisWay em 01/02/2018.
Indique este texto a seus amigos
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo de opinião versa sobre os impactos ambientais decorrentes das necrópoles no âmbito das cidades, destacando aspectos gerais sobre a temática mas debruçando olhares analíticos sobre as necrópoles da capital mineira e sua inserção no ambiente urbano, destacando além de aspectos culturais, impasses ecológicos que afetam a qualidade de vida citadina. A intenção do mesmo é uma breve divulgação do Projeto Prosa Bonfim, desenvolvido no secular cemitério do Bonfim na região noroeste da cidade. O projeto desenvolvido pela Rede Ação Ambiental buscar uma análise perceptiva do espaço cemiterial com o intuito de inventariar aspectos ambientais do mesmo evidenciando problemas e potencialidades.
HISTÓRIAS DA VIDA E DA MORTE
Historicamente, os cemitérios compõem junto com outros elementos humanos e naturais a paisagem de um determinado lugar. Como componente dessa paisagem carrega consigo um emaranhado de contextos socioculturais, alternando permanências e rupturas, espacialidades e temporalidades. Cemitério, necrópole ou sepulcrário é o lugar onde se sepultam os cadáveres e destaca-se pelo além de seus objetivos iniciais, pela complexidade de seu simbolismo alicerçado na humanidade. Data da pré-história, o início do sepultado humano, carregado de sentidos e significados existenciais diante do mistério da morte e a impotência perante a efemeridade da vida. Etimologicamente, a palavra origina-se do latim tardio coemeterium, derivado do grego κοιμητήριον [kimitírion], a partir do verbo κοιμάω [kimáo] "pôr a jazer" ou "fazer deitar" e foi dada pelos primeiros cristãos aos terrenos sagrados destinados à sepultura de seus mortos. Algumas das grandes civilizações da Antiguidade foram conhecidas e decodificadas através de seus túmulos e monumentos mortuários.
CEMITÉRIOS ENQUANTOS ELEMENTOS CULTURAIS
Isso faz com que na maioria dos casos, os cemitérios sejam lugares de práticas espirituais e/ou religiosas. Em muitas cidades existem necrópoles onde os rituais funerários são cumpridos de acordo com a respectiva religião ou fraternidade bem como também existem casos de cemitérios nacionais para o sepultamento de chefes militares e figuras notáveis da vida pública. Ligados diretamente á questão da sacralidade, originaram-se termos e expressões como “campo santo”. Os cemitérios ficavam geralmente fora dos muros das cidades, longe das igrejas e respectivos adros, pois a prática do enterro nestes espaços era desconhecida nos primórdios da era cristã. Posteriormente passou-se a vincular os sepultamentos nos adros das igrejas por uma crença religiosa de que facilitaria a continuidade da vida religiosa no além, bem como a garantia de morada celestial. A partir do século XVIII, criaram-se sérios problemas de insalubridade nas proximidades dos templos decorrentes da falta de espaço: os esquifes se acumulavam, causando poluição e transmissão de doenças. Uma lei inglesa de 1855, ampliada posteriormente em escala mundial, regulou os sepultamentos, os direcionando para fora dos perímetros urbanos.
SIMBOLOGIA, ARTE E CULTURA
Culturalmente, os cemitérios, verdadeiros “museus a céu aberto” sempre foram visitados, prática atualmente denominada de turismo cemiterial, nos quais são identificados nos túmulos, elementos históricos e arquitetônicos que demonstram a vida social e artística, através das estátuas, das obras, das fotos, dos epitáfios e dos símbolos valorizando e exaltando sua preservação enquanto patrimônio. Na Europa existem diversas necrópoles medievais, que quando escavados, fornecem fontes históricas para a compreensão de certos hábitos alimentares, doenças e anatomia do homem da Idade média. Atualmente os cemitérios são locais de pesquisa das crenças religiosas, formação étnica, estudos genealógicos, perspectivas e modos de vida, ideologias políticas, gostos artísticos, e, portanto, indispensáveis à preservação da memória familiar e coletiva
Neste sentido, o cemitério, enquanto elemento histórico da paisagem local faz parte do roteiro de visitação turística em diversas regiões do mundo, como por exemplo, o Père-Lachaise, em Paris, onde se encontram os túmulos de Allan Kardec e Auguste Comte. Em Londres, Inglaterra destaca-se os cemitérios de Kensal Green e Highgate e na Itália, os cemitérios de Gênova e Milão. No Brasil destaca-se na capital paulista, o Cemitério da Consolação, fundado em 1858 e em Buenos Aires, Argentina, o cemitério Recoleta.
CEMITÉRIOS DA CAPITAL MINEIRA
Em Belo Horizonte, as quatro necrópoles públicas são administradas pela Fundação de Parques Municipais, que também se dedica à gestão e manejo de mais de 80 parques urbanos em toda a cidade. Em termos de impactos ambientais três Cemitérios ocasionam impactos diretos e indiretos a Bacia do Ribeirão Arrudas (Bonfim, Parque da Colina e Saudade) Na Bacia do Ribeirão Onça, são quatro Cemitérios a consolidarem impactos (Bosque da Esperança, Consolação, Israelita e Paz).O primeiro cemitério belo-horizontino, o Bonfim surgiu ainda em tempos da mudança de capital, sendo inaugurado em 1894. Anos depois diante do crescimento da nova capital mineira, foi necessária em 1940, a construção de outra necrópole, o Saudade, localizada na zona leste. Já em meados da década de 1960, a cidade ganhou mais dois modernos cemitérios, o Consolação e o Paz, inspirados na concepção de cemitérios-parques ou cemitérios-jardins que rompem com a imagem tradicional das necrópoles com jazigos e monumentos de mármore, substituindo-os por parques arborizados.
Originários dos Estados Unidos onde são conhecidos como memorial parks, sua principal característica é a paisagem, sem a presença de arte tumular, onde simples placas de metal, bronze ou granito são colocadas sobre o solo gramado assinalando o local da sepultura. O primeiro cemitério-jardim criado no Brasil, datado de 1965 é o Cemitério da Paz localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo. A maioria dos cemitérios particulares construídos hoje no país é na modalidade cemitérios-jardim. Em São Paulo são instalados em cidades da Região Metropolitana como Cotia, Embu, Guarulhos, Mairiporã, Taboão, geralmente próximos às rodovias para promover um fácil acesso. Esses cemitérios aparentemente promovem a igualdade entre os homens, sem discriminação econômica. Porém, a ausência de ostentação e a representação simbólica da riqueza não retiram o caráter de desigualdade gerado pela concessão privada do jazigo.
IMPACTOS NA PAISAGEM LOCAL
Outra prática comum, pela questão espacial, é a verticalização dos cemitérios, onde os túmulos são dispostos uns sobre os outros e em andares para as visitações. O modelo de necrópole também se destaca por apresentar maiores impactos ao meio ambiente em decorrência da ausência de vegetação que pode ocasionar erosão e com o carreamento do solo, um posterior assoreamento dos recursos hídricos superficiais do entorno, bem como ampliar a taxa de impermeabilização local assim por sua concepção paisagística e pela sustentabilidade o modelo de parque é o mais indicado. Os cemitérios tradicionais com seus in[úmeros túmulos também contribuem para o aumento de calor retido em superfícies, fato semelhante ao chamado “ilha de calor” muito comum em grandes centro urbanos. Superfícies absorvem o calor durante todo o dia, aquecendo-se consideravelmente e somente no final da tarde e início da noite vão gradativamente devolvendo calor para a atmosfera. Na contemporaneidade, a prática da cremação, muito comum no Oriente, permitiu um destino sanitário mais compatível aos corpos humanos, antes de sua deterioração e putrefação, evitando-se assim a contaminação do solo e lençol freático com o necrochorume e a otimização de espaço.
Nenhum comentário cadastrado.
Somente usuários cadastrados podem avaliar o conteúdo do JurisWay. | |