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Texto enviado ao JurisWay em 15/10/2013.
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Eventualmente costumo ajudar no centro social de uma paróquia perto de minha casa, em Santana, na Zona Norte de São Paulo. E quase sempre há um “Mutirão da Cidadania” em que a paróquia com apoio da Arquidiocese de São Paulo ajuda os moradores de rua a terem sua dignidade cidadã de volta: uma carteira de trabalho, um documento de identidade, deixando de ser simplesmente um maltrapilho do terminal de ônibus participante da “multidão de flagelados”, como dizia o constituinte Ulysses Guimarães, para ser de fato um cidadão, para ser o “José da Silva”, dando um passo a mais para recuperar a dignidade.Porém, no último domingo, após a missa matinal, há tempos não ajudava nesse centro social. Fui ver como estava, rever amigos e colegas e lá identifiquei um senhor com quem eu sempre conversava quando eu participava mais ativamente. E, para meu espanto, ele se lembrou de mim.
Ele largou as drogas, o álcool, arranjou um emprego como servente de pedreiro em uma construção ali mesmo e me disse que seu sonho sempre foram duas coisas enquanto esteve na rua: “voltar a ser gente” e ter sua casa com a televisão que ele sempre quis desde que chegou do flagelo do Nordeste há 10 anos para “tentar a vida” em São Paulo – para onde veio só com a roupa do corpo e onde, após frustrações – como não ter conseguido um emprego – começou a dormir “temporariamente” nos bancos no entorno da Rodoviária do Tietê, até que na destruição total de sua personalidade passou a costumeiramente viver debaixo do vão central da avenida Cruzeiro do Sul, onde por cima passam centenas de milhares de passageiros na Linha Azul do Metrô de São Paulo, que desconhecem aquela realidade dos que ali embaixo habitam.
O que me espantou de fato, é que ele veio pra São Paulo com o sonho em fazer a sua vida, encontrar o pote de ouro d’outro lado do arco íris – que ele acreditou que fosse aqui, na selva de pedra sob o planalto de Piratininga. Onde na verdade, não era um arco íris, mas sim a miragem do consumo. Largou uma vida miserável no “Norte” para tentar a sorte no “Sul”, onde conseguiu piorar, ir além da subsistência básica que possuía, mas para ser um consumidor, para consumir um aparelho de som, uma televisão de ultima geração e roupas como as de um personagem da novela das oito. que ele acompanhava do boteco em que tomava a dose de sua “malvada” para conseguir enfrentar a noite que viria.
No final venceu. Como César ao proclamar contra o Senado Romano “Veni, vidi, vici”. Não terá seu nome inscrito na história como o general romano, umas como um candango nordestino terá suas noites mais tranquilas no acalento daquilo que veio procurar em São Paulo: seu lar e seus bens.
Hoje, ser cidadão não é mais “começar pelo alfabeto”, como Ulysses disse na promulgação da Constituição de 1988, hoje ser cidadão é começar pelo crediário para ter sua aceitação social garantida ante a sociedade.
Marcello Brunella Aziz Jorge, de 19 anos, cursa o segundo ano de Direito e é apaixonado pela área desde que “se entende por gente”. Também gosta muito de Tecnologia, mas nunca perde o foco do que é clássico. Curte cinema [desde os filmes do Renato Aragão até os maiores do Marcelo Mastroiani] e música, de Frank Sinatra a Rage Against The Machine. Avesso às patrulhas de qualquer tipo, é amante incondicional da liberdade e garante que prefere um bom pastel de feira a um bistrô francês. Marcelo escreve às quintas.