Apesar de cara, brasileiro desperdiça energia elétrica 4/9/2013
Segundo estudo da Proteste, só 32% dos consumidores agiram para reduzir o consumo de luz nos últimos 10 anos

De cada dez brasileiros, apenas três adotaram alguma atitude para reduzir o consumo de energia elétrica em suas casas na última década. O apagão nos nove estados do Nordeste na semana passada fez muita gente relembrar o racionamento que afetou o país em 2001. Doze anos após ter sido confrontado por sérias dificuldades para manter seus hábitos, o consumidor, hoje, parece não dar mais tanta importância ao tema, conforme pesquisa realizada pela Proteste — Associação de Consumidores.
Segundo o levantamento realizado em todo o país entre associados da entidade, apenas 32% tomaram alguma atitude para reduzir o consumo de energia elétrica desde 2003. Além disso, 42% disseram ter aparelhos de ar-condicionado e mais da metade deles (24%) admitiu utilizá-lo não só nos dias de calor, como também para aquecer os ambientes durante o inverno.
O levantamento foi realizado também em Bélgica, Itália, Portugal e Espanha. O único destaque positivo, segundo a Proteste, foi registrado entre os belgas: 58% disseram ter tomado ao menos uma atitude na última década para economizar energia em suas residências. Nos outros três países, os resultados foram semelhantes aos do Brasil.
Para a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, a conclusão do levantamento é preocupante, ainda mais porque o brasileiro, nos últimos anos, passou a ter condições de adquirir mais eletroeletrônicos:
— Poucos percebem o impacto que o consumo excessivo de energia elétrica tem em seu orçamento doméstico. E quem percebe também não adota medidas pensando no consumo sustentável. Apesar de o custo da energia ser alto, o brasileiro parece não estar tão preocupado com a conta a pagar no fim do mês.
A conta de luz do brasileiro não está entre as mais altas na comparação com os outros países. Enquanto o custo médio mensal é de R$ 118 por aqui, os espanhóis pagam € 116,10 e os portugueses, € 91,90. “E ainda que o belgas e italianos tenham custo de € 171,4 e € 131,7, respectivamente, devemos considerar que a média salarial europeia é maior que a brasileira. E, além disso, esses países possuem invernos muito mais rigorosos do que o nosso, exigindo uso maior da eletricidade para aquecimento. Ou seja, usamos menos e pagamos mais”, destaca a Proteste.
Melissa Reis, pesquisadora técnica da instituição, diz ter se surpreendido com outro aspecto da pesquisa. O fato de o brasileiro demonstrar interesse pelo consumo sustentável e, ainda assim, não adotar atitudes que façam diferença, a longo prazo, tanto para o meio ambiente quanto para o orçamento doméstico. Apenas 21% dos participantes da pesquisa fizeram ao menos uma mudança de caráter energético por razões ambientais.
— O tema da sustentabilidade é muito considerado pelos consumidores, pesquisas anteriores confirmam isso. Mas, ao mesmo tempo, quase todos os que responderam a este levantamento disseram investir pouco dinheiro para reduzir o calor ou aquecer os ambientes da casa, por exemplo. As atitudes mais mencionadas se referem a instalação de cortinas nas janelas — diz Melissa.
Pensamento de curto prazo
Segundo a pesquisadora da Proteste, o brasileiro é ansioso. Se não vê a possibilidade de ganho imediato com um investimento, acaba desistindo dele. Isso explicaria o fato de o uso de painel solar para o aquecimento de água ter sido citado por apenas 8% dos participantes do levantamento. A maioria (57%) continua utilizando chuveiros elétricos.
— Eles pensam: por que vou gastar agora se só daqui a dez anos vou perceber a economia? Então, não fazem, por exemplo, projetos arquitetônicos que facilitem a circulação de luz e de ventilação, o que já reduz a necessidade de equipamentos para refrigerar os ambientes — afirma Melissa.
O estudo também mostrou que falta informação sobre como poupar, reduzir o peso do consumo no orçamento e ainda ser sustentável sem abrir mão do conforto. A maioria dos entrevistados (75%) considera seu nível de conhecimento sobre economia de energia baixo ou médio.
O economista Sérgio Besserman também destaca esse problema. Segundo ele, a instalação de painéis solares para aquecimento de água, por exemplo, já não custa tanto — em média R$ 5 mil — como muitos consumidores supõem. A opção pela eletricidade faz com que o brasileiro continue pagando mais.
— O preço vai subir. É preciso ver uma forma de não punir os mais carentes, porém, não tem jeito, esse é o custo. O governo deveria estimular, por exemplo, a adoção de painéis solares nos imóveis do programa Minha Casa Minha Vida.
Fonte: O Globo - Online