Brasileiro não confia em apelos dos rótulos, indica pesquisa do Idec 11/3/2013
RIO — O aumento do número de apelos sobre responsabilidade ambiental, social e de atributos ligados à saúde nas embalagens dos produtos é inversamente proporcional à credibilidade que os consumidores atribuem a estas informações. Essa é uma das conclusões da pesquisa “A percepção do consumidor sobre apelo nas embalagens”, fruto de uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Market Analysis, que ouviu 900 consumidores nas cinco regiões do país. O levantamento mostra ainda que um em cada quatro brasileiros está atento a mensagens do tipo: “ecologicamente correto”, “mais econômico”, “sem gordura trans”, “embalagem reciclável”, entre outras tantas divulgadas pelos fabricantes nos rótulos. Por outro lado, quase a metade (43%) sequer toma conhecimento dessas informações.
— Queríamos saber se o consumidor presta atenção a esses apelos, e como eles influenciam na sua decisão de compra. Não havia nenhum levantamento de opinião pública a esse respeito. No entanto, a nossa expectativa era que um número maior de consumidores fossem atentos. O resultado, que revela que 24% percebem as mensagens nos rótulos, nos pareceu pequeno, se levarmos em conta que há mais de 30 certificadoras no Brasil e que costuma haver mais de um apelo desse tipo por rótulo — diz Michele Afonso, gerente de Análise da Market Analysis.
Responsabilidade ou maquiagem verde?
As informações sobre a responsabilidade ambiental são as mais percebidas pelos consumidores (53%). Apesar disso, quase 60% deles desconfiam que se trata de maquiagem verde, o chamado greenwashing, ou seja, muito marketing e pouca ação.
— Existe um certo abuso da denominação eco. O que mostra a necessidade de haver um sistema de organização de selos e certificados para reconquistar a confiança do consumidor. Pesquisas mostram que, entre aqueles consumidores que se autodenominam ambientalistas, há uma enorme desconfiança com respeito a produtos que alardeiam ser ecologicamente corretos. A banalização aumentou o descrédito — avalia Fátima Portilho, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em sociologia ambiental e de consumo.
Um dado que surpreendeu o gerente de Testes e Pesquisas do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira, foi a falta de credibilidade atribuída pelos consumidores às informações certificadas pelo governo: menos da metade dos entrevistados consideram-no muito ou bastante confiável. O percentual só não é menor do que o atribuído aos dados informados pelos fabricantes (36%) e pelas associações setoriais (34%).
— Esse resultado mostra que há uma crise de credibilidade dos consumidores brasileiros em relação ao governo e aos fabricantes. Isso até parece incongruente quando a segurança é apontada como atributo que mais influencia a decisão de compra e de maior credibilidade, o que está diretamente ligado ao trabalho do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). Pode ser que as pessoas não identifiquem o instituto como um órgão do governo — conjectura Oliveira, informando que organizações internacionais, especialistas, instituições independentes e ONGs, nesta ordem, foram considerados as fontes mais confiáveis.
Momento de ceticismo
Para Bernardete Almeida, coordenadora da ESPM Social, vivemos um momento de ceticismo do consumidor em relação à comunicação da sustentabilidade, justamente pela percepção de uma grande distância entre as promessas feitas pelas marcas e seus processos de produção e gestão:
— A pesquisa mostra que as pessoas mais atentas aos apelos feitos pelas empresas nas embalagens fazem parte de uma classe média urbana e intelectualizada. Por isso mesmo, são mais críticos. Não à toa os consumidores se mostram dispostos a pagar por atributos que são mais tangíveis, como a segurança e a economia.
Segundo a pesquisa, os crédulos são realmente minoria entre os consumidores brasileiros. Somente 11% são enquadrados como “apóstolos”, aqueles que acreditam incondicionalmente em tudo o que é informado no rótulo dos produtos. Ou seja, 89% têm, em menor ou maior grau, uma visão crítica ao que as empresas querem lhes vender.
— Isso mostra que a maioria entende o que a empresa quer vender, mas não está convencida da veracidade da informação — afirma o gerente de Teste e Pesquisas do Idec.
O interessante, diz Michele, é que no caso da economia de recursos, mesmo não havendo uma confiança absoluta no dado, o fator é levado em conta na hora da compra:
— E os apelos não funcionam da mesma maneira para todas as regiões, assim como há sensibilidades diferentes de acordo com o público.
Ela destaca, por exemplo, que os jovens são mais atentos a mensagens ambientais; mulheres e idosos a questões de saúde; e a classe média baixa, a atributos de economia.
Os nordestinos, aliás, foram os consumidores que se mostraram mais atentos às informações nas embalagens de produtos (34%). Bem acima do índice da região Sudeste (23%). As diferenças aparecem até mesmo entre estados vizinhos como Rio e São Paulo: há 35% de cariocas antenados aos rótulos contra apenas 16% dos paulistas. Por sua vez, entre os paulistas, o peso das informações na decisão de compra é maior.
Fonte: O Globo - Online