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O calor de um raio de Sol, quando se esta prestes a abandonar as sensações de quente e frio, acarreta singulares questionamentos, e, diante do afago da estrela comum, o horizonte de Ana se confundiu nas inúmeras Cláudias que fora até então.
Texto enviado ao JurisWay em 05/12/2017.
Decidira, Ana Cláudia, que era hora de morrer. A vida social que levava lhe era estranha. Seus afetos lhe eram estranhos. Nada se encaixava neste universo de plástico e tijolos.
Sentou-se para escrever sua carta de suicídio:
- Amigos; parentes próximos e distantes; colegas de trabalho; afetos de hoje e de ontem; estou decidida a deixá-los. Na realidade, há tempos que vem crescendo em minha consciência a consciência de que não pertenço a este lugar, a vossas coloridas realidades.
- Não encontrei realização em meus afazeres profissionais; minha vida conjugal é apenas vida, eis que não a conjugo com ninguém e, quando me deleito no afeto de outrem, sou deixada de lado, porque tudo o que quiseram foi o corpo e não a alma. Hoje, deixo para trás o corpo e parto enquanto alma.
- Na realidade; à bem da realidade, vejo apenas dissabores na realidade.
- Dentre tantas mascaras nas multifaces de meu “eu”, qual delas me constituiu realmente o “ser”? Qual dos fantoches que fui me constituiu a personagem que sou?
- O fato é que, não se trata apenas de meu “eu”, mas da relação de meu “eu”, com as demais personagens no palco da vida, que estou prestes a abandonar.
- Não somos o que somos, senão uma representação daquilo que verdadeiramente somos e, representando as personagens que adotamos, no palco da existência, sinto-me na impotência de barganhar com o roteirista um melhor cenário.
- Será que as outras personagens ainda não perceberam a falácia do enredo? As tramas da vida são desenvolvidas com base em valores que em nada refletem seu objetivo teleológico. A ética e a moral são mascaras nas quais se escondem feições de prazeres inferiores. A moral religiosa é um verniz que cobre a rudeza da personalidade e seus matizes de imbuia e fosco são fantoches destas relações falsas que ocultam a natureza rústica de nossas vontades rameiras.
- O melhor a se fazer é deixar a vida!
- Deixar a vida para aqueles que ainda não perceberam no espelho seu reflexo multifacetado e a sensação de estar em degredo.
- Não obstante, as relações líquidas destes tempos líquidos, em que a mídia nos convenceu a todos de que, a felicidade, é afinal, abrir uma coca cola. A felicidade é ter e não “ser” e “ser” só é “ser” se a personagem puder ter aquilo que lhe convenceram de que, tendo, seria aceita.
- Ter para “ser”.
- Na ausência de realizar-me na aquisição de bens materiais e na liquides de minhas relações insólitas o que me resta é a morte.
Ana Cláudia levantara-se da cadeira enquanto alma decidida a abandonar seu corpo. Direcionou-se à sacada do apartamento no décimo segundo andar e lá, ao se inclinar no parapeito, sentiu o calor de um raio de sol no fim de tarde, que lhe alcançou a face ante a fresta de uma nuvem carregada e cinza.
O calor de um raio de Sol, quando se esta prestes a abandonar as sensações de quente e frio, acarreta singulares questionamentos, e, diante do afago da estrela comum, o horizonte de Ana se confundiu nas inúmeras Cláudias que fora até então.
A sensação de queda lhe precipitou o corpo. Sentiu o estremecer das pernas; Caiu...
Caiu sentada no porcelanato da sacada e verteu copioso pranto.
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