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 Defesa do Consumidor
 

Investir em atenção básica é um dos pilares para recuperar a saúde pública

Fonte: Correio Braziliense 9/12/2010

Texto enviado ao JurisWay em 10/12/2010.

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Hoje, muita gente não consegue atendimento nos postos e acaba lotando os prontos-socorros dos hospitais
 
Pessoas com dores de garganta ou simples resfriados dividem espaço com pacientes em estado grave, como vítimas de acidentes de trânsito. Assim é o pronto-socorro dos principais hospitais da rede pública do Distrito Federal. As unidades de média e alta complexidade, que deveriam atender apenas os casos mais delicados, viraram a porta de entrada do sistema de saúde. Mas os brasilienses que enfrentam as filas das emergências superlotadas não têm muitas opções. Muitos deles tentam, em vão, marcar consultas em ambulatórios e centros de saúde antes de seguir para o pronto-socorro. Sem conseguir atendimento perto de casa, os pacientes precisam encarar filas de espera de até 12 horas para, enfim, ficar diante de um médico.





A mulher de Anderson, Flávia, e o filho João Gabriel esperaram oito meses e dois anos, respectivamente, por uma consulta (Iano Andrade/CB/D.A Press )  

A mulher de Anderson, Flávia, e o filho João Gabriel esperaram oito meses e dois anos, respectivamente, por uma consulta 

A professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Magda Duarte dos Anjos, que integra o Núcleo de Estudos de Saúde Pública, afirma que o investimento em atenção básica deve ser um dos pilares da recuperação do sistema público. “É preciso mudar esse modelo e focar na prevenção. O ideal é ampliar o programa Saúde da Família”, afirma a especialista.

Magda Duarte afirma que os postos de saúde e as equipes do Saúde da Família, quando bem estruturados, têm capacidade para atender até 80% dos casos. “Com o sistema funcionando corretamente, esse é o ideal. Assim, 15% dos atendimentos se concentrariam na média complexidade e apenas 5% na rede de alta complexidade. Os investimentos em atenção básica contribuem para a redução dos custos de internação”, exemplifica a professora da UnB.

Espera infinita
O pequeno João Gabriel, de 4 anos, nasceu prematuro e, aos 2 anos, foi diagnosticado com estrabismo. Desde então, os pais do menino tentam uma consulta com oftalmologista. Procuraram postos de saúde, foram a vários hospitais, mas nunca conseguiram atendimento. A primeira consulta foi realizada apenas ontem, no Hospital Regional de Taguatinga, dois anos depois da primeira tentativa. “Quem precisa dos hospitais públicos sofre muito. Minha mulher, que sofre de epilepsia, também esperou mais de oito meses para conseguir vaga. E no dia da consulta, 17 de novembro, descobrimos que a médica estava de abono”, relata o pai de João Gabriel, Anderson Ramos, 30 anos, casado com Flávia da Silva, 30.

O descaso não poupa sequer os idosos. Depois de uma cirurgia para retirar um tumor do pescoço, realizada há sete anos, Júlio Pereira dos Santos, 82 anos, precisa de acompanhamento médico regular. O morador de Santo Antônio do Descoberto (GO) também sofreu um derrame e tem a saúde delicada. No início de setembro, ele marcou uma consulta para 29 de novembro. Quando chegou ao Hospital de Base, descobriu que era ponto facultativo e seu médico não havia ido trabalhar. “Esse descaso é um absurdo. Eles têm nosso telefone no prontuário, poderiam ter ligado para avisar. A marcação da consulta já é muito difícil, agora não há nem previsão de quando meu pai vai conseguir vaga novamente”, revolta-se o vigilante Júlio Pereira Filho, 45 anos.

Moradores de fora
Dos 95.128 pacientes internados na rede pública no ano passado, 21% moravam fora do Distrito Federal. E dos 2,2 milhões de atendimentos prestados na emergência dos hospitais da rede, 11% foram referentes a pessoas de outros municípios. Águas Lindas (GO) é o recordista em mandar pacientes para a capital federal. Ao todo, 62.313 habitantes do município buscaram assistência no sistema público de saúde de Brasília. Novo Gama, Valparaíso e Luziânia enviaram juntos 225 mil pacientes para as emergências do DF. De todos os internados no Hospital Regional do Gama no ano passado, 60% moram fora do quadrilátero.

Morador de Cotegipe (BA), o lavrador Francisco do Prado, 51 anos, estava apreensivo ontem, andando de um lado para o outro na porta do Hospital de Base (HBDF). Seu filho Elidélcio, 24 anos, está internado após sofrer um acidente de trânsito. Os primeiros socorros foram prestados em Posse (GO), mas os médicos transferiram o rapaz para o HBDF. “Sempre achei que aqui fosse organizado, mas meu filho foi operado e não consegue vaga em UTI. Vamos esperar o relatório do médico e procurar a Justiça”, reclamava Francisco.

A falta de UTIs, aliás, é o capítulo mais recente da crise na saúde da capital. Como não dispõe de leitos suficientes, a rede pública aluga vagas em hospitais particulares. Nos últimos anos, porém, o GDF acumulou dívidas com essas instituições e algumas suspenderam o contrato. Até ontem, 16 vagas em unidades privadas já haviam sido fechadas à população quem não pode pagar.


Mutirão de cirurgias

A elaboração de estratégias para recuperar a saúde pública do Distrito Federal é uma das principais atribuições da equipe de transição do governador eleito do DF, Agnelo Queiroz. Médico de formação e cirurgião concursado da rede pública, ele já anunciou que vai assumir a Secretaria de Saúde por pelo menos três meses, para implantar medidas emergenciais para melhorar o atendimento.

Os técnicos da equipe de transição identificaram uma série de problemas e começaram a propor soluções. De acordo com o levantamento, há uma demanda por operações represadas na rede pública de saúde. Uma das sugestões dos especialistas que trabalham com Agnelo é fazer um mutirão de cirurgias nos primeiros meses de gestão para atender boa parte dos casos.

O diagnóstico também aponta a falta de equipes do programa Saúde da Família. Agnelo quer formar até 400 grupos de profissionais, compostos por médicos, enfermeiros, dentistas e agentes de saúde. A contratação desse pessoal se daria por concurso público. Para tentar resolver o problema do Hospital de Santa Maria, atualmente sob intervenção, o futuro governador quer contratar mais profissionais para manter a unidade em funcionamento.

Agnelo Queiroz voltou sua atenção para a questão da saúde ainda durante a campanha, quando a maioria dos eleitores reclamou sobre a situação dos hospitais públicos. “Venci a eleição com o compromisso de dar total prioridade a esse tema. Temos que recuperar a atenção básica e valorizar os profissionais para que a saúde volte a funcionar”, explica Agnelo.


EXPECTATIVA
Pesquisa realizada pelo Instituto FSB e divulgada no mês passado pelo Correio mostrou que 53,2% dos brasilienses acham que a saúde será o problema mais grave a ser enfrentado pelo governador eleito, Agnelo Queiroz. Para 81% dos consultados, o petista vai conseguir melhorar o serviço oferecido nos hospitais públicos.


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