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Texto enviado ao JurisWay em 20/05/2013.
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Na América Latina, gasto médio no supermercado cresceu 13,9% no primeiro bimestre de 2013 frente ao mesmo período do ano anterior
Latinos e asiáticos estão enchendo o carrinho do supermercado enquanto Europa e EUA perdem poder de consumo
Cerca de 60% dos franceses cortaram a carne de suas refeições. Em Portugal, cerca de 40% da população ocupada passaram a levar comida de casa para o trabalho em 2012; três anos antes eram 29%
Viviane Cardim Carvalho, com as filhas: “Prefiro gastar mais a comprar os produtos mais baratos” Michel Filho
RIO - Maior renda, mercado de trabalho aquecido e crédito farto ampliaram o acesso a produtos mais caros nos países emergentes. América Latina e Ásia estão enchendo o carrinho dos supermercados enquanto europeus e americanos enfrentam o movimento oposto: devido à crise econômica, estão perdendo poder de consumo e deixando nas gôndolas justamente os mesmos produtos que estão abarrotando as despensas dos lares das nações emergentes.
Mais de 60% dos franceses cortaram a carne de suas refeições, segundo dados da consultoria Kantar Worldpanel; 63,7% dos gregos tiraram a carne, 60,5% o peixe, 51,2% os doces e 48,8% as bebidas alcoólicas; cerca de 40% dos portugueses passaram a levar comida de casa para o trabalho ano passado: em 2009 eram 29%, revela a Kantar Portugal.
— Os países mais ricos estão num movimento oposto ao do brasileiro e da América Latina. Os EUA tomaram medidas mais efetivas mais cedo e se preparam para voltar a um padrão de consumo um pouco melhor, que foi muito abalado pela crise. Com exceção da Alemanha, que sofreu pouco, os países europeus estão muito apertados pagando dívida. O consumo da população caiu drasticamente e tende a ficar assim por algum tempo — afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
— Os preços sobem sempre, então compro o mais barato — diz o encanador francês Máxime Charpenel, desempregado há cinco meses. Com o término do noivado, deixou Paris e voltou para a casa dos pais em Lyon. — Minha mãe deixou de comprar congelados e passou a preparar a comida em casa — reitera.
— Tem muita coisa que não estou comprando devido ao preço e ao orçamento apertado — conta Gabriel Gallucci, diretor de Política e Legislação de uma empresa em Nova York. — Definitivamente, a crise afetou minha vida financeira. Para a maioria está difícil conseguir emprego, não pagam o suficiente. Eu estou consumindo bem menos que há um ano.
Categorias que apontam melhoria no consumo, em geral, cresceram acima do PIB dos países da América Latina. “Produtos mais práticos, e consequentemente, com maior valor agregado, estão cada vez mais presentes nas cestas de compra da região”, analisa Sonia Bueno, CEO América Latina da Kantar Worldpanel.
No Brasil, por exemplo, a venda de bolo pronto industrializado subiu 4,2 ponto percentual entre 2013 e o ano anterior; na Argentina, congelados passaram de 4,3 ponto percentual; na Colômbia, tira manchas aumentou em 5,3 ponto percentual; no México, chá gelado bateu 12,6 ponto percentual e no Peru, protetores solares aumentaram 13,4 ponto percentual.
— Nos últimos 36 meses, observamos um crescimento sustentável da cesta de compras do Peru, por exemplo, graças a uma melhoria no nível de consumo dos lares do país. Chama a atenção a incorporação de novas categorias nas famílias das classes D e E — afirmou ao GLOBO Fidel La Riva, gerente da Kantar Peru, no quarto dia da série de reportagens “Novos hábitos, velhos problemas”, que o site do GLOBO publica desde segunda-feira.
Na América Latina, o gasto médio no supermercado cresceu 13,9% no primeiro bimestre de 2013 sobre o mesmo período do ano anterior, mas a quantidade de visitas não acompanhou este movimento: foram 191 ocasiões de compras, queda de 3,1%, aponta a Kantar. Mesmo assim, significa uma compra a cada dois dias.
Perigo de inadimplência
No caso brasileiro, pelo nono ano consecutivo, de acordo com o IBGE, a despesa de consumo das famílias brasileiras cresceu: chegou a 3,1% em 2012 sobre 2011. A alta foi favorecida pela elevação de 6,7% da massa salarial dos trabalhadores, em termos reais, e pelo acréscimo, em termos nominais, de 14% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para as pessoas físicas.
— A cesta deles (países desenvolvidos) está ficando com cara de país emergente. A família brasileira está olhando muito mais para marca do que os consumidores da Europa, por exemplo. Lá, eles querem economizar. Os sinais estão invertidos — analisa Olegário Araújo, diretor de atendimento da Nielsen.
Viviane Cardim Carvalho, moradora de Mirandópolis, Zona Sul de São Paulo, desdobra-se em dois empregos, como analista financeira de uma empresa de produtores rurais e vendedora de congelados, para garantir que a família possa ter alguns luxos. Com 48 anos e duas filhas, uma de 9 e outra de 17 anos, ela faz parte do grupo de mulheres que não abre mão de comprar um item, mesmo que seja mais caro, se o custo-benefício for garantido.
— Eu prefiro gastar mais a comprar os produtos mais baratos. Geralmente, quando se usa um produto mais em conta, tem que colocar o dobro para ter o mesmo efeito. Eu dou prioridade a marcas um pouco mais caras para ter melhor resultado.
Sonia Bueno, CEO América Latina da Kantar Worldpanel, frisa que as mudanças socioeconômicas estão nos aproximando do comportamento de outras partes do mundo desenvolvido.
Apesar do bom momento econômico e de toda a comemoração, a nova dinâmica do consumo nos países emergentes, e em especial no Brasil, faz com que especialistas alertem para as consequência desse movimento: a escalada dos preços e a inadimplência.
— Nos setores que podem importar, como bens duráveis, o efeito do consumo em alta foi menor. Já nos setores que não se pode importar, como serviços, a renda mais alta trouxe contigo inflação. A questão da inflação no Brasil passa por infraestrutura e investimentos — diz Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios.
Edgar de Sá, economista-chefe da HPN Invest, lembra que a inflação em alta é prejudicial ao país como um todo, pois o aumento dos preços diminui o poder de compra da população, sobretudo da população mais carente que corre mais riscos de ficar endividada e inadimplente.