Banco Central diz que elevou os juros para ‘neutralizar riscos’ de inflação em 2014 25/4/2013
Diretores que votaram pela manutenção apostam que crise internacional vai frear alta do custo de vida no Brasil
Copom alerta para aceleração nos preços dos serviços
BRASÍLIA - Os diretores do Banco Central acreditam que era preciso subir os juros para frear a inflação, que poderia se tornar um problema ainda maior no ano que vem. E 2014 deve ter um crescimento maior do que foi previsto até agora. A alta da taxa básica (Selic) de 7,25% ao ano para 7,5% ao ano foi decidida na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e não foi unânime. Segundo a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira, os dois diretores que votaram pela manutenção dos juros em 7,25% apostam que a crise internacional fará o papel de frear os preços no Brasil. Todos, entretanto, concordam que, por causa dessas incertezas, a dosagem dos juros deve ser administrada com “cautela”.
“O julgamento de todos os membros do Copom é convergente no que se refere à necessidade de uma ação de política monetária destinada a neutralizar riscos que se apresentam no cenário prospectivo para a inflação, notadamente para o próximo ano. Parte do Comitê, entretanto, pondera que está em curso uma reavaliação do crescimento global e que esse processo, a depender de sua intensidade e duração, poderá ter repercussões favoráveis sobre a dinâmica dos preços domésticos. Para esses membros do Comitê, não seria recomendável uma ação imediata da política monetária, entretanto, essa visão não foi respaldada pela maioria do Colegiado”.
“O Copom avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária. Por outro lado, o comitê pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela”.
Os diretores justificaram que a decisão foi tomada para impedir que a inflação — que estourou o limite da meta de 6,5% e está em 6,59% nos últimos 12 meses — não ganhe ainda mais força. Por isso, em “momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante”, diz a ata.
Injeção de recursos no Japão pode ajudar economia mundial, diz BC
O Copom admite que a inflação está elevada principalmente no preço de serviços. Os diretores citam pressões específicas no segmento de alimentos e bebidas. Por outro, a ata alerta que altas taxas de desemprego, a condução dos gastos públicos e a incertezas políticas nas economias mais desenvolvidas, principalmente na Europa, traduzem-se em projeções de baixo crescimento.
No entanto, o Copom ressalta algumas ações que podem ter impacto na retomada do crescimento mundial. Uma delas é a injeção trilionária do Banco Central do Japão.
“O Banco do Japão anunciou um programa maior do que o esperado para expansão da base monetária, com potenciais efeitos positivos na atividade econômica e nos preços de ativos, especialmente no sudeste asiático. Nas economias emergentes, de modo geral, a política monetária se apresenta expansionista. No que diz respeito à inflação, continua em níveis moderados nos EUA e na Zona do Euro e em terreno negativo no Japão”, afirma a ata.
Numa das novidades no texto dos diretores do BC, o Copom ressaltou que no seu cenário central de trabalho, a previsão é que o ritmo da atividade doméstica será mais intenso não somente neste ano, mas também em 2014. O colegiado ainda incluiu na ata uma projeção de recuperação da indústria — setor mais afetado pela crise econômica mundial — a reboque da aceleração do investimento. E isso estaria mais afinado com o crescimento potencial da economia, ou seja, aquele em que a economia não se expande demais a ponto de gerar desequilíbrios como inflação.
Para economista, ciclo de alta de juros não será longo
“O Copom pondera que, a despeito de limitações no campo da oferta, o ritmo da atividade doméstica se intensificou no primeiro trimestre. Além disso, destaca que informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento, no horizonte relevante, mais alinhada com o crescimento potencial”, garantiram os diretores.
De acordo com a ata, o Copom ainda conta com a possibilidade de o governo cumprir a meta de economia para pagar juros da dívida. No entanto, os diretores colocaram no texto uma observação mais realista: disseram que as evidências sugerem que o governo gasta muito a ponto de estimular a alta de preços.
“O Copom observa que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais, não obstante iniciativas recentes apontarem o balanço do setor público em posição expansionista”.
A última vez que os diretores do Banco Central tinham aumentado os juros havia sido em julho de 2011. Seis foram favoráveis a alta dos juros e dois contra a elevação no último dia 17. Segundo o comunicado, o diretor de política monetária, Aldo Mendes, e o de Assuntos Internacionais, Luiz Pereira Awazu, votaram pela manutenção da Selic em 7,25%. Votaram pela elevação da Selic o presidente do BC, Alexandre Tombini, e os diretores Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques.
Segundo o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, a ata confirmou que os dados econômicos disponíveis até agora não criam a certeza necessária para uma elevação dos juros. Ele era um dos poucos analistas do mercado financeiro que apostavam que o Copom manteria a Selic estável. O especialista ressalta que o documento deu uma pista importante: o BC já mira no ano que vem quando vários fatores podem contribuir para uma inflação menor. Por isso, ele prevê que o ciclo de alta de juros não será longo.
“Se os dados do mercado de trabalho não mostrarem acomodação nas próximas medições ficará insustentável para a autoridade monetária não apertar mais os juros com um olho na dispersão de preços no curto prazo e outro na Copa do Mundo. Até segunda ordem mantemos o cenário de um ciclo curto de aperto”, afirmou Perfeito.
Fonte: O Globo - Online