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As necrópoles destacam-se pela sua complexa simbologia cultural e respectivos impacto na paisagem local. Este trabalho apresenta brevemente aspectos ecológicos e patrimoniais dos sete cemitérios da capital mineira, em especial, o Bonfim.
Texto enviado ao JurisWay em 01/02/2018.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo de opinião versa sobre os impactos ambientais decorrentes das necrópoles no âmbito das cidades, destacando aspectos gerais sobre a temática mas debruçando olhares analíticos sobre as necrópoles da capital mineira e sua inserção no ambiente urbano, destacando além de aspectos culturais, impasses ecológicos que afetam a qualidade de vida citadina. A intenção do mesmo é uma breve divulgação do Projeto Prosa Bonfim, desenvolvido no secular cemitério do Bonfim na região noroeste da cidade. O projeto desenvolvido pela Rede Ação Ambiental buscar uma análise perceptiva do espaço cemiterial com o intuito de inventariar aspectos ambientais do mesmo evidenciando problemas e potencialidades.
HISTÓRIAS DA VIDA E DA MORTE
Historicamente, os cemitérios compõem junto com outros elementos humanos e naturais a paisagem de um determinado lugar. Como componente dessa paisagem carrega consigo um emaranhado de contextos socioculturais, alternando permanências e rupturas, espacialidades e temporalidades. Cemitério, necrópole ou sepulcrário é o lugar onde se sepultam os cadáveres e destaca-se pelo além de seus objetivos iniciais, pela complexidade de seu simbolismo alicerçado na humanidade. Data da pré-história, o início do sepultado humano, carregado de sentidos e significados existenciais diante do mistério da morte e a impotência perante a efemeridade da vida. Etimologicamente, a palavra origina-se do latim tardio coemeterium, derivado do grego κοιμητήριον [kimitírion], a partir do verbo κοιμάω [kimáo] "pôr a jazer" ou "fazer deitar" e foi dada pelos primeiros cristãos aos terrenos sagrados destinados à sepultura de seus mortos. Algumas das grandes civilizações da Antiguidade foram conhecidas e decodificadas através de seus túmulos e monumentos mortuários.
CEMITÉRIOS ENQUANTOS ELEMENTOS CULTURAIS
Isso faz com que na maioria dos casos, os cemitérios sejam lugares de práticas espirituais e/ou religiosas. Em muitas cidades existem necrópoles onde os rituais funerários são cumpridos de acordo com a respectiva religião ou fraternidade bem como também existem casos de cemitérios nacionais para o sepultamento de chefes militares e figuras notáveis da vida pública. Ligados diretamente á questão da sacralidade, originaram-se termos e expressões como “campo santo”. Os cemitérios ficavam geralmente fora dos muros das cidades, longe das igrejas e respectivos adros, pois a prática do enterro nestes espaços era desconhecida nos primórdios da era cristã. Posteriormente passou-se a vincular os sepultamentos nos adros das igrejas por uma crença religiosa de que facilitaria a continuidade da vida religiosa no além, bem como a garantia de morada celestial. A partir do século XVIII, criaram-se sérios problemas de insalubridade nas proximidades dos templos decorrentes da falta de espaço: os esquifes se acumulavam, causando poluição e transmissão de doenças. Uma lei inglesa de 1855, ampliada posteriormente em escala mundial, regulou os sepultamentos, os direcionando para fora dos perímetros urbanos.
SIMBOLOGIA, ARTE E CULTURA
Culturalmente, os cemitérios, verdadeiros “museus a céu aberto” sempre foram visitados, prática atualmente denominada de turismo cemiterial, nos quais são identificados nos túmulos, elementos históricos e arquitetônicos que demonstram a vida social e artística, através das estátuas, das obras, das fotos, dos epitáfios e dos símbolos valorizando e exaltando sua preservação enquanto patrimônio. Na Europa existem diversas necrópoles medievais, que quando escavados, fornecem fontes históricas para a compreensão de certos hábitos alimentares, doenças e anatomia do homem da Idade média. Atualmente os cemitérios são locais de pesquisa das crenças religiosas, formação étnica, estudos genealógicos, perspectivas e modos de vida, ideologias políticas, gostos artísticos, e, portanto, indispensáveis à preservação da memória familiar e coletiva
Neste sentido, o cemitério, enquanto elemento histórico da paisagem local faz parte do roteiro de visitação turística em diversas regiões do mundo, como por exemplo, o Père-Lachaise, em Paris, onde se encontram os túmulos de Allan Kardec e Auguste Comte. Em Londres, Inglaterra destaca-se os cemitérios de Kensal Green e Highgate e na Itália, os cemitérios de Gênova e Milão. No Brasil destaca-se na capital paulista, o Cemitério da Consolação, fundado em 1858 e em Buenos Aires, Argentina, o cemitério Recoleta.
CEMITÉRIOS DA CAPITAL MINEIRA
Em Belo Horizonte, as quatro necrópoles públicas são administradas pela Fundação de Parques Municipais, que também se dedica à gestão e manejo de mais de 80 parques urbanos em toda a cidade. Em termos de impactos ambientais três Cemitérios ocasionam impactos diretos e indiretos a Bacia do Ribeirão Arrudas (Bonfim, Parque da Colina e Saudade) Na Bacia do Ribeirão Onça, são quatro Cemitérios a consolidarem impactos (Bosque da Esperança, Consolação, Israelita e Paz).O primeiro cemitério belo-horizontino, o Bonfim surgiu ainda em tempos da mudança de capital, sendo inaugurado em 1894. Anos depois diante do crescimento da nova capital mineira, foi necessária em 1940, a construção de outra necrópole, o Saudade, localizada na zona leste. Já em meados da década de 1960, a cidade ganhou mais dois modernos cemitérios, o Consolação e o Paz, inspirados na concepção de cemitérios-parques ou cemitérios-jardins que rompem com a imagem tradicional das necrópoles com jazigos e monumentos de mármore, substituindo-os por parques arborizados.
Originários dos Estados Unidos onde são conhecidos como memorial parks, sua principal característica é a paisagem, sem a presença de arte tumular, onde simples placas de metal, bronze ou granito são colocadas sobre o solo gramado assinalando o local da sepultura. O primeiro cemitério-jardim criado no Brasil, datado de 1965 é o Cemitério da Paz localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo. A maioria dos cemitérios particulares construídos hoje no país é na modalidade cemitérios-jardim. Em São Paulo são instalados em cidades da Região Metropolitana como Cotia, Embu, Guarulhos, Mairiporã, Taboão, geralmente próximos às rodovias para promover um fácil acesso. Esses cemitérios aparentemente promovem a igualdade entre os homens, sem discriminação econômica. Porém, a ausência de ostentação e a representação simbólica da riqueza não retiram o caráter de desigualdade gerado pela concessão privada do jazigo.
IMPACTOS NA PAISAGEM LOCAL
Outra prática comum, pela questão espacial, é a verticalização dos cemitérios, onde os túmulos são dispostos uns sobre os outros e em andares para as visitações. O modelo de necrópole também se destaca por apresentar maiores impactos ao meio ambiente em decorrência da ausência de vegetação que pode ocasionar erosão e com o carreamento do solo, um posterior assoreamento dos recursos hídricos superficiais do entorno, bem como ampliar a taxa de impermeabilização local assim por sua concepção paisagística e pela sustentabilidade o modelo de parque é o mais indicado. Os cemitérios tradicionais com seus in[úmeros túmulos também contribuem para o aumento de calor retido em superfícies, fato semelhante ao chamado “ilha de calor” muito comum em grandes centro urbanos. Superfícies absorvem o calor durante todo o dia, aquecendo-se consideravelmente e somente no final da tarde e início da noite vão gradativamente devolvendo calor para a atmosfera. Na contemporaneidade, a prática da cremação, muito comum no Oriente, permitiu um destino sanitário mais compatível aos corpos humanos, antes de sua deterioração e putrefação, evitando-se assim a contaminação do solo e lençol freático com o necrochorume e a otimização de espaço.
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