Família com renda média tem vida confortável mas com cinto apertado 6/3/2014
Adriana Silva Cordeiro, Deusdete Cordeiro Filho e as duas filhas são a "família-padrão" brasileira. Ou seriam, se cada brasileiro vivesse com o equivalente ao PIB per capita – isso é, se toda a riqueza produzida no país fosse dividida igualmente entre cada habitante.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ficou em R$ 4,84 trilhões em 2013. Dividindo esse valor entre os habitantes, o PIB per capita ficou em R$ 24.065 no ano passado – renda bem parecida com a da família Cordeiro, de Santo André, no ABC Paulista, de R$ 1.775,00 para cada um por mês – o que, no ano, soma R$ 23.075, considerando 13º salário.
Na prática, porém, a realidade é bem diferente da família. Dados de 2012 do IBGE mostram que 10% das pessoas com rendimento tinham ganho médio de R$ 164 mensais. Já o 1% mais rico tinha ganho médio de R$ 18.550.
Deusdete Cordeiro recebe uma aposentadoria de aproximadamente R$ 2 mil. Adriana, recentemente aposentada, recebe outros R$ 3 mil de benefício. A filha Larissa, de 20 anos, completa a renda familiar com o salário de R$ 2,1 mil.
Cinto apertado, casa confortável
Para conseguir pagar as contas, a "família-padrão" precisa "apertar o cinto" e cortar tudo que não for essencial para o sustento da família. "O básico vem em primeiro lugar. Nada aqui é gasto por gastar, tudo tem de ser calculado antes", disse o pai, que tem fama de pão duro.
Mas mesmo com o cinto apertado, a família vive confortavelmente em uma casa própria, com três quartos, sala, cozinha, área de serviço e quintal. "Meu marido segura mais o dinheiro. Ele diz que não é consumista. Se ele tiver só uma calça jeans está bom. A gente (mulheres da família) já gosta de uma cor nova, um modelo diferente. Se deixar o cartão de crédito na mão a gente vai para o shopping", brincou Adriana, que jurou não fazer essas estripulias "consumistas" em prol do bem estar da família.
A casa é equipada com geladeira, microondas, máquina de lavar, TV por assinatura, internet e todos têm aparelho celular. "Daria para ter uma vida um pouco melhor se tivéssemos um pouco mais de folga na renda, mas vivemos bem assim", afirmou Adriana.
Na hora do lazer, o casal prefere mesmo ficar em casa vendo TV. Já as filhas optam por mudar o cenário. "Essa parte fica mais com as meninas. Elas gastam cerca de R$ 50 por fim de semana, o que dá uns R$ 200 com o lazer delas. Não é muito, mas é alguma coisa", disse a mãe. "Não dá para ficar sem internet. Tá doido ficar sem internet? Eu não vivo", disse Larissa, que usa o computador para estudar e se divertir.
O gasto maior da família está no financiamento dos dois carros, o que consome cerca de R$ 1,1 mil da renda. Em seguida aparece a mensalidade da faculdade, que é de R$ 816. Logo atrás vem o gasto com convênio médico, que chega a R$ 550, e combustível, que fica em torno de R$ 500 por mês.
Diálogo bom para o bolso
É a estratégia de diálogo que o casal considera ter sido essencial para conseguir colocar as duas filhas na faculdade. "Uma delas de se formou em educação física. A outra está cursando enfermagem e já fez curso técnico em enfermagem", afirmou a mãe.
Com bom humor, a família revela que coloca todas as contas na mesa na hora de "tirar o escorpião" do bolso. "Tudo é discutido antes de gastar. Ninguém põe a mão no bolso por qualquer coisa. Na verdade, tudo que se ganha aqui vai parar na mão da minha mulher. Se eu precisar de dinheiro, por exemplo, tenho de pedir emprestado para ela", brincou Cordeiro.
A filha mais velha, Laís Silva Cordeiro, 22 anos, começou a trabalhar como freelancer há poucos dias. "Ela ainda não tem um salário fixo, nem deu tempo de receber ainda, mas logo ela vai ajudar na renda da família", disse o pai, ansioso e orgulhoso.
Sonho de consumo
Mesmo com a contenção de despesas para não ficar no vermelho, Adriana e Cordeiro revelam desejos de consumo antagônicos. "Sonho com uma viagem internacional. Esse é um sonho de consumo que tenho. Quero um dia ir para o Canadá e para a França. Quero muito conhecer Paris. Já o meu marido disse que só faz as duas viagens de for de carro", afirmou a matriarca aos risos.
Cordeiro disse que prefere andar de helicóptero antes de encarar uma viagem de avião, pois confessou que tem medo de altura. "Pegar avião só se for montado num jegue. Não é economia, não, é medo mesmo."
Quando o escorpião sai do bolso
"Quer saber quando a gente abre a mão para gastar? Quando alguém da família fica doente. Aí não tem como segurar. Até a cachorra (Hana, uma labradora caramelo de 10 anos) contou com a nossa total ajuda. E nem seria diferente. Ela teve linfoma no ano passado e precisou fazer tratamento com medicamentos fortes e caríssimos. Foram mais de R$ 3 mil. E tem gente que abandona cachorro doente na rua", disse Cordeiro.
Fonte: G1