Bicicleta mais cara que um carro popular, avião mais barato que uma caminhonete e até biquíni custando o equivalente a duas piscinas de fibra de vidro. Exemplos de preços ´malucos` como estes estão virando rotina no mercado brasileiro. A explicação para casos que desafiam o senso comum vão desde a valorização recorde do real, até grandes escalas de produção industrial, passando por crescentes hábitos de consumo sofisticados.
Especialistas acreditam que outros fatores alheios à elementar lei da oferta e da procura passarão também a interferir mais na formação de valores de produtos em prateleira. ´Essa aparente bagunça dos preços tende a crescer, sobretudo com a estagnação de países ricos e o deslanchar de emergentes`, avisa Marco Quintarelli, consultor em tendências de consumo. Para ele, ficará cada vez mais difícil dizer o que é caro ou barato, em parte graças à popularização do acesso a importados e ao crédito facilitado.
Os brasileiros já estão acostumados a pagar menos pela passagem aérea que pela corrida de táxi ao aeroporto e também não estranham vaga de garagem valendo mais que o próprio automóvel. Quintarelli avalia que isso reflete a melhora da renda das classes C e D no mundo, estimulando gastos supérfluos sem peso na consciência. ´O consumidor se convenceu de que pode se presentear, favorecendo os ramos de conveniência, bem-estar e saúde.`
A maluquice dos preços ganhou também outro incentivo nos últimos anos, envolvendo construção de marcas. Canais de distribuição on-line e a divulgação em redes sociais da internet ampliaram o leque de produtos e serviços estreantes e competitivos. ´O comprador está cada vez menos fiel às marcas tradicionais, prestando atenção em comportamentos de grupo e em indicadores de qualidade`, explica Quintarelli.
Foi pensando nas vantagens comparativas que o médico Daniel Prado optou por um avião para fazer viagens. Pagou R$ 100 mil por um modelo para dois passageiros, mais barato que uma caminhonete sofisticada, buscando mais rapidez esegurança nos itinerários. ´Com tempo bom, vou ao litoral em cinco horas, quatro vezes menos que de carro`, diz.