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 Defesa do Consumidor
 

Mulheres abusam da "pílula do dia seguinte" e colocam saúde em risco

Fonte: R7 22/9/2010

Texto enviado ao JurisWay em 23/09/2010.

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Anticoncepcional de emergência é usado como medicamento de rotina
 
A chamada "pílula do dia seguinte", método emergencial de anticoncepção, vem sendo incorporada pelas mulheres, principalmente as adolescentes, como método de prevenção à gravidez, de forma perigosa. Não há estatísticas oficiais, mas relatos que saem de dentro dos consultórios ginecológicos e de hebiatras (médicos especializados em adolescentes) alertam sobre o problema.

Especialistas tentam mostram aos pacientes a importância do uso de preservativos. A pílula, que pode evitar em 95% a gravidez se tomada 24 horas após a relação sexual, não previne DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

Frederico Haikal/Hoje em Dia
• Frederico Haikal/Hoje em Dia
Poslov, uma das marcas de pílula do dia seguinte
disponíveis  nas farmácias. Estabelecimentos ignoram obrigatoriedade da receita

O presidente do Departamento da Saúde do Adolescente da Associação Médica, Paulo César Ribeiro, alerta sobre o uso indiscriminado do medicamento, que deve ser tomado somente em casos de emergência, como quando há violência sexual, rompimento da camisinha ou a mulher se esquece de tomar o anticoncepcional.

– Já atendi adolescente que em três meses tomou a pílula do dia seguinte quatro vezes.

Aguinaldo Lopes, ginecologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz que os efeitos colaterais que o medicamento provoca são desequilíbrio hormonal, náuseas, cefaleias e até mesmo AVC (Acidente Vascular Cerebral).

– É um medicamento que deve ser administrado somente em urgência ou esporadicamente. A concentração hormonal nele é muito alta.

Por isso a exigência da receita médica. Pessoas com riscos de AVC, que tomam psicotrópicos ou que estejam usando antibióticos não devem tomar o medicamento.

O psicanalista Valdeci Fernandes Buzon, presidente do Grupo Vhiver, referência no atendimento aos portadores do HIV, diz que, "indiretamente, a pílula do dia seguinte estimula a relação sem o uso do preservativo".

A facilidade em comprar o medicamento é também fato agravante: apesar de ser necessária, a receita raramente é exigida pelos vendedores nas farmácias. Ao chegar a uma drogaria, basta fazer o pedido ao atendente, que imediatamente localiza o medicamento na prateleira e explica ao cliente como tomar. Foi o que constatou o Hoje em Dia nesta segunda-feira (20), ao percorrer três drogarias na região hospitalar da capital. Em nenhuma delas a receita médica foi solicitada, conforme recomendação das autoridades de saúde.

A fiscalização cabe aos municípios por meio das secretarias de saúde. A farmácia que for flagrada vendendo as pílulas sem receita poderá ser autuada e, depois de investigação, receber de uma notificação e até uma interdição. A multa varia de R$ 1.200 a R$ 900 mil. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, o Ministério repassa, por mês, 112 mil caixinhas das pílulas para 853 municípios mineiros.

Adolescente tem problema de saúde com medicamento

Uma adolescente de Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), teve sérios problemas decorrentes do uso indevido das pílulas. A garota, que não quis se identificar, relatou que tomava o medicamento com frequência. Na época, ela tinha 15 anos e o namorado, 20.

A menina não conversava com os pais sobre sexualidade e não recebeu informações sobre métodos contraceptivos. Ela conta que hoje se arrepende por ter seguido as orientações do namorado, que dizia não gostar de usar preservativos, e tomado as pílulas quase todas as vezes em que tinha relações sexuais.

– Tive dores fortes e meu ciclo menstrual ficou completamente desregulado. Como minha mãe não podia saber que eu tinha transado, e sem camisinha, fui escondida a um médico.

A adolescente foi medicada e recebeu informações sobre uso de preservativos e métodos contraceptivos. Ela afirma que agora conversa com a mãe sobre o assunto e que não aceita fazer sexo sem camisinha.

Muitos usuários, mesmo conscientes dos riscos à saúde, não veem problemas em tomar a pílula do dia seguinte. A balconista Elisângela Conceição, 32 anos, já recorreu ao medicamento duas vezes num intervalo de quatro meses.

– Se precisar, eu tomo mais. Até hoje nunca senti reação, nem dor de cabeça nem inchaço.

Ela conta que não se adaptou ao anticoncepcional normal e diz que o aumento de peso que teve foi provocado pela ingestão do medicamento. Isso não aconteceu com a do dia seguinte.

O gerente comercial Jaider Queiróz, 55 anos, diz que não gosta de comprar o remédio para a esposa. Nos últimos seis meses, ele já adquiriu o medicamento três vezes, depois que a mulher retirou o DIU. Como o casal não usa preservativo nas relações, e não querem ter filhos, a alternativa é a pílula do dia seguinte.

– Compro na mão de um conhecido. Ele já me falou dos riscos, da alta concentração de hormônios. Mesmo assim ela não quer tomar o anticoncepcional, pois diz que engorda.

O hebiatra Paulo César Ribeiro, presidente do Departamento de Adolescência da Associação Médica de Minas Gerais, alerta que, além dos riscos em função da alta dosagem de hormônios do medicamento (que provoca efeitos colaterais como alterações hormonais, náuseas, inchaços das mamas e sangramentos vaginais), o uso contínuo da pílula do dia seguinte faz com que sua eficácia caia 50%.

– O uso deve ser somente emergencial. É o que ressaltamos. Para evitar gravidez, as pacientes devem utilizar métodos contraceptivos como camisinha, pílulas anticoncepcionais. Além disso, a pílula não previne doenças sexualmente transmissíveis. O jovem deve tomar consciência do perigo. A camisinha nunca deve ser dispensada.




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