A Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde é entendida como a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os valores que norteiam esta política são autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a participação coletiva no processo de gestão e a indissociabilidade entre atenção e gestão. Seguindo esta definição, o Ministério da Saúde (MS), em 2000, instituiu o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), para assegurar acesso e qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, do pós-parto e do neonatal. “Este programa tem como intuito incentivar o parto normal, reduzir as intervenções cirúrgicas e a quantidade de medicamentos”, informa a psicóloga Clarissa Telles Kahn, do Espaço Acalanto.
Para que o programa aconteça, uma das ações do MS é incentivo aos Centros de Parto Normal. O ambiente nesses locais procura proporcionar bem-estar às pacientes, com paredes coloridas e músicas relaxantes. Os quartos têm espaço suficiente para que a mulher se movimente à vontade, buscando posições que aliviem a dor, e banheiros para que possa tomar banhos quentes e relaxantes, o que proporciona alívio e atenua a espera. “A maioria dos Centros de Parto Normal tem a filosofia de atendimento humanizado, baseado em evidências cientificas”, diz Dra. Clarissa.
Segundo uma pesquisa realizada na UNB em 2009, os profissionais de saúde ainda consideram a mulher vulnerável, pois ela ainda não se sente protagonista de suas ações, por falta de informações. “Atualmente, há um crescimento no que se refere às medidas de humanização, mas é pouco. Muito ainda tem que se melhorar, visto que a lei de acompanhante de parto ainda não é totalmente cumprida, os profissionais ainda não estão qualificados, e as mulheres ainda não se sentem protagonistas de suas ações”, atenta a psicóloga.
O conhecimento detalhado das características psicológicas que envolvem a gestação auxilia o acompanhamento, diagnóstico e tratamento precoce de possíveis quadros do ciclo gravídico-puerperal, como a depressão. O psicólogo tem possibilidade de agir preventivamente, bem como exercitar ações diagnósticas e terapêuticas, promovendo a prevenção da saúde mental e física da mãe e do bebê, a relação mãe x filho x pai, com o objetivo de estimular uma ligação mais saudável entre os três. A gravidez, muito embora seja um fenômeno natural, ainda hoje é vivenciada cheia de dúvidas e tabus. Mesmo que programada e desejada, quando confirmada, causa sempre muita insegurança, medo e ansiedade. “Esses sentimentos tendem a aumentar com falta de informação por parte do casal envolvido. Sendo assim, muitos casais chegam ao cenário do nascimento como meros espectadores, sem saber que exatamente naquele momento eles são os protagonistas de toda a história”, diz Dra. Clarissa.
Dentro deste contexto, destacam-se as oficinas que são direcionadas para parto e pós parto sem tantas inseguranças. A finalidade é de fornecer informações e orientações parto e o pós-parto visando diminuir medos, anseios, preocupações que envolvem a parentalidade. A oficina de preparação para o parto natural, por exemplo, dá um enfoque especial ao parto natural e nas dicas de como ter uma experiência de parto positiva, numa época em que a cesárea parece ser a única opção para a maioria das mulheres. São explicadas as vantagens e desvantagens de cada procedimento médico no parto como a anestesia, o soro, a episiotomia, fórceps e a cesárea. “O ideal é que o casal assista esse módulo entre a 20ª e a 32ª semana de gestação, para que possam ser tomadas a tempo todas as providências para um parto tranqüilo”, informa Dra. Clarissa.
Já a oficina de cuidados com bebê além de dar banho e trocar fralda são discutidas várias questões que a maioria das mães de primeira viagem só se dão conta na prática como sono, rotina do bebê, linha de puericultura, escolha do pediatra, primeiros socorros, estado emocional da mãe. E a oficina de amamentação traz informações de como a mãe deve se cuidar durante a gestação, o que ela pode fazer depois que o bebê nasceu em casos de fissuras, peito muito cheio, preferência de um peito a outro, ordenha. Enfim, antecipando todas essas possíveis dificuldades, fica mais fácil lidar com elas, sem tantas inseguranças, tornando mais prazerosa a maternidade e paternidade.