Rafael Rosas | Valor
RIO - Jornais e internet vão conviver por um longo tempo, apesar das inúmeras afirmações de que a difusão do jornalismo online acabará com os veículos impressos. A opinião é de Joshua Benton, diretor do Nieman Journalism Lab, da Universidade de Harvard, para quem as profecias sobre o fim do jornal se assemelham a outras feitas sobre a indústria de filmes depois do surgimento do videocassete ou sobre os músicos depois da invenção do rádio.
Benton considera que o jornalismo na internet traz seis grandes benefícios complementares que já são vistos em diversos países. Segundo ele, hoje é muito mais fácil ter acesso a pesquisas de bancos de dados, inclusive governamentais, o que reduz significativamente o tempo de produção de uma matéria.
"Isso torna muito mais fácil fazer em três dias uma matéria que antes poderia levar três meses", ponderou.
Outra vantagem da internet está no custo menor para a distribuição de matérias, que permite que um grande número de pessoas tenha acesso a informações sem que a empresa produtora do noticiário precise de um grande plano de negócios para tornar viável a operação.
Benton também enumera que hoje é possível ter um leque maior de diferentes visões sobre um mesmo assunto. Para ele, isso mostra antes de tudo uma limitação física. Como exemplos, citou a cobertura da guerra do Iraque na época do governo de George W. Bush, quando por falta de espaço nos meios impressos havia pouca informação contrária ao conflito, postura que se inverteu na administração de Barack Obama.
"A internet aumenta a gama de opiniões aceitáveis [sobre um mesmo assunto]", explicou.
O quarto ponto complementar citado pelo pesquisador de Harvard é a capacidade da internet de aglutinar grupos de pessoas, como nos casos citados por ele das manifestações populares contra o governo do Irã. Benton classifica a internet como "a melhor ferramenta já criada para a criação de grupos".
O quinto ponto positivo do jornalismo digital é, para ele, a possibilidade de que qualquer cidadão apure ou tire fotos de uma situação noticiosa, o que se traduz em diversos sites como participação dos leitores.
Por fim, Benton frisou a capacidade da internet de facilitar atualizações de matérias ou correções. Neste sentido, lembrou que atualmente o The New York Times passa "pela primeira vez desde que se tem memória" por um período em que não responde a processos judiciais. Na opinião do especialista, isso decorre diretamente do fato de a internet facilitar correções e erratas, que nunca são satisfatoriamente dadas em veículos impressos.
Apesar do otimismo em relação ao jornalismo impresso, Benton deixou claro que muitos veículos passarão por problemas.
"Sou otimista, mas não sou utópico", afirmou. "Há oportunidades para crescer e para falhar. E muitos falharão", acrescentou.