A inclusão econômica é o maior luxo da nova classe média brasileira e, para alcançá-la, cerca de 93 milhões de pessoas, que têm em suas mãos um poder de consumo de R$ 427,6 bilhões, o maior entre as camadas de renda da população, não medem esforços. Cada consumidor brasileiro da base da pirâmide dá a si mesmo, e à sua família, o luxo que acha que merece – e que pode pagar. Exageros à parte, o esforço para a aquisição de roupas de marca, produtos de beleza, computadores, geladeiras de última geração, máquinas de lavar roupa, TVs de plasma ou LCD, cirurgias plásticas e viagens melhora a autoestima de uma parcela de brasileiros que respondeu por 49% do mercado consumidor nacional no ano passado.
Acostumados a viver pendurados, a base da pirâmide não se abala com as dívidas e, assim, faz a festa do comércio e da indústria nacionais, amparados pelo crédito farto e fácil. Dona do salão de beleza Girassol, no Sion, na Zona Sul de Belo Horizonte, Vânia Alves Batista vive com um dos filhos em apartamento próprio no Bairro Sagrada Família, na Região Leste da Capital. Com rendimentos mensais de R$ 2,5 mil, pode e gosta de se presentear. “Luxo para mim é vestir, comer e morar bem. Ter uma casa legal, decorada e frequentar bons lugares”.
Na lista top dos mimos que costuma conceder a si mesma, está a aquisição de bolsas e botas da marca Carmim, que ela compra sempre combinando. Há dois meses, gastou R$ 3 mil adquirindo uma bolsa e uma bota da grife. “Pago parcelado, mas tenho seis botas e seis bolsas da Carmim”. Em casa, ela se dá ao luxo de ter “uma geladeira boa, de pegar gelo na porta” e uma TV de plasma de 34 polegadas. Também gosta de frequentar churrascarias como Baby Beef e Rancho Fundo, só que não vai toda semana. A cada saída, costuma gastar entre R$ 150 e R$ 200.
“Para o consumidor emergente, luxo é tudo o que significa melhorar a qualidade de vida, como ter uma TV de plasma, altamente consumida na baixa renda”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular. Segundo ele, juntas, as classes C e D somam mais de 60% de um total de 8 milhões de famílias que já têm uma TV de plasma ou LCD dentro de casa, além de responder por mais de 75% das intenções de compra desse produto. “Há muito preconceito em relação aos hábitos de consumo da base da pirâmide, mas todo mundo quer um produto melhor. Todo mundo quer melhorar sua qualidade de vida”, observa.
Mas há luxos e luxos. Para muita gente, pagar escola particular para os filhos é mais do que a realização de um mero desejo. Marco Roza, diretor da Agência Consumidor Popular, conta que é comum ver os pais negociando o pagamento atrasado das mensalidades escolares dos filhos na rede privada de ensino – algo visto como um investimento de longo prazo. Ter um computador também é um luxo ligado à educação, mesmo que não haja internet em casa.
Por outro lado, ter um carro, ainda que popular, é um sonho de consumo para os emergentes da classe C. “É o luxo do pertencimento. Ter uma boa apresentação significa ser bem atendido nos lugares e, historicamente, o novo consumidor brasileiro sempre foi mal atendido. Por isso, o maior luxo é fazer parte da sociedade, é ser tratado como um igual”, afirma André Toretta, sócio-diretor da Ponte Estratégia, também especializada no consumidor popular.
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