Eleni Trindade
Pesquisa da Associação Comercial com inadimplentes mostra que, do total de pessoas que ficaram com o nome sujo em março, apenas 8% entraram nesta situação por conta de dívidas de terceiros. E m março de 2008 eram 13%
Modalidade que está entre as que mais causam problemas financeiros, “emprestar” o nome a um amigo ou parente para a compra de um bem está ficando fora de moda. É o que revela a pesquisa Perfil do Inadimplente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Em março de 2008, por exemplo, 13% declararam estar inadimplentes por esse motivo. Após alguns meses, em setembro de 2008, eram 17%. Em março deste ano, apenas 8% declararam estar endividados por terem emprestado o nome.
Com uma redução de cerca de 50% comparando-se as últimas duas pesquisas, essa foi a causa de inadimplência que mais caiu no período em comparação com desemprego, doença na família ou descontrole de gastos.
“Estamos em tempos de crise econômica e restrição da oferta de crédito. Por isso mesmo intensificamos uma campanha de conscientização chamada ‘Seu nome é seu maior patrimônio’”, afirma Roseli Garcia, superintendente de Produtos e Serviços das ACSP.
As pessoas estão bem mais cautelosas diante do cenário econômico, acredita Marcos Silvestre, economista e coordenador do Centro de Estudos de Finanças e Empreendedorismo (Cefipe). Para ele, “o conto de fadas acabou” com o fim da expansão do crédito dos últimos quatro anos. “Nos últimos anos, mais gente foi para o mercado de consumo e passou a ter poder de compra e a emprestar o nome. Agora, com a diminuição do crédito e a crise econômica, sentiu-se o gosto amargo desse tipo de experiência”, diz ele, referindo-se aos calotes.
Já Luis Carlos Ewald, economista da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio) é mais incisivo. “Dizer que está endividado porque emprestou o nome é uma desculpa clássica e acredito que corresponde à mais da metade dos casos. As pessoas acham que sensibilizam os credores dizendo que o amigo ou parente não tinha dinheiro para pagar.”
Saber dizer não
De acordo com Ewald, a outra parte dos consumidores pode até estar mais retraída e aprendendo a prevenir calotes, mas ele ressalta que o consumidor precisa saber dizer não. “Tem dinheiro para pagar a conta do amigo? Não? Então não tem de emprestar nada.” (veja mais no quadro ao lado)
A aposentada Catarina Evaristo, de 68 anos, é uma dessas pessoas que sabe dizer não. “Não empresto nome nem para filho”, decreta ela, mãe de um rapaz de 27 anos e de uma moça de 25. “É uma forma de educá-los para não ficarem acomodados e aprenderem a administrar o próprio dinheiro.”
Mas nem todo mundo pensa assim. Por amizade e confiança, o auxiliar de serviços Ernandes Marques de Moura, 30 anos, emprestou o nome para uma vizinha. “Fiz um empréstimo em meu nome em 12 prestações, mas ela atrasava os pagamentos. Acabei pagando porque éramos muito amigos”, diz ele. “Como ela estava em dificuldades, também a ajudei a fazer um crediário para compra de geladeira, fogão e armário”, completa.
O ato solidário acabou em prejuízo. “Ela não pagou nada e fiquei com nome sujo. Eu tinha cartão de crédito e tive de cancelar e somente depois de muitas idas e vindas estou conseguindo fazer acordos. Quebrei a cara e fiquei muito chateado”, afirma ele, que perdeu o contato com a amiga.
A CARTILHA DO AVALISTA
Ser fiador ou avalista não é apenas assinar um papel, pois quem assume esse compromisso é corresponsável pelo pagamento da dívida do amigo ou parente
No caso do fiador existe o benefício de ordem, ou seja, é possível exigir que o devedor principal seja cobrado antes que ele (fiador) seja cobrado. A fiança é sempre ligada a um contrato
Já o avalista não tem o benefício de ordem e é firmado a partir de um título de crédito como, por exemplo, nota promissória
Geralmente quem pede para um parente ou amigo fazer uma compra ou um financiamento em seu nome, já tem alguma dificuldade financeira ou já está com o nome sujo, como se diz popularmente
Se a pessoa não tomou cuidado com o próprio nome, será que ela vai se preocupar com o de outro? Portanto, mesmo que a intenção seja de ajudar alguém querido, é preciso parar para pensar antes de emprestar o nome ou ser fiador ou avalista
A possibilidade de você assumir a dívida do outro
é muito grande. Por isso seja realista: faça as contas e verifique se tem guardado o valor para pagar a dívida do amigo. A regra vale também para quem vai ser fiador ou avalista
Caso não tenha condições de cobrir uma possível dívida futura, abra o jogo e diga que não pode assumir o compromisso. É preciso levar em conta que essa ajuda pode representar um obstáculo para ter acesso ao crédito quando você precisar
Não tenha vergonha de se recusar a emprestar o nome, pois cada pessoa tem o seu e deve cuidar bem dele. Em vez disso, ofereça-se para auxiliar o amigo a reorganizar as contas, a cortar gastos supérfluos e colocar as contas em dia. Se ele for realmente seu amigo, vai entender a sua atitude e aceitá-la