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A BANALIZAÇÃO DA VIDA HUMANA


Autoria:

Josefa Rosania Reis De Matos


Acadêmica do X período de Direito da Faculdade Ages, localizada no município de Paripiranga. Professora da rede pública municipal.

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Texto enviado ao JurisWay em 15/12/2011.

Última edição/atualização em 16/12/2011.



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A BANALIZAÇÃO DA VIDA HUMANA
 
      Josefa Rosania Reis de Matos [1]
 
RESUMO
O século XX foi marcado por uma das maiores e sangrentas guerras, a segunda grande guerra mundial. O que mais chocou a humanidade foi o massacre do povo judeu de forma desumana e cruel, reduzindo milhares de seres humanos ao pó. Foi somente após esse genocídio que o mundo parou para rever as ações do homem contra o próprio homem, instituindo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, (1948) afirmando, assim a igualdade entre os seres humanos. Assim, o presente artigo tem o escopo de mostrar e analisar as ações do homem que destrói o próprio homem, destacando momentos e situações que caracterizam o processo de desumanização da espécie humana.
 
PALAVRAS- CHAVE: Desumanização; espécie humana; genocídio; Direitos Humanos.
 
1 INTRODUÇÃO
 
O homem sempre se diferenciou dos demais animais pela sua inteligência e capacidade de criação. Na ótica religiosa o homem marca o ponto culminante da criação e que ele tem suprema importância para o universo. No ponto de vista científico o Homo Sapiens é o ponto máximo da evolução da espécie, pois, nessa fase do desenvolvimento o ser humano se torna ímpar em relação aos demais animais. A inteligência humana é a diferenciação primordial entre as espécies animais, no entanto, nem sempre ela é usada para o bem da humanidade.
Porém, o homem vem destruindo o seu ambiente e ao seu próximo. O capitalismo selvagem tem sido um predador insaciável, onde o homem se confunde com a máquina, ou seja, ele tem se transformado em mero instrumento na produção de riquezas de alguns. A humanidade perdeu a sua essência de ser humano e cultivou sentimentos negativos, os quais vêm sendo usados contra o seu próprio semelhante.
Este homem artificial, sem a essência que o diferencia dos animais irracionais, está presente na obra Eichmann em Jerusalém, na qual a autora Hannah Arendt traz a lume a teoria da banalidade do mal, analisando a pessoa e as ações de um dos maiores carrascos nazista. Eichmann, um homem, como dizia a autora, “com ausência de inteligência”, porém com sentimentos negativos, teve importante participação num dos maiores genocídios da humanidade.
Comparato, com real maestria faz a definição do genocídio:
 
A denegação direito a existência de grupos humanos inteiros, assim como homicídio é a denegação do direito a vida de indivíduos humanos. Essa denegação do direito a existência choca a consciência da humanidade, provoca grandes perdas humanas sob a forma de contribuições culturais ou de outra espécie, feitas por esses grupos humanos, contrariando a lei moral, bem como o espírito e os objetivos das Nações Unidas. (2008, p. 243)
 
 Após essa tragédia humana o mundo parou para refletir sobre a maldade humana e como suas conseqüências podem ser catastróficas para espécie.
 
2 A NEGAÇÃO DO HOMEM PELO PRÓPRIO HOMEM
A negação do homem como uma espécie única é demonstrada pelo genocídio do povo judeu na Alemanha Nazista, no entanto, a luta pela supremacia das raças, religião e etnia fazem parte do processo histórico da humanidade.
 Hannah Arendt cita na obra que“não é o individuo que está no Banco dos réus neste processo histórico, não é apenas um regime nazista mais um anti-semitismo ao longo da história”( 2008, p.30). Destarte, percebe-se que a destruição do homem pelo próprio homem vem acontecendo ao longo da história.
Acrescenta-se ainda as palavras de um judeu sobre Eichmann: “... ali estava um homem que se comportava como o senhor da vida e da morte (2008, p.78). Muitos são aqueles que se sentem no direito de destruir o outro, seja pela raça, opção sexual, ou simplesmente pela demonstração de poder, como ocorreu e Hiroshima e Nagasaki. Vários são os Eichmanns na história, homens que sentem prazer em dizimar o próprio homem para mostrar que são fortes e capazes. As palavras do réu reafirma essa ideia: “eu vou dançar no meu túmulo, rindo, por que a morte de cinco milhões de judeus na consciência me da uma enorme satisfação” (Arendt, 2008, p.59).
São pensamentos como estes que demonstram o estágio de animalização no qual se encontra o homem. Essa banalização da vida é característica do totalitarismo e dos Estados sem direitos, em que as pessoas são tratadas como meros instrumentos para a manutenção do poder.
No Brasil, as práticas do racismo tiveram uma amplitude de destinatários que foram vitimados pela discriminação. Negros, índios, não-cristãos, foram em diversos momentos da história considerados como raças inferiores e, como tal, discriminados.
No século XX chegou-se ao último grau na escala da violência física. O extermínio premeditado tem nas câmaras de gás e nos campos de concentração nazistas, o mais terrível exemplo visto, meios estes, utilizados por excelência no holocausto para a efetivação do genocídio. Esse “Estado Racial” era uma verdadeira fábrica de cadáveres, gigantesca máquina de despersonalização de seres humanos.
Comparato relata:
 
Ao dar entrada num campo de concentração nazista, o prisioneiro não perdia apenas a liberdade e a comunicação com o mundo exterior. Não eram tão só despojado de todos os seus haveres (...) ele era, sobretudo esvaziado do seu próprio ser, de sua própria personalidade (...) o prisioneiro já não se reconhecia como ser humano dotado de razões e sentimentos (...) viviam no esforço puramente animal... (2008, p. 24)
  
 O massacre da massa humana não ficou só na Alemanha, e m 1965 na Indonésia, os Estados Unidos patrocinaram um verdadeiro banho de sangue, cerca de meio milhão de pessoas foram exterminadas. No ano de 1978 o Timor Oriental teve um saldo de 200 mil mortos. Vale ressaltar, ainda, a guerra civil no Camboja onde um quinto da população foi exterminado.
Todavia, estes saldos negativos não foram suficientes para impedir a guerra em Ruanda em 1994. Esse massacre não envolveu só o exército, mas grande segmento da população civil dos hutus, “em todas as aldeias e áreas circunvizinhas: um holocausto descentralizado, contando com a população em massa”(Castelles, 1999, p.135).
As ruas de Ruanda foram palco de uma tragédia. O mundo assistiu a morte de milhares de pessoas, no entanto, a repercussão foi menor por se tratar dos africanos, pessoas que estão à margem da civilização mundial.           
Percebe-se, do exposto, que a banalização da vida continua presente, mesmo após a Declaração dos Direitos Humanos. O que preocupa, ainda, é que a espécie humana continua cada vez mais próxima de um colapso. Capra salienta que: “pela primeira vez temos que nos defrontar com a real ameaça da espécie humana” (2006, p. 19), acrescenta-se ainda o pensamento de Foucoult ao asseverar que: “quanto mais o homem se instala no cerne do mundo, quanto mais avança a posse da natureza tanto mais fortemente é acossada pela finitude, mais se aproxima de sua morte” (2007, p. 356).
São pensamentos como estes que alertama humanidade para a banalização da vida e a ameaça de uma possível exterminação humana. Principalmente no mundo onde as crianças, que são o futuro da espécie, são exterminadas sem a menor noção de defesa.
 
3 AMEAÇA DA EXTINÇÃO
No holocausto, nem mesmo as crianças escaparam ao ódio nazista, milhares delas foram mortas. Hoje, porém, a ameaça a estes seres indefesos vai além do extermínio. Crianças de todo o mundo estão sendo abusadas e vendo sua infância destruída. A ambição humana e a imoralidade, bem como a miséria das famílias têm sido fatores negativos nesse processo de desumanização da espécie.
Redes de prostituição infantil aproveitam-se da miséria humana, compram crianças para atender a demanda de suas redes de distribuição em centros turísticos em todo o mundo. Elas são usadas também no tráfico e nas guerras, a exemplo dos países como Afeganistão e Iraque. Crianças estão sendo dizimadas pela violência das guerras ou transformadas em animais de batalhas e de sacrifício para alimentar as guerras que assolam o planeta.
Castelles faz um alerta ao dizer:
 
No momento em que consome e destrói uma parcela de suas próprias crianças a ponto de fazê-las perder a noção de continuidade da vida ao longo das gerações, a sociedade em rede devora-se a si própria negando o futuro desses seres humanos como espécies (Castelles, 1999, p. 186)
 
Os dados encontrados sobre a violência e abuso de milhares de crianças em todo o mundo é assustador, o que deveria fazer com que a humanidade refletisse sobre suas ações e o que está sendo feito das vidas daqueles são o futuro da humanidade.
Assim, a conclusão a que se chega é que: quando o mundo destrói suas crianças está destruindo o futuro da espécie.
 
CONCLUSÃO
O homem é um ser excepcional, ele é dotado de múltiplas inteligências e é livre para utilizá-la para o bem ou para o mal, pela vida ou pala morte. E, se há algum tempo para redimir suas ações maléficas, cabe a eles, como diz Bobbio, “Cancelá-la num pacto de solidariedade, pois, é dever do homem afirmar que não existem raças, mas seres humanos” (2002, p. 12). Acrescentando, ainda, o pensamento de Frei Betto que diz “o amor suprime toda a distância e supera todas as fronteiras. Ele é a energia substancial de toda a criação e a vocação ontológica de toda a criatura” (2007, p.109).É talvez este amor entre os seres humanos que está faltando, e se não há amor e solidariedade no coração do homem ele deixa de ser “homem” e passa a ser simplesmente “coisa”. É, portanto, a banalização da vida humana a maior ameaça de da espécie.
 
REFERÊNCIAS
 
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
BETTO, Frei. A Obra do Artista - Uma visão Holística do Universo. São Paulo: Ática, 2007
BOBBIO, Norberto. Elogio e Serenidade e Outros Escritos Morais. São Paulo: Unespe, 2002.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação – A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 2006.
CASTELLS, Manuel. Fim de Milênio. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
COMPARATO, Fabio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FOUCAULT, Michel. As Palavras e as coisas: Uma analogia das ciências humanas. 9 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 


[1]Bacharelando em Direito pela Faculdade Ages
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