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Rasgar papel moeda é crime ou apenas um ato de loucura?


Autoria:

Jeferson Botelho


Jeferson Botelho Pereira é ex-Secretário Adjunto de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais. Delegado Geral de Polícia, aposentado. Mestre em Ciência das Religiões; Professor de Direito Penal, Processo Penal, Teoria Geral do Processo, Legislação Especial, Direito Penal Avançado, Professor do Curso de Pós-Graduação de Direito Penal e Processo Penal da Faculdade Estácio de Sá, Pós-Graduado em Direito Penal e Processo Penal pela FADIVALE em Governador Valadares/MG, Especialização em Combate a Corrupção, Crime Organizado e Antiterrorismo pela Universidade de Salamanca - Espanha. Professor do curso de Pós-Graduação da FADIVALE/MG. Autor de livros. Palestrante. Jurista. Advogado Criminalista. Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG.

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Resumo:

Resumo: Este ensaio aborda a questão de rasgar dinheiro, seus questionamentos sobre possível ato de loucura ou fato juridicamente relevante definido como crime.

Texto enviado ao JurisWay em 02/07/2015.

Última edição/atualização em 14/07/2015.



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Rasgar papel moeda é crime ou apenas um ato de loucura?

 

 

Resumo: Este ensaio aborda a questão de rasgar dinheiro, seus questionamentos sobre possível ato de loucura ou fato juridicamente relevante definido como crime. 

 

 

Palavras-Chave: Papel moeda, rasgar dinheiro, ato de loucura, fato social relevante, ilicitude, configuração.

  

Outro dia uma determinada pessoa, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, durante a lavratura de um Auto de Prisão em Flagrante meteu a mão no bolso, retirou uma cédula de R$ 100(cem reais) da carteira e rasgou.

 

O fato chamou a atenção de várias pessoas. Algumas diziam que o cidadão era louco, outras diziam, sem muita base, que essa atitude era considerada criminosa.

 

Se considerada louca, após exame de insanidade mental, certamente a culpabilidade estaria afastada, por ausência de um dos seus elementos — a imputabilidade.

 

A capacidade de entendimento e de autodeterminação é necessária para imposição de pena, num juízo de reprovabilidade ou censurabilidade que alguém que tenha praticado um fato típico e ilícito.

 

Constatada a inimputabilidade por doença mental, pelo critério biopsicológico, deve o juiz absolver o autor de um injusto penal, e logo em seguida aplicar medida de segurança, seja tratamento ambulatorial ou internação em hospital psiquiátrico, tudo conforme estudo nos artigos 26 e 96 do Código Penal.

 

Considerando que a aplicação de medida se segurança também passa pelo crivo do princípio da legalidade, é preciso que alguém tenha praticado um injusto penal — conduta típica e ilícita.

 

No caso do papel-moeda ou do dinheiro rasgado, qual seria a conduta típica?

 

Inicialmente, o saudoso professor Nélson Hungria definia moeda como sendo o valorímetro dos bens econômicos, o denominador comum a que se reduz o valor das coisas úteis.

 

No Brasil, algumas competências são definidas por leis. Assim, cabe ao Conselho Monetário Nacional estabelecer o valor interno da moeda, bem como autorizar as emissões de papel-moeda.

 

Compete ao Banco Central emitir papel-moeda e moeda metálica, conforme autorização outorgada pelo Conselho Monetário Nacional.

 

Noutro sentido, cabe à Casa da Moeda, com exclusividade, a fabricação de moeda metálica e papel-moeda.

 

A legislação que trata do assunto é bem esparsa. A Constituição Federal de 1988 regulamenta o assunto de moeda nos artigos 21, VII, 22, VI, e artigo 164 e pelas leis nº 4.595/64. nº 4.511/64 e nº 5.895/73.

 

                        Art. 21. Compete à União:

 

I - (omissis);

 

VII - emitir moeda;

 

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

 

I - (omissis);

 

VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;

 

O Código Penal, em seu artigo 289 e SS protege a fé pública, e logo neste primeiro dispositivo consagra o tipo penal de moeda falsa, justamente por ser signatário da Convenção Internacional para a Repressão da Moeda Falsa (Decreto nº 3.074/38).

 

Existem outras figuras típicas relacionadas. Tendo em vista a obrigatoriedade do recebimento de moeda em curso legal no país, deparamos com a conduta contravencional prevista no artigo 43 do Decreto-Lei nº 3688/41, in verbis:

  

“Recusar-se a receber pelo seu valor, moeda de curso legal do país: pena — multa”.

  

Ainda nesse mesmo sentido o artigo 44 da LCP, define a conduta de quem “usar, como propaganda, de impresso ou objeto que pessoa inexperiente ou rústica possa confundir com moeda”, também com previsão de pena de multa.

 

Existem ainda algumas condutas contra a ordem financeira, econômica, tributária, previstas na Lei nº 8.137/90 e outras normas que protegem o sistema financeiro.

 

Mas e a conduta de rasgar a moeda, onde está? Seria crime de lesa-pátria? Seria burrice, tolice, fato atípico, economia popular?

 

A meu sentir, a moeda pertence à União e o seu valor intrínseco ao particular, nos exatos termos dos artigos 98 e 99 do Novo Código Civil.

 

Assim, se a própria pessoa rasga, suja, destrói, inutiliza, papel-moeda ou metálica, ainda que seja de sua propriedade estará configurado o crime de dano qualificado, previsto no artigo 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal Brasileiro.

 

Dano

 

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:

 

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

 

Dano qualificado

 

Parágrafo único - Se o crime é cometido:

 

I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

 

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave

 

III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista

 

Assim, quem rasga dinheiro, comete crime contra o patrimônio da União, pois logo estará destruindo coisa alheia móvel, devendo ser o comportamento doloso, dinheiro como sendo o bem material, o patrimônio o objeto jurídico.

 

Trata-se de crime comum, material, de forma livre, comissivo, instantâneo, de dano, unissubjetivo, plurissubsistente e de competência da Justiça Federal.

 

  

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