Analista judiciário - Área Judiciária - TRE/AM 2014
Elaboração: IBFC
Prova aplicada em Fevereiro/2014

Questão 4 - Língua Portuguesa

Marcações visuais :

Você poderá efetuar marcações visuais de certo e errado no texto das questões.

Anexo para as questões 1 a 8

Prazeres mútuos

(Danuza Leão)

É normal,  quando você vê uma criança bonita,  dizer "mas que linda", "que olhos lindos", ou coisas no gênero.  Mas esses elogios, que fazemos tão naturalmente quando se trata de uma criança  ou  até de  um  cachorrinho,  dificilmente fazemos  a  um adulto.  Isso me ocorreu quando outro dia conheci,  no meio de
várias pessoas, uma moça que tinha cabelos lindos. Apesar da minha admiração, fiquei calada, mas percebi minha dificuldade, que aliás  não é  só  minha,  acho  que  é  geral.  Por que  eu  não conseguia elogiar seus cabelos?

Fiquei remoendo meus pensamentos (e minha dificuldade), fiz  um  esforço  (que  não  foi  pequeno)  e  consegui  dizer:  "que cabelos  lindos  você  tem".  Ela,  que  estava  séria,  abriu  um grande  sorriso,  toda  feliz,  e  sem  dúvida  passou  a  gostar  um pouquinho  de  mim  naquele  minuto,  mesmo  que  nunca  mais nos vejamos.

Fiquei pensando: é preciso se exercitar e dizer coisas boas às pessoas, homens e mulheres, quando elas existem. Não sei a quem faz mais bem, se a quem ouve ou a quem diz; mas por que,  por que,  essa  dificuldade?  Será  falta  de  generosidade?

Inveja?  Inibição?  Há quanto tempo ninguém diz que você está linda  ou  que  tem  olhos  lindos,  como  ouvia  quando  criança?

Nem mesmo quando um homem está paquerando uma mulher ele  costuma  fazer  um  elogio,  só  alguns,  mais  tarde,  num momento de intimidade e quando é uma bobagem, como "você tem um pezinho lindo". Mas sentar numa mesa para jantar pela primeira vez,  só os dois, e dizer, com  naturalidade, "que olhos lindos você tem", é difícil de acontecer.

Notar alguma coisa de errado é fácil; não se diz a ninguém que ele tem  o  nariz torto,  mas,  se for alguém  que estiver em outra mesa, o comentário é espontâneo e inevitável.  Podemos ouvir  que  a  alça  do  sutiã  está  aparecendo  ou  que  o  rímel escorreu,  mas há quanto tempo você não ouve de um homem que tem braços lindos? A não ser que você seja modelo ou miss

- e aí é uma obrigação elogiar todas as partes do seu corpo-, os homens não elogiam  mais as  mulheres,  aliás,  ninguém  elogia ninguém.

E  é  tão  bom  receber um  elogio;  o  da  amiga  que  diz  que você está um arraso já é ótimo,  mas, de uma pessoa que você acabou de conhecer e que talvez não veja  nunca  mais,  aquele elogio espontâneo e sincero, é das melhores coisas da vida.

Fique  atenta;  quando  chegar  a  um  lugar  e  conhecer pessoas  novas,  alguma  coisa  de  alguma  delas  vai  chamar a sua atenção e sua tendência será, como sempre, ficar calada.

Pois não fique.  Faça um pequeno esforço e diga alguma coisa que você  notou  e  gostou;  o quanto  a  achou  simpática,  como parece tranqüila, como seu anel é lindo, qualquer coisa. Todas as  pessoas  do  mundo  têm  alguma  coisa  de  bom  e  bonito, nem que seja a expressão do olhar, e ouvir isso, sobretudo de
alguém que nunca se viu, é sempre muito bom.

Existe gente que faz disso uma  profissão,  e passa a vida elogiando  os  outros,  mas  não  é  delas  que  estamos  falando.

Só vale  se for de verdade,  e  se você  começar a  se exercitar nesse  jogo  e,  com  sinceridade,  elogiar  o  que  merece  ser elogiado,  irá espalhando alegrias e prazeres por onde passar, que  fatalmente  reverterão  para  você  mesma,  porque  a  vida costuma ser assim.

Apesar  de  a  vida  ter  me  mostrado  que  nem  sempre  é assim, continuo acreditando no que aprendi na infância, e isso me faz muito bem.

 

(disponível em: http://www1 .folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0611200502.htm)


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Observe o seguinte fragmento do texto:

“não se diz a ninguém que ele tem o nariz torto, mas, se for alguém que estiver em outra mesa,”

Para construir sua crítica, a autora utilizou, na primeira oração desse trecho, um tipo específico de voz verbal.

Sobre essa voz é correto afirmar que:


A se trata da passiva.
  
B se trata da ativa.
  
C tem caráter reflexivo.
  
D tem caráter recíproco.